Conhecida como ‘capitã cloroquina’, secretária contradiz Pazuello sobre alerta da crise de oxigênio em Manaus

Mayra Pinheiro disse que a pasta teve conhecimento da iminente crise de oxigênio no Amazonas em 8 de janeiro; segundo o ex-ministro, o aviso ocorreu dois dias depois

A secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, depõe à CPI da Covid no Senado Foto: Pablo Jacob / O Globo

BRASÍLIA — Em contradição ao que foi dito pelo ex-ministro Eduardo Pazuello, a secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, afirmou à CPI da Covid que a pasta teve conhecimento da iminente crise de oxigênio no Amazonas em 8 de janeiro, confirmando o que foi dito anteriormente por ela em depoimento à Polícia Federal. Ao colegiado, Pazuello insistiu que só soube do problema na noite do dia 10, quando chegou pessoalmente a Manaus.

— Tem uma falha aí de informação. Eu estive em Manaus até o dia 5 (de janeiro), eu voltei, o Ministro teve conhecimento do desabastecimento de oxigênio em Manaus creio que no dia 8, e ele me perguntou: “Mayra, por que você não relatou nenhum problema de escassez de oxigênio?”. Porque não me foi informado — justificou Mayra.

Ela relatou que possui prova, através da uma gravação telefônica, que questionou o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, sobre não ter sido informada durante sua ida a Manaus.

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— Eu confirmei a informação com o secretário estadual de Saúde, perguntando: “Secretário, por que, durante o período da minha prospecção, não me foi informado?”. Ele disse: “Porque nem nós sabíamos” — contou Mayra após questionamentos do relator Renan Calheiros (MDB-AL).

Em momento anterior, a secretária disse que “não houve uma percepção que faltaria” oxigênio durante a sua missão a Manaus, no início de janeiro. Dias depois, em 8 de janeiro, a secretaria estadual de Saúde do Amazonas encaminhou uma mensagem relatando o problema à pasta.

— Pelo que eu tenho de provas, é que nós tivemos uma comunicação por parte da secretaria estadual, que transferiu para o Ministro um e-mail da White Martins dando conta de que haveria um problema de abastecimento, segundo eles mencionado como um problema na rede — declarou Mayra.

Como mostrou o GLOBO, outros documentos produzidos pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM) também contradizem o depoimento de Pazuello à CPI sobre a data em que foi alertado pelas autoridades amazonenses a respeito de problemas no abastecimento de oxigênio hospitalar. Ofícios mostram que a pasta tinha sido informada no dia 7 de janeiro, um dia antes do que foi relatado pela secretária.

Um ofício produzido pela SES-AM diz que o secretário ligou pessoalmente para Pazuello e o informou sobre problemas enfrentados pela fornecedora de oxigênio hospitalar White Martins.

“Assim, na mesma noite do dia 07.01.2021, entramos em contato por meio de ligação telefônica com o Ministro da Saúde para comunicar quanto às dificuldades apresentadas pela empresa White Martins referente ao seu abastecimento, bem como noticiar de que essa teria cilindros para trazer de Belém-PA, sendo necessário auxílio para seu transporte. Desta forma, foi informado pelo Ministro que o Comando Conjunto estava à disposição desta Secretaria”, diz o ofício da SES-AM.

O outro documento que indica que o governo teria sido alertado no dia 7 de janeiro sobre problemas no abastecimento de oxigênio no estado é assinado pelo ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde em resposta a um requerimento de informação feito pelo deputado federal José Ricardo (PT-AM). O ofício foi elaborado no dia 15 de março.

“Esclareço que, na noite de 7 de janeiro de 2021, este ministério tomou ciência de problemas relacionados ao abastecimento de oxigênio na rede de saúde do Amazonas”, afirma o ofício assinado pelo ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco.

Fonte: O Globo

 

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