Nível dos reservatórios de Sudeste e Centro-Oeste em maio é o mais baixo para o mês desde 2001

Represas de hidrelétricas das duas regiões, responsáveis por mais da metade da geração do país, tinham nível médio de 32,10% ao fim de maio. Governo emitiu alerta de risco hídrico.

Os reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste chegaram ao final de maio com o armazenamento médio mais baixo para o mês desde 2001, ano em que o país enfrentou um racionamento de energia, apontam dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O armazenamento médio nas duas regiões ao final de maio de 2021 era de 32,10%. Em 2001, na mesma época, era de 29,87% (gráfico abaixo).

Armazenamento nos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste para meses de maio — Foto: Editoria de Arte / G1
Armazenamento nos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste para meses de maio — Foto: Editoria de Arte / G1

O governo nega risco de um novo racionamento. Entretanto, admite a gravidade da situação, já emitiu alerta de risco hídrico e anunciou medidas para evitar escassez de energia.

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A queda no nível dos reservatórios já provoca o encarecimento das tarifas de energia no país. E, no governo, há preocupação de que a crise no setor elétrico possa prejudicar a recuperação da economia brasileira e pressionar a inflação.

De acordo com especialistas, a crise atual pode ser mais grave que a registrada em 2015, quando também houve temores de um racionamento (veja mais abaixo).

Chuva abaixo da média

Na organização do sistema elétrico, o Sudeste e o Centro-Oeste formam um único subsistema, que responde por mais da metade da capacidade de geração de energia do país.

As duas regiões abrigam as principais hidrelétricas brasileiras, mas sofrem há anos com chuva abaixo da média. No último período úmido, entre novembro de 2020 e abril de 2021, foi registrado o menor volume de chuvas dos últimos 91 anos.

O baixo nível dos reservatórios, e a expectativa de que não haverá recuperação nos próximos meses, que são de seca no Sudeste e Centro-Oeste, já provocam preocupações de que o país possa enfrentar um novo racionamento de energia.

Por enquanto, o governo nega o risco de falta de energia neste ano. Entretanto, em maio o Ministério de Minas e Energia montou um grupo para acompanhar a crise e propor medidas para enfrentar o agravamento da situação no setor elétrico. Na semana passada, emitiu um alerta de risco hídrico.

Nesta semana, a Agência Nacional de Águas (ANA) atendeu a um pedido do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e declarou situação crítica de escassez dos recursos hídricos na Região Hidrográfica do Paraná, que abrange parte dos territórios de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.

Conta mais cara

Depois do racionamento de 2001, o Brasil promoveu a diversificação do sistema elétrico, ou seja, investiu em diferentes fontes de geração de energia, como a térmica, a eólica e a solar.

É essa diversificação, especialmente o parque de usinas termelétricas, que dá hoje mais segurança ao sistema e permite que o país atenda à demanda por energia.

Quando os reservatórios estão com armazenamento baixo, o governo reduz a geração das hidrelétricas para poupar água e, no lugar, aciona mais termelétricas.

Entretanto, a energia gerada pelas térmicas é mais cara e mais poluente, pois essas usinas usam combustíveis, como óleo e gás natural, para produzir.

Para cobrir os custos extras com o uso mais intenso de térmicas, em 2015 a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) criou o sistema de bandeiras tarifárias.

O sistema aplica uma cobrança adicional nas contas de luz em situações como a verificada atualmente no país.

Neste mês de junho, vigora no país o patamar 2 da bandeira vermelha, a mais cara. Isso significa que será cobrado nas contas de luz de todos os consumidores do país um valor adicional de R$ 6,24 para cada 100 kWh de energia consumidos.

É a primeira vez neste ano que a agência aciona a bandeira vermelha nível 2. Durante o mês de maio, vigorou a bandeira vermelha 1, que aplica cobrança adicional de R$ 4,16 para cada 100 kWh consumidos.

Situação mais grave

O economista Fernando Camargo, sócio diretor da LCA Consultores, avaliou, em entrevista para o podcast “O Assunto”, que a crise atual é mais preocupante que a registrada na crise hídrica que ocorreu entre 2014 e 2015, quando a queda nos reservatórios também trouxe temores de um novo racionamento.

Ele aponta que, além da seca, o aumento da demanda por energia devido ao reaquecimento da economia contribui para elevar o risco de escassez de energia.

“A nossa situação é um pouco diferente [da registrada em 2015]. A gente não espera uma melhora no período seco, maio já foi pior do que abril, ao contrário do que foi em 2015. E a nossa situação de demanda está na ponta inversa: acabamos de fechar número de PIB no primeiro trimestre que surpreendeu para cima”, disse Camargo, se referindo ao crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto, divulgado na terça (1º).

“Tudo indica que a gente está numa situação de retomada. Então, a gente tem uma situação inversa, que é a piora na situação de oferta [de energia] e melhora esperada na demanda. E isso pode trazer um ano mais complexo do que foi 2015”, completou.

O economista afirmou ainda que, apesar de o Brasil contar com um número grande de termelétricas para dar segurança ao sistema, uma parte dessas usinas está indisponível e, uma outra parte, deve ficar fora de operação temporariamente nos próximos meses, devido a manutenções programadas pela Petrobras em sua estrutura de fornecimento de gás natural e que vão exigir a suspensão no fornecimento.

Camargo disse acreditar na possibilidade de “momentos de tensão e de blecaute” nos próximos meses, especialmente nos horários de maior consumo de energia no país.

Fonte: G1

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