Presidente ucraniano diz que não fará concessões territoriais e pede ‘medidas claras e eficazes’ de aliados contra a Rússia

Moscou reconheceu a independência de Donetsk e Luhansk, regiões separatistas do leste ucraniano.

O presidente ucraniano Volodimir Zelensky acusou a Rússia de arruinar as negociações de paz e descartou fazer quaisquer concessões territoriais em um discurso à nação transmitido pela TV nas primeiras horas da manhã de terça-feira (22, pela hora local) .

Zelensky disse que a Ucrânia está comprometida com a paz e a diplomacia depois que a Rússia reconheceu formalmente duas regiões separatistas apoiadas por Moscou como independentes.

O presidente disse que a Ucrânia espera medidas “claras e eficazes” de seus aliados para agir contra a Rússia e pediu uma cúpula de emergência dos líderes da Ucrânia, Rússia, Alemanha e França.

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Mais cedo, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou o envio de militares russos para “manter a paz” nas regiões separatistas da Ucrânia em um decreto assinado nesta segunda-feira (21).

O documento, divulgado pela agência estatal RIA, foi assinado no mesmo momento em que Putin oficializava o reconhecimento da independência de Donetsk e Luhansk.

“Após apelo do líder da República Popular de Donetsk, ordeno que o Ministério de Defesa da Federação Russa […] implemente, com suas Forças Armadas, no território de Donetsk a função de manutenção da paz”.

Treinamento voltado para civis em Mariupol, na região de Donetsk, Ucrânia — Foto: Vadim Ghirda/AP
Treinamento voltado para civis em Mariupol, na região de Donetsk, Ucrânia — Foto: Vadim Ghirda/AP

O mesmo decreto foi assinado também para Luhansk.

Com a decisão de Putin, o processo de paz no leste da Ucrânia, onde um conflito entre forças do governo e separatistas apoiados por Moscou já matou pelo menos 15 mil pessoas, poderá ser minado.

Reunião de emergência do Conselho de Segurança

Os Estados Unidos e seus aliados pediram que o Conselho de Segurança da ONU se reúna em caráter de urgência nesta segunda-feira (21) depois que a Rússia reconheceu a independência da Ucrânia de dois territórios separatistas, segundo informações das agências de notícias.

Os países solicitantes, que se baseiam em uma carta da Ucrânia à ONU, inclui, entre outros, França, Reino Unido e Albânia, segundo as fontes.

Será a presidência rotativa do Conselho, ocupada atualmente pela Rússia, que deverá agendar a reunião.

Como começou a disputa naquela região?

Rússia e Ucrânia têm relações ruins desde a chegada ao poder em Kiev, em 2014, dos setores pró-Ocidente, após a revolta da praça Maidan, que foi seguida pela anexação da península ucraniana da Crimeia pelos russos e o conflito com os separatistas no leste, na região conhecida como Donbass, onde ficam Donetsk e Luhansk.

A Ucrânia e os ocidentais acusam Moscou de apoiar militarmente os separatistas, algo que a Rússia nega. Moscou chegou a emitir passaportes para centenas de milhares de residentes de Donbass.

Os acordos de paz de Minsk, assinados em fevereiro de 2015, tornaram possível reduzir significativamente os confrontos, mas eles continuam desde então, ainda que em ritmo reduzido. Os acordos preveem a reunificação de ambas as regiões com a Ucrânia, mas com Kiev concedendo ampla autonomia às duas regiões.

“Kiev não está observando os acordos de Minsk. Nossos cidadãos e compatriotas que vivem em Donbass precisam de nossa ajuda e apoio”, escreveu Vyacheslav Volodin, presidente da Câmara dos Deputados da Rússia, nas redes sociais, para justificar o pedido de reconhecimento.

Reconhecer Donetsk e Luhansk é um passo significativo que efetivamente encerraria o processo de paz de Minsk, que está no centro das discussões sobre os temores de uma invasão russa do território ucraniano.

Áreas de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes pela Rússia — Foto: Arte g1
Áreas de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes pela Rússia — Foto: Arte g1

Putin reconhece independência de separatistas

Putin anunciou pela TV que reconhece duas regiões separatistas da Ucrânia , Luhansk e Donetsk, como independentes. Em uma dura mensagem recheada de argumentos históricos, ele alegou que as terras ancestrais do leste ucraniano são russas. Disse ainda que a Ucrânia moderna é uma invenção da União Soviética. “A Ucrânia é parte integrante da nossa história”, afirmou.

“Acho necessário tomar uma decisão que deveria ter sido tomada há muito tempo – reconhecer imediatamente a independência e a soberania da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk”, discursou, antes de assinar dois documentos.

O líder russo afirmou que a Ucrânia não foi capaz de formar um estado sólido desde o fim da URSS e, por isso, depende de países estrangeiros como os EUA. Segundo ele, o governo ucraniano é um regime fantoche dos americanos e está buscando criar armas nucleares.

Putin se queixou de que, quando a URSS se desintegrou, houve a promessa de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), pararia de se expandir, mas isso não ocorreu. E que, fazendo parte da Otan, a Ucrânia servirá de base de ataques contra a Rússia. O vizinho vem sendo inundado de armas estrangeiras, alegou.

Rebeldes pró-Rússia comemoram em Donetsk, na Ucrânia, após Putin reconhecer, nesta segunda-feira (21) a independência das regiões separatistas. — Foto: REUTERS/Alexander Ermochenko
Rebeldes pró-Rússia comemoram em Donetsk, na Ucrânia, após Putin reconhecer, nesta segunda-feira (21) a independência das regiões separatistas. — Foto: REUTERS/Alexander Ermochenko

Na semana passada, o Parlamento russo aprovou um pedido para que o presidente reconhecesse as autodeclaradas repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk, no leste ucraniano.

Especialistas afirmam que o movimento pode inflamar ainda mais o impasse sobre uma escalada militar russa perto da Ucrânia que tem alimentado temores do Ocidente de que Moscou possa invadir. A Rússia nega qualquer plano de invasão e acusa o Ocidente de histeria.

Também nesta segunda, militares russos disseram que tropas e guardas de fronteira impediram um grupo de violar a fronteira da Rússia a partir do território da Ucrânia, e que cinco pessoas foram mortas. As informações são de agências de notícias russas.

A Ucrânia negou a reportagem das agências de notícias russas, dizendo ser informação falsa, e acrescentou que nenhuma força ucraniana estava presente na região de Rostov, onde o incidente teria ocorrido.

Violações de cessar-fogo

Houve mais de 1.500 registros de violações de cessar-fogo em 24 horas no leste separatista pró-Rússia da Ucrânia, um recorde até agora neste ano, informou a Monitores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) no sábado (19).

Da tarde de quinta-feira à noite de sexta-feira, observadores da OSCE registraram 591 violações do cessar-fogo em Donetsk e 975 em Luhansk, os dois enclaves separatistas.

Os combates mais intensos ocorreram no noroeste da região de Luhansk, cerca de 20 quilômetros a sudeste de Severodonetsk, uma localidade leal ao governo de Kiev.

Na semana passada, separatistas de Donetsk, na Ucrânia, removeram civis para a Rússia. O vídeo abaixo mostra as famílias deixando a região.

Fonte: G1