Irmãos confessam envolvimento nas mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips na Amazônia, dizem fontes da PF

Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, e Oseney da Costa de Oliveira, o Dos Santos, haviam sido presos durante investigações sobre desaparecimento do indigenista brasileiro e do jornalista britânico, em 5 de junho. Segundo fonte da PF, Pereira e Phillips foram mortos a tiros e depois tiveram os corpos queimados e enterrados.

Os irmãos Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos, confessaram envolvimento no assassinato do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos desde 5 de junho na região do Vale do Javari, na Amazônia, informaram nesta quarta-feira (15) fontes da Polícia Federal.

Segundo uma fonte da PF, Pereira e Phillips foram mortos a tiros e tiveram os corpos queimados e enterrados. A motivação do crime ainda é incerta, mas a polícia apura se há relação com a atividade de pesca ilegal na região. Segunda maior terra indígena do país, o Vale do Javari é palco de conflitos típicos da Amazônia: tráfico de drogas, roubo de madeira e avanço do garimpo.

Em seu depoimento, Amarildo teria dito que ouviu o barulho dos tiros e, ao chegar ao local, encontrou uma terceira pessoa. Então, no dia seguinte, ele e o irmão resolveram incendiar os corpos, esquartejar e enterrá-los.

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Na noite desta quarta, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, informou, em uma rede social, que a PF encontrou “remanescentes humanos” no local das buscas.

Ainda de acordo com a fonte, deverá ser feito exame de DNA com base em material fornecido por parentes das vítimas. A família do jornalista no Reino Unido afirmou não ter sido informada sobre a confissão de Pelado e Dos Santos.

Antes de sumir, Pereira, que era servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), e Phillips haviam partido da Comunidade São Rafael em uma viagem com duração prevista de duas horas rumo a Atalaia do Norte, mas eles não chegaram ao destino (veja o mapa do percurso ao final deste texto).

Logo após o desaparecimento, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) afirmou que Pereira recebia constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores. Em nota divulgada na ocasião, a entidade descreveu Pereira como “experiente e profundo conhecedor da região, pois foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”.

Segundo o jornal britânico “The Guardian”, do qual Phillips era colaborador, o repórter estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente. Ele morava em Salvador e escrevia reportagens sobre o Brasil fazia mais de 15 anos. Também publicou em veículos como “Washington Post”, “The New York Times” e “Financial Times”.

Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, está detido desde 7 de junho. Segundo a polícia, ele foi visto por ribeirinhos, no dia do desaparecimento, em uma lancha logo atrás da embarcação de Pereira e Phillips. Os agentes encontraram vestígios de sangue no barco de Pelado, que vinha negando ter qualquer relação com o caso. Já Oseney, o Dos Santos, foi preso temporariamente nesta terça-feira (14).

No domingo (12), a Polícia Federal divulgou imagens de objetos encontrados na área de buscas, no interior do Amazonas. Foram localizados uma mochila, um notebook , camisas, bermudas, calça, chinelos e botas (leia, mais abaixo, sobre as buscas e a investigação).

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Montagem com fotos do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips — Foto: TV Globo/Reprodução

Buscas e investigação

A operação de buscas para encontrar o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista Dom Phillips teve início no dia do desaparecimento, 5 de junho, um domingo. A operação foi inicialmente organizada por integrantes da Univaja. Como eles não conseguiram localizar a dupla, alertaram as autoridades sobre o sumiço na segunda-feira (6).

As buscas reúnem o Exército, a Marinha, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) e a Polícia Federal. O Exército na região do Vale do Javari com combatentes de selva da 16º Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Tefé (AM).

Em 7 de junho, o assessor jurídico da Unijava disse que a Marinha e a PF ignoraram informações sobre suspeitos que, no passado, ameaçaram o indigenista. Em 10 de junho, as equipes encontraram “material orgânico aparentemente humano” em um rio próximo ao porto de Atalaia do Norte.

Até esta quarta-feira (15), nove pessoas haviam sido ouvidas pela polícia. Entre elas, está a mulher de Amarildo, Josenete, que prestou depoimento na última sexta-feira (10) e preferiu não falar sobre a prisão do marido nem sobre o caso dos desaparecidos.