São Paulo e Piauí conseguem liminar no STF para compensar perdas com mudanças de ICMS dos combustíveis

Decisões do ministro Alexandre de Moraes foram publicadas neste domingo. Governo paulista teve aval para reduzir pagamentos mensais de juros e dívida com União a partir de agosto

Os estados de São Paulo e Piauí obtiveram decisões liminares no Supremo Tribunal Federal (STF) para tratar das compensações a que terão direito por causa das perdas de arrecadação que os estados tiveram pela criação de um teto para as alíquotas de ICMS sobre combustível, energia elétrica, transporte coletivo e telecomunicações.

As duas liminares foram concedidas pelo ministro Alexandre de Moraes neste domingo. Alagoas e Maranhão foram os primeiros a conseguirem decisões favoráveis, na semana passada.

Como o GLOBO antecipou, ao menos 11 estados deveriam pedir ao STF para suspender pagamento de dívidas por causa da diminuição da arrecadação. Ao estabelecer a alíquota de 17% ou 18% para esses serviços, a legislação previu um gatilho para compensação, quando as perdas ultrapassarem o limite de 5% por mês.

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O projeto de lei que cria o teto foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro em junho.

No caso de São Paulo, o estado obteve a permissão para, a partir de agosto, efetuar a compensação imediata de parcelas da dívida com a União. A liminar de Moraes ainda diz que a União não pode colocar o estado de São Paulo em qualquer cadastro de inadimplentes, prejudicar o ente em trâmites de operações de crédito ou classificação de rating (risco de crédito).

Já para o Piauí, o pedido acatado foi para suspender o pagamento de dívidas com instituições como o Banco do Brasil, Caixa Econômica, Itaú, BNB, BNDES e BID.

O secretário de Fazenda de São Paulo, Felipe Salto, disse ao GLOBO que avalia que se fez justiça:

— A medida manda que a compensação se dê via redução dos pagamentos mensais de juros e dívida de São Paulo com a União. A medida do ICMS, assim, ficará ao menos neutralizada. A situação fiscal de São Paulo é muito boa, mas a compensação é um direito que, até a decisão de hoje não havia sido garantida.

Um levantamento feito pelo Tesouro Nacional a pedido do GLOBO aponta que a dívida de São Paulo com a União é de R$ 6,763 bilhões. Este mesmo levantamento indica que de agosto a dezembro, os estados têm R$ 11,3 bilhões a pagar neste ano ao governo federal.

O secretário de Fazenda do Piauí, Antonio Luiz, diz que as perdas calculadas para a arrecadação no estado eram de R$ 800 milhões para este ano, e as dívidas até o final do ano giram em torno de R$ 300 milhões.

A decisão do STF, que suspende o pagamento das dívidas do Piauí em contratos em que a União é a garantidora, traz alívio para o caixa:

— É uma decisão muito importante, porque restabelece o pacto federativo que a União insiste em quebrar e ajuda os estados a se planejar para cumprir os compromissos que estavam sendo executados. Essa decisão consegue reestabelecer o equilíbrio das contas, porque a redução pegou o jogo andando, e com isso poderemos levar, tranquilamente, o planejamento feito no começo do ano até o final de 2022.

A avaliação do diretor institucional do Comitê Nacional de Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz), André Horta, é de que mais estados vão recorrer ao Supremo, e que as decisões favoráveis devem fazer com que essa busca seja mais rápida. O Comsefaz lembra que são 15 estados com dívidas com a União, que podem pedir a compensação.

— As legislações do último ano abalaram profundamente os estados no sistema federativo brasileiro. Esperamos que essa reorganização do debate pelo Judiciário alcance depois o próprio Legislativo e a gente consiga reestruturar os entes financeiramente para continuar fornecendo o mesmo nível de serviço público que se vinha estendendo — afirmou Horta.

Disputa com Bolsonaro

 

As discussões sobre a redução do ICMS foram mais um capítulo na disputa entre o presidente Jair Bolsonaro e os governadores. Com aval do Congresso, foram aprovadas novas regras que impactaram a arrecadação do principal tributo dos estados.

Sem conseguir barrar o texto, os governadores conseguiram negociar mecanismos para amenizar os impactos nos cofres estaduais. Um deles foi a compensação pelas perdas de receita, com diminuição do pagamento das dívidas equivalente ao valor que deixaria de ser arrecadado. Bolsonaro chegou a vetar o dispositivo, que acabou sendo derrubado pelo Congresso.

Fonte: O Globo