Hacker Afirma à CPI que Bolsonaro Mencionou ‘Grampo’ Contra Moraes e Propôs que Assumisse Autoria da Invasão

Depoimento à CPI dos Atos Golpistas revela detalhes do encontro entre o hacker e o ex-presidente. Delgatti Neto também disse ter recebido R$ 40 mil de Carla Zambelli para invadir sistemas do Judiciário.

Em um depoimento surpreendente à CPI dos Atos Golpistas, o hacker Walter Delgatti Neto trouxe à luz uma reunião ocorrida em 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro teria discutido a realização de um grampo contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O encontro também envolveu uma inusitada proposta: Bolsonaro teria sugerido que Delgatti Neto assumisse a autoria do grampo. Tais revelações ampliam ainda mais o escopo das investigações em torno das ações do governo.

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‘Ele queria que eu autentificasse a lisura das eleições, as urnas’, diz Walter Delgatti sobre encontro com Bolsonaro

Em uma rede de interações complexas, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) teria intermediado o contato entre Bolsonaro e o hacker. Ela teria enviado uma mensagem que desencadeou o contato direto entre o presidente e Delgatti Neto, como confirmado pelo próprio hacker em seu depoimento. A conversa teria então evoluído para a discussão sobre o grampo e a proposta de Delgatti Neto assumir a autoria.

No contexto político e midiático, a estratégia de Bolsonaro e sua equipe envolveu a prevenção de questionamentos por parte da esquerda política, aproveitando a reputação de Delgatti Neto como o “hacker da Lava Jato”. Ao assumir a autoria do suposto grampo, Bolsonaro e seus apoiadores buscavam minimizar possíveis reações contrárias, dado o histórico do hacker em vazamentos relacionados à operação Lava Jato.

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O hacker ressaltou ainda que, segundo Bolsonaro, o grampo teria sido realizado por estrangeiros, mas ele mesmo não teve acesso às conversas que supostamente teriam sido captadas. O motivo apresentado para tal ação era a obtenção de um indulto presidencial, concedido em troca de sua suposta autoria do grampo. Essa abordagem ressalta a complexidade das relações políticas e tecnológicas que marcaram esse episódio.

Um aspecto adicional das declarações de Delgatti Neto é a afirmação de que recebeu um pagamento de R$ 40 mil de Carla Zambelli pela invasão dos sistemas do Judiciário. Essa revelação lança luz sobre a participação direta da deputada nas atividades do hacker, expandindo o escopo das investigações e levantando questões sobre sua possível responsabilidade em tais ações.

A ida de Delgatti Neto à CPI dos Atos Golpistas ocorre em meio a um cenário de crescente tensão política e judicial. O hacker ganhou notoriedade por vazar mensagens relacionadas à operação Lava Jato em 2019, o que o levou a ser detido e investigado. No entanto, mesmo após esses eventos, ele continuou a ser um ator relevante nas investigações e nas relações políticas, como indicado pelo seu envolvimento nas ações voltadas contra o ministro Alexandre de Moraes.

O depoimento do hacker também lança luz sobre a relação entre Bolsonaro e suas críticas ao sistema eleitoral. O encontro entre Delgatti Neto e o presidente, intermediado por Zambelli, levanta questões sobre as motivações por trás das críticas de Bolsonaro às urnas eletrônicas. Embora nunca tenha apresentado provas concretas de irregularidades, Bolsonaro buscava questionar o sistema eleitoral por meio de alegações infundadas.

A defesa de Carla Zambelli negou as acusações de pagamento ao hacker e rejeitou qualquer conduta ilícita por parte da deputada. No entanto, as revelações de Delgatti Neto colocam em evidência uma série de interações complexas e possíveis relações obscuras entre figuras políticas e atividades cibernéticas, destacando a necessidade de investigações mais aprofundadas para esclarecer todas as facetas desse complexo cenário.