Se você olhou para o céu nesta quinta-feira (12), provavelmente notou uma névoa de tom acinzentado. Você sabe o que significa? Influência das queimadas que acontecem na Amazônia e no interior de São Paulo! Quem explica é o professor Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar, da Unifesp Baixada Santista, que afirma que os chamados ‘Rios Voadores’ estão trazendo essa fumaça ao litoral de SP.
“Eu diria que essa fumaça ou névoa que você está vendo, ela é uma mistura de duas coisas. Uma, ela pode sim ter essa influência das queimadas, pode. Em que razão? Ela vem de um conceito que tomou muito mais conhecimento público nos últimos anos, que é o dos Rios Voadores da Amazônia”, diz.
O professor explica que, no sistema em que vivemos, existem algumas dinâmicas de massas de ar, e uma delas, é que a Amazônia, que pega o Brasil e vários outros países, e tem uma floresta gigantesca, emite muitas gotículas de água.
“E aí, por um processo natural, ela pega uma corrente de ar, que forma o chamado Rio Voador. Essa corrente de ar sai da Amazônia, vai descendo em direção ao sul do continente, é limitada pela Cordilheira dos Andes, e vai descendo pelo Brasil, passa por cima do Pantanal, dos estados e vai chegando no litoral”, diz.
O Diário já vem abordando a questão nesta semana, como no caso da reportagem “Fumaça das queimadas impacta o litoral de SP e nevoeiros vão continuar, diz especialista”.
Outro fator
Ainda segundo Ronaldo Christofoletti, a chegada de uma frente fria, prevista para este final de semana, é outro fator que contribui para a névoa vista no céu nesta quinta-feira (12).
“Olha o dia que a gente está hoje, está um calor mais intenso, característico da véspera de chegada de frente fria. De sexta para sábado e vai cair muito a temperatura. Hoje a gente está com máxima de 33°C e no domingo vai estar 23°C, vai cair 10 graus. Quando a frente fria está para chegar, a gente que mora aqui no litoral já sabe que dá uma baixa pressão no mar, então vem muito mais essa corrente de ar lá da Amazônia, passando pelo Pantanal, passando pelo interior de São Paulo, e nosso caso aqui chegando no litoral”.
Vale ressaltar que este vento quente, o popular ‘bafo quente’, também vem da Amazônia e isso é chamado de “pré-frente”, ou, como chamamos aqui na Baixada Santista, o ‘vento noroeste’, que antecede a mudança de tempo.
“O vento de noroeste está vindo da Amazônia pelo Pantanal e pelo interior de São Paulo. Então pode sim ser a fumaça [das queimadas]”.
Neblina
Sobre a neblina que está marcando o inverno na Baixada Santista, Ronaldo explica que trata-se de um processo natural nesta época do ano, mas que está intensificado. E, assim, temos mais um fator que influencia a mudança do clima.
“O que a gente mais vê é que a mudança do clima intensifica a frequência e a intensidade de eventos que são naturais. Então, eles começam a tomar dimensões muito maiores. Essa névoa é o quê? Da mesma forma que as gotículas da Amazônia sobem e formam um rio que agora está de fumaça, o mar também lança muita gotícula de evaporação. Normal, a temperatura do mar é mais baixa do que a do ar. Então evapora água, essa água sobe e forma nuvem e, com a nuvem, chove”.
Ronaldo explica ainda que, nesta época do ano, em que há diferença de temperatura entre o oceano e o ar, é comum que essas gotículas formem essa névoa em determinado momento e que ela não suba muito.
“Agora, quando lá em cima está uma massa de ar ainda mais seca e densa, com a queimada, o que acontece é que a névoa está ficando ainda mais concentrada aqui embaixo. Você está tendo mais calor, o oceano está mais quente, você lança mais água e, de repente, vai ficando essa névoa concentrada como a gente viu nos últimos dias”.
Fumaça
Entretanto, o professor reafirma que sim, muito provavelmente a névoa desta quinta-feira (12) seja muito mais efeito das queimadas da Amazônia e do interior de São Paulo.
“Isso porque estamos em um momento de baixa pressão, pré-chegada da frente fria, que chega nas próximas 48 horas e, com isso, abre mais a massa de ar que vem da Amazônia trazendo toda essa fumaça. Ela vem mais forte”, explica.
Fonte: Diário do Litoral