Com números em queda desde a popularização do e-commerce, as livrarias exclusivamente físicas passaram em 2020 por outro grande dilema, a pandemia do novo coronavírus (covid-19). Com o fechamento temporário do comércio para clientes presenciais e rigorosas medidas de restrição de circulação de pessoas em centros comerciais, os estabelecimentos culturais sofreram perdas significativas.
Para tentar contornar a situação, uma iniciativa inspirada em movimentos internacionais foi adotada por um grupo de mais de 120 livrarias do país. Com o mote #TudoComeçaNaLivraria, a campanha visa resgatar o hábito e as vantagens de se folhear um livro em meio a um acervo imenso de obras, como nos tempos pré-internet.
Valorizar as livrarias como ponto de conexão entre livreiros, autores, editores, distribuidores e leitores é um dos objetivos da iniciativa, que visa ainda fortalecer livrarias físicas como vitrine para o lançamento de novos títulos. A campanha conta com apoio da Câmara Brasileira do Livro (CBL), da Associação Nacional de Livrarias (ANL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
“Infelizmente, o Brasil tem muitas cidades sem livrarias”, disse o diretor executivo da Editora WMF Martins Fontes, Alexandre Martins Fontes, um dos coordenadores da campanha. “Uma cidade não é uma cidade sem uma livraria“, disse Martins Fontes, citando o autor inglês Neil Gaiman, responsável pela série Sandman.
Fortalecimento
Alexandre Martins Fontes disse que as livrarias se dividem em duas categorias. Há aquelas que fizeram opção de manter apenas a presença física e não ter atuação online, enquanto a outra categoria reúne livrarias físicas que também atuam pela internet.
As livrarias pertencentes à primeira categoria, que operam apenas com lojas físicas, foram obrigadas a fechar as portas. E mesmo depois que reabriram, ainda estão preocupadas com o futuro. “Não há no mundo livraria física que tenha um movimento equivalente àquele que tinha antes da pandemia. É inquestionável que a pandemia afetou, acima de tudo, as livrarias que optaram por esse modelo. E essas livrarias, na minha visão, são absolutamente fundamentais para a saúde da sociedade e das cidades brasileiras”, comentou Martins Fontes.
A pandemia provocou uma queda média de 40% nas vendas desses estabelecimentos, em relação ao ano passado. Para muitas livrarias físicas, porém, que ficaram fechadas, as perdas atingiram 90% a 100%, disse o livreiro e editor. Muitas ainda não conseguiram retornar ao desempenho que apresentavam antes da pandemia. Fontes estimou que, atualmente, a queda nas vendas deve variar entre 20% e 25%.
Já as livrarias incluídas na segunda categoria, que além de lojas físicas também vendem online, sofreram um pouco menos. A queda nas vendas presenciais foi compensada pelo crescimento dos negócios feitos via internet. As vendas pelas lojas virtuais surpreenderam e as pessoas passaram a consumir mais livros, no mundo todo.
Novos títulos
O que os editores perceberam, entretanto, é que as vendas online não tiveram o resultado esperado no que diz respeito aos novos títulos, aos lançamentos de livros, como acontecia nas livrarias físicas, que funcionam como ponto de encontro e de confraternização para as pessoas. “A livraria investiu no espaço físico como ponto de encontro para seus clientes”, disse Martins Fontes. “Isso mostra como a livraria física é importante como vitrine daquilo que está sendo lançado”.
Categórico, Martins Fontes afirma que “as editoras chegarão à conclusão que as livrarias físicas são fundamentais para os lançamentos”.
“Esse é o ponto que nós estamos dando ênfase nessa campanha, porque a livraria física não é só um local de encontro e de confraternização, mas ela é, acima de tudo, essa grande vitrine da indústria editorial. A importância da livraria é gigantesca”, disse.
Alexandre Martins Fontes anunciou que, no período de 11 a 13 de dezembro, as principais livrarias brasileiras farão uma grande exposição de livros novos publicados a partir de outubro no país, dando descontos especiais e fazendo promoções para os clientes. “Essa é a ideia, que a gente crie campanhas ao longo dos próximos anos, para fazer com que as pessoas se sintam convidadas para visitar as livrarias”.