Uma das representantes do Brasil na estreia olímpica do surfe, nos Jogos de Tóquio (Japão), Silvana Lima aguarda a definição das próximas etapas do QS, divisão de acesso à elite do surfe mundial, para voltar a competir internacionalmente. Devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), as 14 disputas que constam no calendário da Liga Mundial de Surfe (WSL, sigla em inglês) até junho, um mês antes da Olimpíada, aparecem com status de “Tentative” (tentativa, na tradução literal do inglês).
“Há duas etapas no Equador [em Montañita e Salinas] que ainda precisam ser confirmadas. Quase todas as outras também estão indefinidas. A única coisa que a gente está fazendo é treinar e focar para realmente estar preparada caso alguma etapa seja confirmada”, resume Silvana, eleita oito vezes a melhor surfista do país, à Agência Brasil.
“Competir em outras etapas é realmente muito importante na preparação. O que a gente mais quer no momento é competir. Os atletas estão sonhando com o momento de colocar a lycra novamente e rezando para a pandemia dar uma calmaria. O momento é delicado. Temos que nos cuidar bastante e nos preparamos a todo momento, física e psicologicamente. Tóquio é um sonho para todo atleta e principalmente do surfe. Cada treino é sonhando com o momento de representar nossa família, cidade e país”, completa a surfista, de 36 anos.
A vaga olímpica de Silvana foi conquistada em dezembro de 2019, na etapa de Mauí, no Havaí, do Circuito Mundial de Surfe. As oito melhores do ranking se classificavam para Tóquio, mas o limite de duas surfistas por país – que tirou atletas norte-americanas e australianas que estavam à frente do páreo – colocou Silvana, 12º do ranking, na briga com a neozelandesa Paige Hareb, 16ª. As duas foram eliminadas nas oitavas de final e a brasileira, por estar à frente de Hareb, obteve o lugar nos Jogos.
Além dela, o Brasil será representado por Tatiana Weston-Webb nas disputas femininas e pelos campeões mundiais Ítalo Ferreira e Gabriel Medina entre os homens. A classificação olímpica, segundo Silvana, trouxe oportunidades e patrocínios. Cenário, porém, que ela entende ainda serem raros no surfe feminino brasileiro. E a cearense, que já chegou a vender um apartamento, após se recuperar de uma lesão séria no joelho esquerdo, para seguir competindo, entende a dificuldade de se obter apoio.
“Depois que consegui minha vaga olímpica, tudo mudou na minha carreira, na parte de patrocínio, na oportunidade de participar de projetos. Mas as novas gerações não estão tendo essa oportunidade, mesmo com o surfe na Olimpíada. Aparecem alguns campeonatos no Brasil, mas não são tantos como antigamente. É complicado para as meninas que sonham realmente chegar entre as melhores do mundo. A maioria faz por amor, sonhando que algum empresário olhe para elas”, destaca.
Novidade em Tóquio, o surfe está garantido, também, nos Jogos de Paris (França). Em 2024, Silvana terá 39 anos, mesma idade que Kelly Slater, norte-americano considerado o maior surfista de todos os tempos, tinha quando obteve seu 11º título mundial. Até por isso, a brasileira não descarta brigar por um lugar na próxima Olimpíada também.
“Não estou pensando nisso ainda [Paris], o foco maior é no agora. Mas, quem sabe eu possa ser um Kelly Slater da vida e surfar até onde o corpo aguentar e Deus permitir. Deus me deu o talento e a força de vontade para representar muito bem minha família, cidade e país, da melhor forma possível. Tem garota da minha geração que já parou, mas a vontade de competir ainda é muito grande. Não penso em aposentadoria ainda, só vou começar a pensar quando perceber que não estou mais fazendo resultados. Até lá, vou treinar forte, tentando evoluir cada vez mais”, conclui.