Ataque a estação de trem deixa ao menos 50 mortos, dizem autoridades da Ucrânia; Rússia nega autoria

Governador local afirma que um míssil com bomba de fragmentação atingiu a parada em Kramatorsk, na região separatista de Donetsk

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KIEV — Autoridades ucranianas culparam a Rússia por um ataque a uma estação de trem em Kramatorsk, principal ponto de fuga de milhares de pessoas que tentam escapar do Leste da Ucrânia, hoje o foco principal da ofensiva russa iniciada em 24 de fevereiro. A Rússia nega a autoria do ataque, que, segundo os ucranianos, deixou ao menos 50 mortos, incluindo cinco crianças, e ao menos 98 feridos.

O governador da região de Donetsk disse que pelo menos um projétil atingiu a estação ferroviária lotada de mulheres, crianças e idosos. “Milhares de pessoas estavam na estação durante o ataque, pois os moradores da região de Donetsk estão sendo removidos para regiões mais seguras da Ucrânia”, disse o governador, Pavlo Kyrylenko, em comunicado.

Já o presidente ucraniano, Volodymr Zelensky, disse que foi um ataque deliberado contra civis, afirmando que não havia militares no local.

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— Dispararam em uma estação de trem comum, em pessoas comuns, não havia militares lá — afirmou em uma mensagem ao Parlamento da Finlândia. — Sem força e coragem para nos enfrentar no campo de batalha, eles estão cinicamente destruindo a população civil.

Kramatorsk é a principal cidade da província de Donetsk que ainda permanece sob controle ucraniano. Separatistas pró-Rússia controlam a maior parte da província e da vizinha Luhansk desde 2014, em um conflito com o Exército ucraniano na região de Donbass, que fica próxima à fronteira da Rússia.

Ainda não há confirmação independente do que ocorreu no local. Um repórter da agência AFP, que esteve na estação horas antes do ataque, viu centenas de pessoas na estação tentando sair para partes mais seguras da Ucrânia.

Fotógrafos da AFP que fizeram fotos posteriormente no lugar relataram ter visto automóveis carbonizados nas proximidades, malas espalhadas, vidros estilhaçados e sangue no interior da estação. Os corpos das vítimas foram retirados de dentro da estação e alinhados do lado de fora.

As marcas de sangue no chão e os depoimentos indicam que as vítimas tiveram ferimentos semelhantes a detonações produzidos por armas de fogo. Elas foram atingidas em vários pontos da estação, na plataforma adjacente à principal e em sua praça. Um policial no local disse à AFP que a arma foi usada uma bomba de fragmentação, que, ao ser detonada, espalha explosivos menores.

— Ela explode em várias partes, cobre uma superfície do tamanho de um campo de futebol — disse.

Sob condição de anonimato, uma autoridade de Defesa americana disse que não está claro se munições de fragmentação foram usadas e que os EUA acreditam que a Rússia usou um SS-21 Scarab, um míssil balístico de curto alcance, no ataque. Autoridades ucranianas também apontaram esse tipo de míssil, que nos ex-estados soviéticos é conhecido como Tochka, como tendo sido usado na ação. A Casa Branca disse nesta sexta-feira que o governo Biden vai apoiar as investigações sobre o caso.

Em um vídeo divulgado pelo governo ucraniano, a inscrição “por nossas crianças” pode ser vista rabiscada em letras brancas na lateral dos destroços de um míssil. A frase, que sugere vingança, às vezes é usada pelos separatistas pró-Rússia para se referir a seus filhos mortos na guerra na região de Donbass.

Versão russa

O Ministério da Defesa da Rússia descreveu como “provocação” os relatos de que a Rússia foi responsável pelo ataque. Em comunicado, o ministério disse que o o míssil Tochka-U deixou de ser utilizado por suas Forças Armadas e é usado apenas pelas da Ucrânia. Segundo o ministério, as tropas russas não fizeram nenhum ataque contra Kramatorsk nesta sexta-feira.

O Tochka-U tem alcance de 120 quilômetros e foi fabricado a partir dos anos 1980 pela antiga União Soviética. Segundo o Ministério da Defesa russo, o projétil teria sido lançado contra Kramatorsk a partir da cidade de Dobropillya, que fica a 45 quilômetros ao Sul e sob controle ucraniano.

“Todas as declarações dos representantes do regime nacionalista em Kiev sobre o suposto ‘ataque’ realizado pela Rússia em 8 de abril na estação de trem da cidade de Kramatorsk são uma provocação e são absolutamente falsas”, declarou o ministério. “O objetivo desse ataque orquestrado pelo regime de Kiev contra a estação de trem de Kramatorsk era impedir que a população civil deixasse a cidade para poder usá-la como escudo humano.”

Depois de concluir sua retirada da região de Kiev, no Norte da Ucrânia, a Rússia está reagrupando forças para retomar com mais vigor a campanha no Leste do país.

Autoridades locais em algumas áreas têm pedido aos civis que saiam enquanto ainda é possível e relativamente seguro fazê-lo. Na quinta-feira, a Reuters informou que três trens que transportavam ucranianos foram bloqueados na mesma região após um ataque aéreo contra uma linha férrea.

O presidente dos EUA, Joe Biden, acusou a Rússia de atacar civis. “O ataque a uma estação ucraniana é uma nova atrocidade horrível cometida pela Rússia, afetando civis que tentam sair em segurança”, tuitou o presidente.

O presidente do Conselho Europeu disse que a União Europeia (UE) deveria adotar mais sanções contra a Rússia. Na quinta-feira, a União Europeia formalizou sua quinta rodada de sanções contra a Rússia desde o início da guerra, banindo as importações de carvão do país.

“Horrível ver a Rússia atacar uma das principais estações usadas por civis que deixam a região onde a Rússia está intensificando seu ataque”, disse Charles Michel, no Twitter. “É necessária ação: mais sanções contra a Rússia e mais armas para a Ucrânia estão a caminho da UE.”

Fonte: O Globo