Boate Kiss: MP pedirá condenação e prisão dos quatro réus envolvidos na tragédia que matou 242 pessoas

Julgamento foi marcado para o dia 1º de dezembro e pode se estender por cerca de duas semanas; 19 testemunhas, dez sobreviventes e os quatro réus deverão ser ouvidos

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PORTO ALEGRE — O Ministério Público do Rio Grande do Sul confirmou nesta quarta-feira que vai pedir a condenação e prisão dos quatro réus envolvidos na tragédia da Boate Kiss, que deixou 242 mortos e 636 feridos em janeiro de 2013.

O início do julgamento de Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, sócios da boate, e Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, integrantes da banda que tocava na noite da tragédia, está marcado para o dia 1º de dezembro.

De acordo com Julio Cesar de Melo, subprocurador de Justiça para assuntos institucionais do MP, o órgão está atento a qualquer manobra processual que tenha a intenção de suspender, adiar ou interromper o julgamento na data prevista.

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Para a promotora Lúcia Helena Callegari, a maior preocupação, neste momento, é a garantia de que o julgamento, aguardado por mais de oito anos, tenha “início, meio e fim”.

— Eu imagino que nós tenhamos 15 dias de julgamento, com o resultado que a sociedade espera. A sociedade está ao lado do Ministério Público, tenho certeza disso, esperando a condenação, mas não só a condenação. O Ministério Público já está dizendo, desde agora, que no julgamento irá pedir a prisão dos quatro. Não se está falando em vingança, está se falando em justiça, em uma resposta — diz a promotora.

Lúcia Helena lamenta, ainda, que os réus somente possam ser levados a julgamento por homicídio simples.

— O meu espírito, enquanto promotora, é condenar, porque eles praticaram os fatos. A denúncia apontava homicídio qualificado. Infelizmente, só podemos levá-los a julgamento por homicídio simples, não era esse o objetivo do Ministério Público. Lamento — afirma.

Morosidade

Em maio deste ano, quando a tragédia completou 100 meses, familiares das 242 vítimas iniciaram um movimento em memória de seus entes e contra a impunidade dos quatro réus. Chamada de “100 meses sem justiça”, a iniciativa contou com lives feitas com sobreviventes, pais de vítimas, juristas e até mesmo personalidades públicas.

Familiares de vítimas chegaram a desenvolver doenças e precisaram de medicamentos em função do trauma. Alguns desses relatos foram exibidos no documentário “Janeiro 27”, dirigido por Luiz Alberto Cassol e Paulo Nascimento. O longa, cuja primeira versão foi veiculada um ano após o acidente, comparava a tragédia de Santa Maria com outras duas ocorridas nas boates The Station, nos Estados Unidos, e República Cromañón, na Argentina.

O caso

Em 27 de janeiro de 2013, a boate Kiss pegou fogo após o vocalista da banda que se apresentava no local acender um artefato pirotécnico no interior do estabelecimento. Faíscas incendiaram a espuma que revestia a casa noturna para fazer o isolamento acústico. Com o incêndio, gases tóxicos foram liberados motivando a maioria das mortes, segundo a perícia. A casa noturna não possúia saídas de emergência e extintores na validade. Seguranças ainda impediram que parte das vítimas saísse, a mando dos donos, para que pagassem as contas.

Fonte: O Globo