Bolsonaro: acordo entre WhatsApp e TSE ‘é inaceitável e não será cumprido’

Em passeio de moto com apoiadores, presidente criticou decisão da empresa de adiar implementação de novo recurso no Brasil para depois da eleição

SÃO PAULO — O presidente Jair Bolsonaro reclamou nesta sexta-feira da decisão do WhatsApp de implementar novos recursos no Brasil somente após as eleições de outubro. O adiamento da atualização é fruto de um compromisso da empresa com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O WhatsApp anunciou na quinta-feira que vai lançar uma nova funcionalidade, chamada Comunidades, no próximo ano. O recurso vai possibilitar que administradores reúnam diferentes grupos sob um só guarda-chuva, ampliando o alcance de mensagens. O novo recurso, em fase de testes, pode facilitar a circulação de notícias falsas. Atualmente, os grupos de WhatsApp podem ter no máximo 256 integrantes.

Bolsonaro participa de um passeio de moto com apoiadores em São Paulo nesta sexta-feira, num trajeto que vai da capital até Americana. No meio do caminho, ele parou para falar com outros motociclistas e afirmou que o acordo do WhatsApp com o TSE “não será cumprido”.

Continua após a publicidade..

— E já adianto. Isso que o WhatsApp está fazendo no mundo todo, sem problema. Agora, abrir uma excepcionalidade para o Brasil, isso é inadmissível, inaceitável, e não vai ser cumprido, este acordo que porventura eles realmente tenham feito com o Brasil, com informações que eu tenho até o presente momento — declarou.

Na chegada a Americana, destino do passeio, Bolsonaro discursou para uma multidão de apoiadores e retomou o assunto. Ele chamou o acordo entre o WhatsApp e o TSE de “censura”.

— O WhatsApp passa a ter uma nova política para o mundo, mas uma especial para o Brasil. Censura, discriminação, isso não existe. Ninguém tira o direito de vocês, nem por lei, quem dirá por um acordo — declarou.

Procurado, o WhatsApp afirmou que não tem nada a declarar sobre o assunto.

Bolsonaro não deu detalhes de como pode “descumprir” uma decisão firmada por uma empresa privada. O acordo a que o presidente se refere é, na verdade, uma decisão do próprio WhatsApp, informada à Justiça Eleitoral no início do ano.

Oficialmente, a empresa integra o Programa de Enfrentamento à Desinformação do TSE, junto de outras companhias como Google, Twitter e Facebook. A iniciativa tem como foco a educação midiática, identificação e checagem de informações, aperfeiçoamento de recursos tecnológicos e outras medidas para tentar frear a disseminação de mentiras e ataques virtuais na eleição de outubro.

Em janeiro, O GLOBO mostrou que especialistas brasileiros demonstraram preocupação acerca da nova funcionalidade, ao serem procurados pela empresa, no mês anterior, para uma pesquisa de mercado. Segundo eles, o Comunidades pode turbinar a disseminação de notícias falsas e ataques virtuais, já que o aplicativo está presente em 99% dos smartphones no Brasil, segundo levantamento da Opinion Box, e figura como principal fonte de informação dos brasileiros, de acordo com pesquisa realizada pelo Congresso em 2019.

A circulação em massa de mensagens com conteúdos falsos, especialmente em ambientes fechados, como o WhatsApp, foi apontada como uma ameaça às eleições de 2018, o que levou autoridades a se mobilizarem para evitar o mesmo cenário este ano.