Brasileiras Leticia e Desirré teriam sido aliciadas nos EUA por ex-modelo

Caso é investigado pela polícia americana e acompanhado pelo Itamaraty. Garotas são vistas aparentemente dopadas em vídeos, onde falam coisas desconexas e afastam parentes e amigos

Leticia e Desirré: famílias buscam a localização das duas FOTO: Reprodução internet

Hipnose, lavagem cerebral, drogas, ameaça? As famílias de Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, natural de Minas Gerais, e de Desirré Freitas, de 26, com origem em São Paulo, garotas que ainda muito novas foram buscar oportunidades no exterior, se perguntam, aflitas, o que estaria acontecendo com as jovens. Elas não se conheciam, mas o destino as uniu quando desapareceram, este ano, nos Estados Unidos e mudaram abruptamente de comportamento, de acordo com os parentes, após terem se envolvido com a ex-modelo brasileira, empresária e coach Katiuscia Torres, conhecida como Kat Torres, que atua como uma espécie de guru espiritual em solo americano e promete, através de rituais com chás alucinógenos e até hipnose, objetivos como sucesso financeiro e até um marido. Entenda quem são essas meninas e o que se sabe sobre elas nos últimos meses.

Letícia Alvarenga

 

Letícia é filha do bancário Cleider Castro Alvarenga, de 53 anos, e da professora e confeiteira Elenize Aparecida Maia Alvarenga, de 50. Ela morava com os pais e os irmãos Vinícius e Laiza na cidade de Perdões (MG), antes de resolver tentar a sorte nos Estados Unidos através de um programa de Au Pair, que consiste em ser recebido por uma família anfitriã e prestar serviços na casa dela.

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Em 2019, decidiu, aos 18 anos, morar com uma família e trabalhar como babá em solo americano. “Sua intenção era estudar e futuramente montar uma loja de doces”, contam os pais em documento obtido pela reportagem. Pouco tempo depois, em meados de setembro de 2021, a coisa começou a mudar de figura.

“No início quando se instalou nos Estados Unidos ligava com frequência e relatava que estava gostando desta nova etapa de sua vida.Tempos depois, descobrimos que ela fazia consultas com uma mulher que se diz coach, chamada Kat Torres, que segundo ela é escritora, hipnoterapeuta, empresária e bruxa, possui um site de consultas on-line, onde promete realizar cura de doenças, ajudar meninas a ficarem ricas e conseguirem se casarem com homens americanos bem-sucedidos e milionários. Um site de milagres”, relatam os pais. “Descobrimos então que todo dinheiro que a Letícia ganhava com seu trabalho era gasto em consultas com a Kat Torres em seu site milagroso. Aos poucos, aquela Leticia carinhosa foi se distanciando da família e dos amigos, influenciada pela Kat Torres”

Kat teria, então, passado a se apropriar o dinheiro que os pais enviavam à filha, segundo eles, e começado a fazer postagens ao lado de Letícia, chegando a citá-la como sua assistente. Em alguns vídeos, ela aparece fora de si, enquanto a ex-modelo e o marido dão risadas. Outra postagem mostra um ritual bizarro de iniciação de “Deusa Alienígena”, onde a garota aparece com uma banheira ao fundo coberta por lâminas e bebendo o que parece ser o chá de Ayahuasca usado pela ex-modelo nos rituais.

“Através destes vídeos começamos a ter indícios de que a Leticia estava sob uso de bebida alcoólica e algo mais que não sabemos ao certo o que era, pois ela se portava de maneira diferente”.

A família perdeu contato com ela em abril deste ano, depois de um rápido retorno ao Brasil, quando ela tratou os parentes de forma indiferente e sumiu sem deixar pistas. Eles descobriram que ela havia voltado aos EUA e tinha ido morar com Kat no Texas. Eles fizeram um boletim de ocorrência em setembro e acionaram, também, o consulado brasileiro em Houston.

Eles começaram, então, a receber mensagens de Letícia, onde a garota – ou alguém que se fazia passar por ela – dizia para que parassem de procurá-los. A situação ficou ainda pior quando Kat publicou um vídeo, onde a menina dizia ter sido abusada sexualmente pelo pai, o que ele e os demais parentes negam veementemente.

Desirré Freitas

 

Desirré viveu durante alguns anos no Canadá, onde estudou jornalismo. Havia decidido se mudar para a Alemanha com o ex-marido, quando, pouco tempo depois, teria sido convencida por Kat Torres a largá-lo e a se mudar para da Europa para os EUA, o que acabou fazendo. Uma das amigas que ela fez em solo canadense antes de mudar o comportamento abruptamente e desaparecer foi Patrícia Bertoldo. Ela, e outros conhecidos da jovem, criaram a página Searching Desirre (procurando por Desirré, em português) no Instagram, onde pedem pistas de seu paradeiro e informações que ajudem a incriminar o suposto esquema de Katiuscia.

Após a criação do Searching Desirré, um perfil dela foi reativado na rede social, e ela – ou alguém se passando por ela – começou a pedir para que a página fosse tirada do ar, porque ela estava bem.

Nesta segunda-feira (17), Luan Freitas, que se identificou como primo da jovem, fez um apelo afirmando que a família estava desesperada porque ela não era vista desde o dia 19 de setembro:

“Pedimos às autoridades e a qualquer pessoa que possa nos ajudar com informações relevantes da Desirrê. Sobre os vídeos dela, não é a Desirrê que conhecíamos. Quem conhece ela sabe que não estava falando por livre e espontânea vontade. Ela é uma pessoa extrovertida e muito carismática que não precisaria usar daquela linguagem agressiva”, diz ele. No mesmo post, ele divulga os contatos do Departamento de Polícia de Austin, nos EUA.

Ao GLOBO, ele disse que falará nesta quarta-feira com um investigador.

– Eu fiz uma chamada para Houston no telefone do consulado brasileiro no Texas e deixei uma gravação. Hoje, recebi um contato de um investigador chamado Marcelo Bini, que é brasileiro e funcionário do nosso consulado. Ele é do departamento de Tráfico Humano. Ele perguntou se eu queria prestar depoimento para reforçar as buscas, que estava vindo ao Brasil coincidentemente para dar um treinamento para a polícia em Belo Horizonte – acrescentou. – Alguém estava forçando ela a falar aquelas coisas naqueles vídeos.

Vídeos com narrativa confusa e falas desconexas

 

Nesta terça-feira (18), os parentes das duas jovens viveram novos momentos de aflição. Isso porque, num perfil reativado que pertencia a Letícia, foram publicados dois vídeos onde elas aparecem, não se sabe se coagidas ou drogadas, e dizem ter sido sequestradas por uma famosa modelo e atriz brasileira, que nega qualquer envolvimento com o caso. Nas postagens, dizem estar em um cativeiro nos EUA e fazem ataques até a um apresentador de TV, da Record, que cobre o caso.

Investigação

 

O caso já chegou ao Ministério das Relações Exteriores, que informou, por nota, que acompanha a situação por meio do Consulado-Geral do Brasil em Houston. O órgão acrescentou que está em “contato estreito com as autoridades policiais norte-americanas responsáveis pela investigação”.

Fonte: O Globo