Advogados do banco dizem que a liminar determina ilegalmente o estorno de um pagamento feito pela Americanas ao BTG
O banco BTG Pactual recorreu na Justiça contra uma liminar que protege a varejista Americanas dos credores, mostram documentos vistos pela Reuters.
Em recurso entregue no sábado (14), os advogados do banco argumentam que a liminar determina ilegalmente o estorno de um pagamento feito pela Americanas ao BTG.
A Americanas obteve na sexta-feira (13) a liminar que a protege por 30 dias contra vencimento antecipado de dívidas, prazo que a varejista poderá usar para obter uma acordo com credores ou pedir uma recuperação judicial.
A decisão judicial determina ainda a interrupção da incidência de juros sobre as dívidas durante esse período e que qualquer valor recebido pelos credores por causa desse assunto seja devolvido à empresa.
O movimento ocorre após a varejista reportar na última quarta-feira (11), após o fechamento da bolsa, R$ 20 bilhões em “inconsistências” contábeis, chocando o mercado.
A Americanas não respondeu pedidos de comentários. O BTG preferiu não comentar o tema.
Entenda o caso
As ações da Americanas despencaram na bolsa de valores na quinta-feira (12), depois que a empresa publicou comunicado em que diz que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis” no balanço, em valor que chega a R$ 20 bilhões.
▶️ O que significam as inconsistências? Em outras palavras, a Americanas percebeu que o valor bilionário — que é referente aos primeiros nove meses de 2022 e anos anteriores — não havia sido registrado de forma apropriada nos balanços corporativos da empresa.
▶️ Queda na Bolsa: Ao fim do pregão, a queda exata foi de 77,33%.
Um levantamento de Einar Rivero, do TradeMap, mostra que essa foi a maior queda diária de uma empresa de capital aberto desde 2008.
Em valor de mercado, a empresa perdeu R$ 8,37 bilhões.
▶️ O que diz a Americanas? O comunicado da Americanas sobre o rombo no balanço foi divulgado na noite de quarta-feira (11).
O texto informou que o presidente da companhia, Sergio Rial, deixou o cargo apenas 9 dias depois de assumir.
O diretor financeiro da empresa, André Covre, também renunciou — ele havia tomado posse junto a Rial.
O documento divulgado pela companhia não traz muitos detalhes sobre o que de fato foi encontrado nas contas.
No entanto, o comunicado esclarece que a área contábil detectou “a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem (R$ 20 bilhões), nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta de fornecedores nas demonstrações financeiras”.
A Americanas disse que ainda não é possível determinar todos os impactos do rombo na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da companhia.
Em contrapartida, a empresa afirmou estimar que “o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”.