Assim como a camisa dez é recheada de simbolismo no futebol, graças a Pelé, a 23 tem grande representatividade para o basquete. Foi com o número às costas que Michael Jordan encantou o mundo com a bola laranja nas mãos, defendendo o Chicago Bulls, time da NBA, liga norte-americana da modalidade, nos anos 1990.
Na equipe feminina que representou São Paulo nos Jogos da Juventude, a responsabilidade de vestir a 23 foi de Isadora Dutra. É verdade que a jovem, de 17 anos, queria mesmo usar a camisa 30, do ídolo Stephen Curry, estrela da NBA. Não foi possível, mas Isadora fez jus ao uniforme que utilizou. A garota foi a protagonista do time paulista na decisão do basquete contra o Paraná, no ginásio do Sesi de Ribeirão Preto (SP), no sábado (16) à tarde. As anfitriãs ganharam por 77 a 61 e asseguraram a 107ª e última medalha do estado no evento, sendo a 45ª dourada. O detalhe é que, lá atrás, o esporte com bola que mexia com Isadora era outro.
“Sempre gostei muito de futebol, mas minha mãe não me deixou jogar. Quando tinha 9 anos, minha tia me levou ao basquete, comecei a treinar e estou até hoje. Ainda gosto de futebol, mas sou apaixonada por basquete”, contou a garota, que também é fã de Tainá Paixão, armadora da seleção brasileira e que, inclusive, já disputou os Jogos da Juventude.
Companheira de time de Isadora, Giovana Victória também foi do futebol para o basquete, onde faz valer a estatura privilegiada de 1,90 metro, tendo somente 16 anos. Muitas das cestas paulistas na final surgiram de bolas recuperadas por Giovana. O entrosamento se explica: a base da equipe de São Paulo foi formada por atletas de Itatiba (SP), vencedoras dos Jogos Abertos da Juventude do estado, em Tatuí (SP).
“A gente lutou até o final, não desistiu em nenhum momento. Viemos com isso na cabeça, de que éramos boas e poderíamos ganhar”, celebrou Giovana, que tem como referência a pivô Aline Moura, jogadora da seleção brasileira, campeã da edição deste ano da Liga de Basquete Feminino (LBF) pelo Sesi Araraquara e também de Itatiba.
Se a final feminina foi vencida pelo estado que terminou os Jogos na liderança do quadro de medalhas, a masculina – que decretou o último campeão do evento de 2023 – decidiu, também, o segundo lugar geral. Em um confronto direto entre Rio de Janeiro e Santa Catarina, os fluminenses ganharam por 76 a 58 e chegaram ao 24º ouro em Ribeirão Preto, dois a mais que os catarinenses.
Mesmo assim, a presença da equipe do Sul na decisão, por si só, rendeu uma das boas histórias dos Jogos. Foi para ver os filhos em quadra na final que as famílias de Henrique Faust e Gabriel Vignola se mobilizaram para encarar cerca de 900 quilômetros de Rio do Peixe (SC) até a sede do evento.
“A gente conversou e decidiu: se eles forem para a final, vamos juntos. Eles venceram e não íamos deixá-los na mão, era um compromisso. Foram 14 horas de viagem de carro. Seria um momento importante para eles, independentemente do resultado”, disse Vanillo Vignola, policial militar e pai de Gabriel.
“Foi uma loucura [risos]. Estava no intervalo [da semifinal] e fui arrumando as coisas, tomando banho. Quando deu o final do jogo, pegamos a estrada. Fomos até Curitiba, tenho uma irmã que mora ali. Dormimos e às seis da manhã viajamos. Deram acho que umas nove horas de Curitiba até aqui”, completou Maurina da Silva, cabelereira e mãe de Henrique.
Próxima parada
Após reunirem cerca de quatro mil atletas em 18 modalidades, durante16 dias de competição, os Jogos em Ribeirão Preto chegaram ao fim, mas os próximos já têm lugar para acontecer. Em 2024, o evento retornará a Blumenau (SC), que o sediou em 2019, última edição antes da pandemia da covid-19. A data ainda será definida.
“Temos absoluta certeza de que, cinco anos depois, temos uma rede hoteleira maior e melhor, mais instalações esportivas e melhores. Aquelas que ainda não melhoramos, sofrerão intervenção até o início dos Jogos. Os atletas que estiverem conosco, certamente, encontrarão uma estrutura digna do evento”, garantiu o coordenador do Comitê Organizador Local dos Jogos em Blumenau, Paulo Funke.
“Tivemos uma edição formidável [em Ribeirão Preto], com cinco mil pessoas, entre atletas, oficiais, técnicos e árbitros, além de novas modalidades olímpicas. A ideia é termos um evento cada vez mais robusto. Para isso, temos de voltar para casa, refletir sobre como foi, de fato, a edição de 2023 para, aí sim, decidirmos sobre a inclusão de novos esportes”, concluiu o diretor dos Jogos da Juventude e membro do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Kenji Saito.