Carla Zambelli pediu endereço de Moraes, diz defesa de hacker

Deputada federal é acusada de solicitar informações sobre integrante do STF

A deputada Carla Zambelli postou foto de encontro com Walter Delgatti — Foto: Reprodução/Twitter

No mais recente desenvolvimento das acusações envolvendo a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), surge uma revelação impactante. De acordo com informações fornecidas pelo hacker Walter Delgatti Neto, Zambelli teria solicitado sua ajuda para obter o endereço de um membro do Supremo Tribunal Federal (STF). Delgatti, preso desde agosto deste ano, alega que foi contratado por Zambelli para participar de ataques à credibilidade das urnas eletrônicas e ao sistema do Judiciário, bem como ao ministro do STF, Alexandre de Moraes. Essa alegação se encontra no cerne das investigações realizadas pela Polícia Federal e pela CPI dos Atos Golpistas, que culminaram com a aprovação do relatório final da CPI na semana passada.

A deputada Carla Zambelli, ao ser confrontada com os áudios e mensagens de voz trocadas com o hacker, alegou não se recordar do contexto da conversa, que teria ocorrido há quase um ano. Mesmo com o material em mãos, Zambelli insiste que não havia irregularidades em seu pedido. Segundo ela, a conversa se relacionava a assuntos legítimos e não ilícitos. A deputada ainda destacou que, devido à apreensão de seu celular pela Polícia Federal como parte da investigação, ela não pode confirmar o contexto da conversa.

Trecho de áudio que teria sido enviado por Carla Zambelli — Foto: GloboNews

Por outro lado, a defesa de Zambelli rejeita as acusações feitas por Delgatti, alegando que a deputada “desconhece o contexto dessa conversa divulgada.” O embate legal em torno dessas acusações promete ser acalorado e complexo, já que envolve não apenas a palavra de Zambelli e Delgatti, mas também uma série de provas e evidências a serem analisadas.

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Outro fator intrigante é a divulgação dos áudios e mensagens por parte de Delgatti. Os áudios foram encaminhados por Delgatti a um amigo seu que reside no interior de São Paulo, juntamente com mensagens atribuídas a Carla Zambelli. Os investigadores alegam que Delgatti costumava alardear seu relacionamento com políticos e pessoas famosas, o que acrescenta uma camada de complexidade a essa história.

As datas também merecem atenção, visto que os áudios foram enviados no dia 26 de novembro de 2022, três dias após o ministro do STF, Alexandre de Moraes, rejeitar uma ação que contestava a eleição e multar o PL, partido de Zambelli, e o ex-presidente Jair Bolsonaro em R$ 22,9 milhões. Essa proximidade temporal com um evento de grande importância política gera perguntas sobre o contexto e as intenções por trás do pedido de endereço.

No primeiro áudio, com duração de seis segundos, Zambelli pode ser ouvida dizendo: “Ô Walter, não aparece nenhum endereço de Brasília, né? Precisava do endereço daqui de Brasília.” O segundo áudio, de 18 segundos, apresenta a parlamentar comentando que “não, não pode ser, porque quadra é prédio, e ele deve morar numa casa no Lago Sul, alguma coisa assim. Deve ser coisa do STF. Isso provavelmente deve estar nos arquivos do STF como casa… casa tipo… funcional, entendeu?”

Veja as mensagens enviadas por Delgatti para amigo — Foto: GloboNews

O advogado de Walter Delgatti, Ariovaldo Moreira, alega que os áudios em questão tratam do endereço de Alexandre Moraes e serviriam para provar que a relação entre Zambelli e Delgatti não se limitava à administração de redes sociais, como a deputada afirmara anteriormente. Diante dessa alegação, a defesa de Delgatti planeja entregar os áudios à Polícia Federal, que já investiga a conduta do hacker.

Ouça aqui os áudios:

Além dos áudios, Delgatti também compartilhou mensagens nas quais Zambelli teria mencionado: “Já publicou? E a decisão que fizemos? Essas contas são dele mesmo? Ah, precisava do endereço dele aqui em Brasília….”. Logo em seguida, Delgatti faz menção a “Xandão”. O conteúdo e o contexto dessas mensagens permanecem obscuros e, até o momento, não é possível determinar a que se referem.

Walter Delgatti se encontra preso em decorrência da invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que resultou na emissão de uma falsa ordem de prisão contra o ministro Alexandre Moraes. A inserção desse documento falso no CNJ ocorreu em 4 de janeiro deste ano, mais de um mês após o envio dos áudios e mensagens.

Delgatti afirmou à Polícia Federal que o falso mandado de prisão foi escrito por Carla Zambelli e inserido no sistema do Judiciário por ele, após realizar correções gramaticais. A PF está em busca de provas que possam estabelecer uma conexão direta entre a deputada e o crime de invasão do CNJ, com peritos analisando o celular, disco rígido e computador apreendidos com Delgatti.

Na última quarta-feira, a CPI dos Atos Golpistas aprovou seu relatório final com um pedido de indiciamento de Zambelli. Segundo a comissão, a intenção da deputada não se limitava a questionar as urnas eletrônicas, mas a aproveitar a dúvida incutida na população sobre a lisura do pleito para viabilizar um plano golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro. As conclusões do relatório se baseiam no envolvimento de Zambelli com Delgatti, o hacker por trás das invasões e da divulgação dessas informações sensíveis.

Em nota, a defesa de Carla Zambelli reforçou sua negação das acusações, destacando que a deputada desconhece o contexto das conversas vazadas e que os elementos apresentados são, sob qualquer ótica, inválidos e ilícitos. O desdobramento deste caso continua a atrair a atenção do público e a levantar questões sobre a política e a ética no Brasil.