Para alguns, decisão pode evitar nova variante e alta de contágio; para outros, protocolos permitem realizar festas
Apesar de os totais de casos e mortes por Covid-19 estarem em queda no Brasil, cancelar a celebração do Carnaval é uma medida sensata para evitar possíveis curvas invisíveis de contágio e o surgimento de variantes do coronavírus, segundo especialistas ouvidos pela Folha. Mas há também quem defenda que manter os festejos é possível, desde que seguidos protocolos, de forma rígida, como a exibição de comprovantes de vacinação e o uso de máscaras.
Pelo menos 58 municípios do interior e do litoral paulista já anunciaram o cancelamento dos eventos públicos de Carnaval, desde localidades com menos de 5.000 habitantes, algumas das quais sem novos casos há três semanas, a cidades do porte de Sorocaba e Franca.
As cidades afirmam temer uma nova onda de Covid-19, dizem não ter recursos financeiros para investir no Carnaval e, em alguns casos, tomaram decisões regionais de suspensão na tentativa de evitar migração de foliões.
Epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana disse que suspender os festejos é a decisão mais acertada, sobretudo nos municípios menores, que têm pouca disponibilidade, ou nada, de leitos clínicos.
“Cada gestor sabe quanto pesa administrar uma epidemia. É mais do que esperado esse tipo de atitude principalmente de cidades de São Paulo. O estado é uma espécie de modelo em algumas estratégias de enfrentamento, em particular a vacinação e a restrição na circulação de pessoas”, disse.
Como a vacinação tem avançado —em São Paulo, 73,8% da população total concluiu o primeiro ciclo—, os contágios podem estar ocorrendo, conforme Orellana, sem que haja notificação, por provocarem sintomas leves ou serem assintomáticos.
“Isso faz com que a pessoa não procure o serviço de saúde, mas ela pode transmitir o vírus, estamos tendo curvas invisíveis de contágio. Até quando vai durar essa proteção ocasionada pela vacinação em massa da população é que nós não sabemos. O grande problema agora é a possibilidade de surgir uma nova mutação nessa epidemia silenciosa que estamos vendo em todos os países.”
Também epidemiologista, a docente do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia Gloria Teixeira disse que, se mantido, o Carnaval será o momento propício para aumentar a transmissão da doença.
“É uma temeridade fazer Carnaval em qualquer lugar. É só olhar o contato físico, respiratório, atrás de um trio elétrico para entender. As pessoas se beijam, se abraçam, aumenta muito o risco de transmissão”, afirmou.
Fonte: Folhapress