Carnaval cancelado por medo de Covid gera divergência entre especialistas

Para alguns, decisão pode evitar nova variante e alta de contágio; para outros, protocolos permitem realizar festas

Apesar de os totais de casos e mortes por Covid-19 estarem em queda no Brasil, cancelar a celebração do Carnaval é uma medida sensata para evitar possíveis curvas invisíveis de contágio e o surgimento de variantes do coronavírus, segundo especialistas ouvidos pela Folha. Mas há também quem defenda que manter os festejos é possível, desde que seguidos protocolos, de forma rígida, como a exibição de comprovantes de vacinação e o uso de máscaras.

Pelo menos 58 municípios do interior e do litoral paulista já anunciaram o cancelamento dos eventos públicos de Carnaval, desde localidades com menos de 5.000 habitantes, algumas das quais sem novos casos há três semanas, a cidades do porte de Sorocaba e Franca.

Foliões participam de bloco em São Luiz do Paraitinga, em São Paulo, em fevereiro de 2016 Foliões participam de bloco em São Luiz do Paraitinga, em São Paulo, em fevereiro de 2016 Foliões participam de bloco em São Luiz do Paraitinga, em São Paulo, em fevereiro de 2016 – Roosevelt Cássio -6.fev.2016/UOL

As cidades afirmam temer uma nova onda de Covid-19, dizem não ter recursos financeiros para investir no Carnaval e, em alguns casos, tomaram decisões regionais de suspensão na tentativa de evitar migração de foliões.

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Epidemiologista e pesquisador da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana disse que suspender os festejos é a decisão mais acertada, sobretudo nos municípios menores, que têm pouca disponibilidade, ou nada, de leitos clínicos.

“Cada gestor sabe quanto pesa administrar uma epidemia. É mais do que esperado esse tipo de atitude principalmente de cidades de São Paulo. O estado é uma espécie de modelo em algumas estratégias de enfrentamento, em particular a vacinação e a restrição na circulação de pessoas”, disse.

Como a vacinação tem avançado —em São Paulo, 73,8% da população total concluiu o primeiro ciclo—, os contágios podem estar ocorrendo, conforme Orellana, sem que haja notificação, por provocarem sintomas leves ou serem assintomáticos.

“Isso faz com que a pessoa não procure o serviço de saúde, mas ela pode transmitir o vírus, estamos tendo curvas invisíveis de contágio. Até quando vai durar essa proteção ocasionada pela vacinação em massa da população é que nós não sabemos. O grande problema agora é a possibilidade de surgir uma nova mutação nessa epidemia silenciosa que estamos vendo em todos os países.”

Também epidemiologista, a docente do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia Gloria Teixeira disse que, se mantido, o Carnaval será o momento propício para aumentar a transmissão da doença.

“É uma temeridade fazer Carnaval em qualquer lugar. É só olhar o contato físico, respiratório, atrás de um trio elétrico para entender. As pessoas se beijam, se abraçam, aumenta muito o risco de transmissão”, afirmou.

Fonte: Folhapress