O público ganhou mais uma chance de se despedir da sede histórica do Museu Casa do Pontal, no Recreio, zona oeste do Rio de Janeiro. A exposição “Até logo, até já”, que ia marcar o fim das atividades no local, no domingo passado (8), foi prorrogada até o dia 29 deste mês.
O sucesso de público foi surpreendente para a direção do Museu, que resolveu estender até o fim do mês a possibilidade dos visitantes verem cerca de duas mil obras do abrangente e raro acervo de arte popular brasileira do espaço cultural, composto por mais de nove mil obras de 300 artistas brasileiros. O acervo do Museu Casa do Pontal, uma referência em arte popular brasileira é o maior e mais significativo deste segmento no Brasil.
“A gente teve finais de semana com mil pessoas motivadas vendo tudo com olhos de última vez que está vendo. A gente estimulava que a visita fosse um pouco mais curta até para não ter filas. Muita gente vindo de carro de São Paulo para ver”, disse a diretora curadora do Museu do Pontal, Angela Mascelani, em entrevista à Agência Brasil.
O sentimento de despedida do prédio histórico acabou equilibrando o público entre os que estavam voltando ao local e queriam preservar na memória a imagem do Museu e os de primeira visita. “Foi bem equilibrado, muitas pessoas estavam vindo também pela primeira vez e já tinham vontade de vir mas achavam o Museu longe de onde moravam. Mas estavam juntos os que já tinham vindo. Foi uma coisa muito forte”, contou.
Entre os artistas das obras expostas estão Mestre Vitalino (1909 – 1963), Zé Caboclo (1921 – 1973), Manuel Galdino (1929 – 1996), Luiz Antonio (1935), de Pernambuco; Antônio de Oliveira (1912 – 1996), Dadinho (1931 – 2006), Maria Assunção (1940 – 2002), Noemisa Batista (1947), João Alves (1964), de Minas Gerais; Nino (1920-2002), Celestino (1952), de Juazeiro do Norte, Cariri, no Ceará; e Adalton Fernandes Lopes (1938 – 2005), de Niterói, região Metropolitana do Rio.
O percurso da exposição está dividido nos temas Profissões, Mestre Vitalino, Vida Rural, Ciclo da Vida, Circo, Arte Incomum, Religião e Ex-voto, e Escolas de Samba, distribuído nos dois andares da casa. Por onde passa, o visitante tem a sua disposição textos explicativos em português, inglês e francês, ampliações fotográficas com imagens dos artistas e de festas populares.
Mudança
O motivo para a despedida das instalações atuais no Recreio, onde o Museu Casa do Pontal funciona há 44 anos, é uma série de enchentes que o espaço cultural enfrenta há dez anos. No início deste ano não foi diferente. A nova sede, na Barra da Tijuca, deve ser inaugurada entre abril e junho do ano que vem e foi inteiramente construída para abrigar o Museu.
Na segunda-feira, depois do encerramento, a equipe da Casa do Pontal vai começar o processo de embalar as peças da exposição para a mudança de todo o acervo, para a nova sede, na Barra da Tijuca, onde estarão a salvo de inundações. “Essa é a parte nevrálgica. Foi muito difícil tomar a decisão de prorrogação porque tivemos que levar em consideração todo um trabalho, mas a gente fez um plano estratégico de desmobilização do acervo que vai dar tudo certinho”, disse a diretora.
Angela Mascelani revelou que a sede histórica ainda vai servir de reserva técnica do Museu, enquanto as peças, especialmente, as maiores e mais pesadas, não puderem seguir para as novas instalações. Por causa do primeiro turno das eleições 2020, o Museu não abrirá no próximo domingo, dia 15 de novembro.
Cuidados
Em tempo de pandemia foi montado um esquema para dar segurança sanitária aos visitantes. Não é necessário agendamento prévio, mas é obrigatório o uso de máscaras. Na entrada, a temperatura é checada e em todo o espaço há totens com álcool em gel, com controle de quantidade de visitantes na área interna.
A área externa pode ser usada por pessoas agrupadas por núcleo familiar. A equipe de funcionários usará além de máscaras o protetor de rosto (face shield). Grupos prioritários têm atendimento especial.
Casa do Pontal
O museu foi fundado em 1976 pelo artista e colecionador francês Jacques Van de Beuque (1922-2000). As peças foram reunidas a partir de pesquisas e de viagens que ele fez pelo Brasil da década de 1950 até até a de 1990. Depois disso, as novas pesquisas e aquisições foram realizadas pela diretora curadora. O acervo tem ainda coleções de outros pesquisadores e doações de apaixonados pela arte popular.
O Museu do Pontal conta com parcerias do BNDES, da mineradora VALE do Banco ITAÚ, do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e da Secretaria Especial de Cultura.