Os oito corpos foram retirados por moradores da região. Sargento da PM Leandro Rumbelsperger foi morto há dois dias na comunidade
RIO — Pelo menos dez pessoas foram mortas no último fim de semana no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Das vítimas, oito foram encontradas na manhã desta segunda-feira em numa área de mangue. Os próprios moradores fizeram a retirada dos corpos, já que a Polícia Civil só chegou ao local 15 horas após o crime.
A informação de dez mortes havia sido passada pela Polícia Militar, que ainda na tarde desta segunda-feira, informou que o número englobava os mortos de todo o fim de semana.
No ultimo sábado, o sargento da PM Leandro Rumbelsperger da Silva, de 40 anos, foi morto a tiros durante um patrulhamento na comunidade. Segundo informações da polícia, criminosos dispararam contra os militares do 7º BPM (São Gonçalo). Já na noite deste domingo, um outro suspeito morreu. Ele chegou a ser socorrido por uma equipe do SAMU, mas não resistiu.
Em entrevista ao “Bom Dia Rio”, da TV Globo, nesta manhã, o porta-voz da Polícia Militar, major Ivan Blaz, disse que havia uma ocupação do 7º BPM na região.
— Nós tínhamos uma ocupação do 7º BPM motivada para estabilizar a região após denúncias de bandidos estarem fazendo o uso de escolas, inclusive, para o tráfico. Após a morte do sargento, o Bope foi para a região. Houve vários confrontos durante o final de semana na área do mangue. Tivemos a apreensão de vários materiais usados em combate. Deduzimos que houve inúmeros feridos entre policiais e traficantes.
O defensor público geral Rodrigo Baptista Pacheco usou as redes sociais para informar que o órgão acompanha as mortes em São Gonçalo e que se encontrará com as famílias no começo da tarde.
“Equipes da Defensoria Pública e da Ouvidoria, em companhia de outras entidades (OAB, ALERJ e FAFERJ), irão hoje, às 14h, atender as famílias do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo”.
Ao GLOBO, o delegado Bruno Cleuder de Melo, titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DHNSGI) afirmou que a especializada fará a perícia no local às 9h.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa que recebeu, por meio de sua Ouvidoria Externa, ainda na noite de domingo, relatos sobre a violenta operação no Complexo do Salgueiro. A instituição informa que sua Ouvidoria comunicou o fato ao Ministério Publico, para a adoção de medidas cabíveis a fim de interromper as violações. E que o órgão também está em contato com as lideranças locais prestando orientações necessárias. Nesta segunda-feira, às 14h, representantes da ouvidoria e defensores do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) irão à comunidade, junto com outras instituições de direitos humanos, coletar informações sobre o ocorrido para as medidas, inclusive judiciais, que se fizerem necessárias em defesa dos moradores, vítimas e seus familiares.
Sinais de tortura nos corpos
Nadine Borges, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ) disse que “a Polícia Militar não informou ao Ministério Público” que estava ocupando a comunidade. Para a advogada, a instituição “descumpriu a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que permite apenas ações excepcionais durante a pandemia”. Segundo Nadine, “há relatos de tortura nos corpos”.
— Estamos desde ontem em contato com a Associação de Moradores do Complexo do Salgueiro. Há relatos de sinais de tortura nos corpos encontrados. A comissão acompanhará, junto com as outras entidades, mais uma chacina no Rio, mesmo com a proibição das operações. Eles continuam descumprindo as ordens do STF que proíbe operações policiais durante a pandemia. Ate o momento sabemos que o Ministério Público não tomou conhecimento da operação que é inadmissível e está fora da lei.
A Polícia Militar informou que, após o conhecimento de corpos localizados em área de mangue na região do Complexo do Salgueiro, a corporação dará início a uma ação no local e permanecerá na região para garantir o trabalho de perícia da Polícia Civil.
Idosa baleada
Uma idosa foi baleada no fim da manhã deste domingo no Complexo do Salgueiro. Em nota, a Polícia Militar informou que o 7º BPM foi verificar uma ocorrência envolvendo a entrada de uma pessoa ferida no Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT), em São Gonçalo. O órgão afirmou que a situação foi constatada na unidade de saúde e que não havia informações sobre as circunstâncias da ocorrência, que foi encaminhada para a 72ª DP.
A polícia disse ainda que, na tarde deste domingo, agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) atuaram no Complexo do Salgueiro, após informação de que um dos indivíduos que atacaram a equipe do 7º BPM, no último sábado, estaria ferido ainda no interior desta região. As equipes foram atacadas nas proximidades de uma área de mangue com mata, ocorrendo um intenso confronto. Na ação, foram apreendidos duas pistolas, munição calibre 9 mm, 56 munições de fuzil calibre 762, cinco carregadores (02 para fuzil e 03 para pistola), um uniforme camuflado, 813 tabletes de maconha, 3.734 sacolés de pó branco e 3.760 sacolés de material assemelhado ao crack. A ocorrência foi registrada na 72ª DP.
Segundo a corporação, por volta de 15h, uma equipe do SAMU foi acionada ao Salgueiro por conta de um indivíduo ferido e criminosos armados obrigaram a retirada deste do local. O homem foi a óbito e reconhecido por policiais do 7º BPM como um dos envolvidos no ataque criminoso à guarnição no último sábado. O caso foi registrado na 73ª DP (Neves).