Chamada pública seleciona 12 cientistas negros e indígenas para bolsas

O Instituto Serrapilheira e a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) divulgaram nesta quinta-feira (28) os nomes dos 12 pesquisadores selecionados em chamada pública exclusiva para cientistas negros e indígenas.

A iniciativa, com foco em ecologia, tem como objetivo que mais pessoas de grupos sub-representados sejam formalmente integradas à academia como professores universitários e pesquisadores. O valor total de investimento é de até R$ 14,7 milhões.

Os aprovados vão trabalhar como pós-doutorandos em grupos de pesquisa no estado do Rio de Janeiro nos quais não tenham nem se formado nem atuado antes. Ao avaliar as propostas dos candidatos, o painel de revisores levou em consideração critérios como originalidade, riscos da pesquisa e o nível de contribuição que o projeto pode trazer ao grupo que vai recebê-lo.

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As propostas de estudos investigam o crescimento de florestas em áreas de restauração e o impacto de mudanças climáticas; procuram integrar os saberes indígenas ao estudo do solo; pesquisam a relação do impacto da atuação humana na Amazônia com a biodiversidade e a presença de fungos patogênicos; analisam como o aumento de minerais e nutrientes afetam os ecossistemas marinhos; os efeitos da expansão urbana em praias, entre outros.

Cada aprovado vai receber uma bolsa mensal de R$ 8 mil, além de até R$ 800 mil para o financiamento da pesquisa durante 3 anos, renováveis por mais 2 anos. Desse valor, R$ 700 mil serão disponibilizados pela Faperj e R$ 100 mil pelo Instituto Serrapilheira. Parte desses recursos deverá ser usada na formação de pessoas de grupos sub-representados na equipe.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que cerca de 57% da população brasileira se classifica como preta, parda ou indígena. Apesar de majoritária, essa parcela da população ainda é sub-representada na carreira científica.

“Nesta chamada, nos propusemos a selecionar oito cientistas negros ou indígenas, com doutorado em ecologia, que praticassem uma ciência de excelência. Selecionamos 12, e outros tantos ficaram de fora”, disse, em nota, Cristina Caldas, diretora de Ciência do Serrapilheira.

“Mostramos que, se não mudarmos a forma de seleção, cientistas negros e indígenas de excelência seguirão sendo excluídos do fazer científico, e todos os candidatos continuarão parecidos. Os postos acabam ocupados por quem estudou na escola certa, mora no bairro certo, frequenta as rodas certas, e qualquer desvio desse caminho é penalizado”.

A chamada também buscou promover a mobilidade entre os cientistas. Dos selecionados, três são da Região Nordeste, sete do Sudeste, um do Sul e um da Nigéria. O grupo é formado por seis homens e seis mulheres, sendo que 11 se autodeclararam como negros e um como indígena.

O presidente da Faperj, Jerson Lima Silva, disse que apoiar uma política científica que realmente faça a diferença, olhando para questões de gênero e raciais e com oportunidades iguais para todos, é o que tem mobilizado a instituição.

“Pensar em editais fora do escopo tradicional da agência e observar uma adesão muito maior do que qualquer expectativa inicial nos mostra que não podemos jamais, daqui para frente, esquecer do maior grupo populacional do Brasil – as pessoas negras – e dos indígenas. A ciência também é feita com eles”.