Em Raposos, mais da metade da população foi afetada pelas inundações
As chuvas que atingem Minas Gerais neste início de ano resultaram em mortes, destruição e transtornos no estado. Rios inundaram, moradores deixaram suas casas devido a alagamentos ou ao risco de rompimento de barragens, e a circulação de veículos em rodovias foi afetada em mais de cem pontos. Vale, CSN e Usiminas paralisaram suas operações.
Com as tempestades, 145 municípios estão em situação de emergência.
Neste mês, a maior concentração de chuva foi registrada na região metropolitana de Belo Horizonte e nas regiões central e oeste de Minas. Em dezembro, as fortes chuvas causaram estragos no vale do Jequitinhonha e na região norte do estado, bem como no sul da Bahia.
Ao todo, desde outubro do ano passado, as chuvas provocaram nove mortes no estado —os óbitos decorrentes da tragédia em Capitólio não serão considerados nesse balanço até o fim das investigações. Além disso, 13.734 pessoas tiveram que deixar suas casas temporariamente e 3.409 ficaram desabrigadas.
Em Belo Horizonte, uma mulher de 42 anos morreu na manhã deste domingo (9) soterrada após o desabamento de sua casa, segundo a Defesa Civil.
Na cidade de Dores de Guanhães, a 200 km da capital, uma pessoa morreu no início da noite de domingo em decorrência de um deslizamento e ainda há pessoas soterradas.
De acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), durante o fim de semana e até a manhã de segunda (10), choveu de forma contínua em grande parte do estado. A região metropolitana de Belo Horizonte e as regiões central e oeste de Minas foram as mais atingidas.
Na capital mineira, entre sexta (7) e esta segunda (10), foi registrado um volume de 381,6 milímetros de chuva, segundo o instituto. Entre sábado e domingo, o número chegou a mais de 200 milímetros em 24 horas.
As chuvas devem continuar com alto volume neste início de semana, principalmente nas regiões central, leste e zona da mata. A expectativa é de que a partir de quarta (12) haja uma redução no estado.
No período de chuvas entre 2020 e 2021, o número de municípios que decretaram situação de emergência ou calamidade pública em Minas foi de 58. Já no período anterior, na virada de 2019 para 2020, houve 256.
Em entrevista na tarde desta segunda (10), o governador Romeu Zema (Novo) disse que o governo federal disponibilizou R$ 47 milhões para as cidades afetadas pelas chuvas. O governo estadual solicitou aos prefeitos dos municípios atingidos e à Defesa Civil que levantem dados sobre os impactos.
Segundo o governador, a prioridade do estado é a ajuda humanitária para as pessoas que estão sofrendo atualmente com as enchentes.
O Governo de Minas também afirmou que destinou R$ 1,2 milhão para a compra de cestas básicas emergenciais para os atingidos. “Essas cestas estão sendo adquiridas e entregues paulatinamente, em virtude do aumento de demanda nas operações logísticas de final de ano”, afirma o governo.
Além disso, R$ 9,9 milhões foram liberados pelo governo federal para aquisição de itens básicos para ajuda humanitária emergencial, como kits de higiene, limpeza e colchões.
Em Raposos, na região metropolitana de Belo Horizonte, a prefeitura diz que o Rio da Velhas subiu cerca de nove metros. A maior parte da cidade foi afetada com as inundações, mesmo áreas mais altas, que não eram atingidas por enchentes anteriores.
Mais da metade da população de Raposos foi diretamente afetada pelas inundações. Ao menos mil casas foram inundadas De acordo com a prefeitura, 2.000 pessoas estão desabrigadas e cerca de 9.000, desalojadas. A cidade possui cerca de 16 mil habitantes.
Na manhã desta segunda, a chuva diminuiu na cidade. Mas voltou a chover durante a tarde. A avaliação total dos danos causados ainda depende de uma redução maior do nível do rio.
A chuva também fez com que o rio Piracicaba inundasse neste domingo (9), alagando a cidade de Nova Era, a 140 km de Belo Horizonte. Por causa da força da água, uma ponte não resistiu e acabou se rompendo.
No sábado (8), o Corpo de Bombeiros confirmou o transbordamento de uma pequena estrutura ligada a uma barragem em Nova Lima, na região de Belo Horizonte. Por causa da força da água, uma ponte não resistiu e acabou se rompendo.
A mina Pau Branco, da francesa Vallourec, em Nova Lima (MG), foi interditada após o transbordamento de um dique, segundo informações da agência Reuters. Com isso, Vale, CSN e Usiminas paralisaram suas operações.
Barragens
Com as fortes chuvas, as cidades de Pará de Minas e Nova Lima precisaram evacuar moradores em razão do risco do rompimento de barragens.
Segundo a Defesa Civil, no sábado (8), Nova Lima registrou o transbordamento do Dique Lisa, da Mina Pau Branco. O incidente levou muita gente a pensar que uma barragem da Vallourec havia se rompido, algo que a Defesa Civil diz não ter ocorrido.
A cidade de Nova Lima também foi afetada pela cheia do rio das Velhas. Cerca de 600 casas foram invadidas pela água. Os bairros de Honório Bicalho e Santa Rita foram os mais atingidos. Segundo a prefeitura, cerca de 4.000 pessoas ficaram desalojadas nessas duas localidades.
A Prefeitura de Pará de Minas pediu a parte dos moradores que saíssem de casa, porque a barragem da usina Carioca apresenta grande risco de se romper.
Em nota, a prefeitura diz que o distrito de Carioca, onde está localizada a barragem, foi um dos mais afetados pelas chuvas. “O grande volume de água fez a represa da usina transbordar e, por consequência, o duto principal da barragem fraturou e nas laterais averiguou-se erosão.”
Na tarde desta segunda, a Defesa Civil finalizou a retirada das famílias das duas áreas e segue monitorando os demais pontos onde há ocorrências ou riscos de deslizamentos de terra ou inundações.
Estradas
A rodovia MG-030, que liga Nova Lima a Belo Horizonte, apresenta pontos de deslizamento de encostas. Alguns trechos da estrada precisaram ser interditados parcialmente.
Ao todo, as chuvas afetaram a circulação de veículos em mais de cem pontos nas rodovias que cruzam o estado, segundo a Polícia Rodoviária Estadual.
A corporação afirmou nesta segunda (10) que o risco de inundações, quedas de barreiras e deslizamentos é muito alto e que, por isso, as pessoas deveriam evitar as estradas mineiras.
No domingo, a estrutura de um prédio no bairro Buritis, na região oeste de Belo Horizonte, começou a ceder, neste domingo (9). Em nota, a prefeitura informou que não há vítimas e, por questões de segurança, a Defesa Civil orientou os moradores a deixarem o local para uma vistoria de risco.
“Belo Horizonte registra um volume de chuva significativo o que potencializa ocorrências de risco geológico em toda cidade”, afirmou a prefeitura, em nota.
Na manhã deste domingo, a queda de parte de um cânion sobre lanchas que passeavam pelo lago de Furnas, em Capitólio, deixou ao menos dez mortos.
Para especialistas, o desabamento pode ser explicado por uma combinação entre as características naturais das rochas no local e a ação da água e do vento.
Fonte: Folhapress