O basquete e o rugby em cadeira de rodas são os únicos esportes paralímpicos em que o Brasil não estará representado nos Jogos de Tóquio (Japão). No basquete, a classificação dependia da campanha nos Jogos Parapan-Americanos de Lima (Peru) em 2019. A seleção masculina, que precisava ficar entre as três primeiras, foi eliminada nas quartas de final pela Colômbia. A feminina, que tinha de chegar à final, caiu uma fase antes para o campeão Canadá – apesar de ficar sem a vaga paralímpica, as brasileiras garantiram a medalha de bronze.
Com isso, as atenções da modalidade da bola laranja no país estão voltadas aos Jogos de 2024, em Paris (França) – agora sob nova direção. No último sábado (30), o fluminense Mário José da Silva Belo, de 43 anos, foi eleito presidente da Confederação Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas (CBBC) pelos próximos quatro anos. Envolvido com o esporte desde 1996, quando o conheceu na antiga Associação Capixaba de Pessoas com Deficiência (ACPD), em Vitória, Belo se aposentou das quadras ao se candidatar para assumir a entidade nacional. Além da equipe do Espírito Santo, também atuou por outros quatro clubes. O último deles a Associação Carioca dos Deficientes (Acadef-RJ).
Em entrevista à Agência Brasil, o ex-jogador (que teve poliomielite aos três anos) definiu a criação de mais campeonatos, regionais e nacionais, e a atenção às seleções de base como foco do trabalho da confederação durante o mandato. “Acredito que com seriedade, responsabilidade, mesclando a experiência com os jovens atletas que pedem passagem, estaremos, sim, marcando presença [com as seleções do Brasil] na Paralimpíada de Paris”, afirmou.
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista.
Brasil fora de Tóquio
“Poderia elencar vários fatores, mas gostaria de destacar dois. Primeiro, houve um crescimento técnico de outras seleções. Estados Unidos e Canadá, que já eram fortes, fizeram grandes trabalhos. Para exemplificar a dificuldade que foi o Parapan, é só ver que a [seleção masculina da] Argentina, que fez um belo Mundial [chegou às quartas de final em 2018, na Alemanha], também não conseguiu vaga e o Brasil perdeu [nas quartas de final em Lima] em um jogo muito parelho. Mas há outro fator: falta de um melhor trato com as divisões de base. Hoje, temos uma seleção forte, apesar de não termos conseguido vaga mas a realidade mostra que não conseguimos aproveitar, por exemplo, a geração que esteve no último Mundial sub-23, em 2017. De lá para cá, poucos atletas ou quase nenhum tiveram oportunidade de estar em treinamento com as seleções principais. Acho que agora é virar a página e focar no trabalho de renovação”.
Novos torneios
“A importância maior é descobrir novos talentos, manter as pessoas motivadas, querendo fazer o basquete em cadeira de rodas. A realidade é que, hoje, muitas entidades, equipes e atletas e preparam para uma só competição, que é o Campeonato Brasileiro. Durante o resto do ano, pouco se faz e isso gera um cenário que nos leva a um caminho que é contrário ao descobrimento de novos talentos”.
Massificar o basquete
“Gosto de recordar um pouco o tempo em que pegávamos as pessoas pelo braço na rua e convidávamos para irem às quadras, para elas iniciarem no basquete. O que eu vejo é que precisamos colocar os clubes em atividade. Eles têm dificuldade para realizar atividade. É um processo de aproximação [com os clubes], de motivação. Eles têm de estar motivados. Temos 48 clubes [filiados à CBBC] e nossa meta é chegar a 100. Se conseguirmos, acredito que novos atletas surgirão naturalmente.
Paralimpíada Escolar
“Em relação às crianças, a Paralimpíada Escolar [evento voltado a jovens com deficiência em idade escolar] é realizada pelo CPB [Comitê Paralímpico Brasileiro] com pouca participação ativa da CBBC. Aumentar a participação da confederação [no evento] vai nos trazer um ganho, especialmente nesse momento da vida do atleta. Vamos, sim, conversar com o presidente Mizael [Conrado, do CPB] e estreitar os laços para que possamos estar cada vez mais presentes nesse momento, que é tão bacana para a criança”.
Classificação funcional
Obs.: a presença do basquete em cadeira de rodas em Paris está ameaçada devido a um desacordo entre os critérios de classificação funcional (que determina o grau da deficiência) estabelecidos pela da Federação Internacional de Basquete em Cadeira de Rodas (IWBF, sigla em inglês) e os do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês). O Comitê entende que a federação dá abertura para atletas cujo comprometimento não necessariamente os enquadra no movimento paralímpico. A IWBF tem até 31 de agosto deste ano para se adequar ao código do IPC. O assunto foi pauta na Agência Brasil em fevereiro e agosto do ano passado.
“Claro que é uma situação que nos preocupa. Não gostaria de me aprofundar, [de dizer] se está certo ou errado, mas vejo que temos que ter cuidado. Vamos, claro, estruturar nosso departamento de classificação funcional para nos anteciparmos a essa questão. As regras não existem para serem discutidas, e sim para serem cumpridas. Vamos trabalhar para o Brasil estar dentro das condições”.