Depois de estrear com sucesso no ano passado nas capitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a Orquestra Ouro Preto (OOP) começa hoje (23) uma turnê nacional de Auto da Compadecida, a ópera, montagem para o texto de Ariano Suassuna. A primeira apresentação será em na capital paraense, Belém, passando em seguida por Belo Horizonte, Manaus e Rio de Janeiro.
Escrito por Suassuna em 1955, o texto é considerado uma obra-prima pelo professor de Literatura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Luiz Ricardo Leitão. “Primeiro, porque ele sabe conjugar toda a herança ibérica com os elementos nativos, até de outras matrizes religiosas. O tema e a linguagem de que ele se vale recolhem a influência ibérica mas, ao mesmo tempo, trabalham como ela foi processada aqui, que é o cordel, a fabulação do artista popular nordestino. Esse é o primeiro mérito dele, que vai reunir o popular e a tradição ibérica na mesma obra”, disse Leitão à Agência Brasil.
A obra se destaca também, segundo o professor da Uerj, por desenvolver características caricatas e criativas de personagens que, não obstante sua parca condição social, caso dos personagens principais Chicó e João Grilo, fazem contraponto com o poder da Igreja, representado pelo bispo e pelo padre da cidade, além da figura do coronel.
“Temos ainda essas representações sendo ludibriadas, dribladas pela astúcia do personagem aparentemente simplório, mas que sabe dar a volta nas figuras hegemônicas dos poderes da cidade. Isso é muito interessante.”
Na avaliação do professor Luiz Ricardo Leitão, o texto retrata a astúcia para sobreviver à desigualdade e à opressão, seja de que tipo for. Além desses aspectos, a obra traz a comédia de erros, que é uma tradição do teatro de costumes brasileiro que vem desde o século 19 e sobre o qual Ariano Suassuna trabalhou.
Autor
Ariano Vilar Suassuna nasceu em João Pessoa, em de 16 de junho de 1927 e morreu em Recife, no dia 23 de julho de 2014. Foi um intelectual, escritor, teórico da arte, dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, artista plástico, professor, advogado e palestrante brasileiro.
Idealizador do Movimento Armorial e autor de obras como Auto da Compadecida (1955) e Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), Suassuna foi um incansável defensor da cultura do Nordeste do Brasil e um dos maiores expoentes da literatura brasileira.
Em 2012, foi indicado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal como representante do Brasil na disputa pelo Prêmio Nobel de Literatura.
Turnê
A turnê do Auto da Compadecida, a ópera começa hoje, no Theatro da Paz, em Belém (PA). Amanhã (24) haverá uma segunda apresentação no mesmo local. Os ingressos já estão esgotados para as apresentações na capital paraense.
A ópera tem música original do compositor Tim Rescala, que assina o libreto com o maestro Rodrigo Toffolo, também responsável pela concepção e direção musical do espetáculo. Para o maestro, o desafio de adaptar o texto de Suassuna, que já teve inúmeras montagens no teatro, foi quase um presente.
“Foi uma felicidade muito grande a gente ter tido essa oportunidade. Foi um aprendizado poder trabalhar e adaptar o texto para ópera, para dar uma vida, uma energia diferente para uma obra brasileira e tão nossa”.
Esta é a segunda temporada da ópera, que vai em seguida para Belo Horizonte, nos dias 13 e 14 de junho, com apresentações no Palácio das Artes e ingressos a preços de R$ 40 e R$ 80. Em seguida, o espetáculo chega ao Teatro Amazonas, em Manaus, nos dias 24 e 25 de junho, com ingressos entre R$ 25 e R$ 80.
A turnê termina no Rio de Janeiro, no dia 15 de julho, com uma super montagem gratuita no Posto 2 da Praia de Copacabana, zona sul da capital fluminense, às 17h30.
Orquestra
No ano de 2000, o músico Rufo Herrera e o produtor Ronaldo Toffolo, associados a um grupo de instrumentistas que integravam o grupo Trilos e o Quarteto Ouro Preto, criaram a Orquestra Experimental da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), hoje Orquestra Ouro Preto. O diretor artístico e regente titular é o maestro Rodrigo Toffolo.
A atuação da OOP é marcada pelo experimentalismo e ineditismo. O grupo já se apresentou nas principais capitais do país e no exterior, com presença de grande público em apresentações na Inglaterra, Portugal, Espanha, Argentina e Bolívia.