A Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro não vai repetir, com a vacina da Pfizer, pelo menos no momento, a autorização para que os municípios diminuam de 12 para 8 semanas o período de intervalo entre as duas doses. Segundo o secretário Alexandre Chieppe, o assunto não chegou nem a ser discutido na pasta até agora. Chieppe disse que a decisão de antecipar a segunda dose da AstraZeneca levou em consideração o risco de disseminação da variante delta, também conhecida como indiana.
Tal variante vem causando novas ondas de transmissão na Europa e tem característica de menor letalidade, mas com um número significativo de casos, informou o secretário. “Com a entrada da variante delta, não teria sentido ficar esperando dois ou três meses, agora, com vacinas guardadas podendo imunizar efetivamente as pessoas, diminuindo o risco de disseminação da variante. Com a Pfizer não tem esse cenário no momento, e ainda não se fez essa discussão.”
Chieppe destacou que a decisão de antecipar a segunda dose da AstraZeneca foi tomada em conjunto com o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), e que caberá a cada município decidir sobre a autorização. “Não foi uma decisão monocrática da Secretaria de Estado de Saúde.” Foi uma decisão tomada da mesma forma que a da intercambialidade para gestantes, que era a aplicação da vacina da Pfizer como D2 [segunda dose] nas gestantes que haviam tomado AstraZeneca e não podiam tomar a D2 da AstraZeneca, disse o secretário.
Um dos motivos para a decisão foi a quantidade de doses do imunizante armazenadas à disposição dos municípios. O governador Cláudio Castro destacou a preocupação com a possibilidade de perda de vacinas e disse que existem estudos garantindo não haver prejuízo para quem tomou a AstraZeneca em diminuir de 12 para oito semanas o intervalo para aplicação da segunda dose.
De acordo com o secretário, não houve mudança nas regras de vacinação. “Fizemos uma antecipação de semanas do que está previsto na instrução de uso do fabricante. Alguns estados já tomaram essa decisão. No Ministério da Saúde, a discussão pode, ou não, ser ampliada para todo o país. Não houve descumprimento de nenhuma regra do Programa Nacional de Imunização, não foi incluído nenhum grupo novo, não foi mudada nenhuma característica do processo de vacinação. Tudo foi feito com base técnica e científica e com base também no que o fabricante preconiza”, afirmou.
“Em português mais claro, como a gente não mudou a regra, não precisou pedir autorização nenhuma”, acrescentou o governador, explicando que não foi necessário consultar o Ministério da Saúde.
Castro apelou à população para que se vacine sem escolher o imunizante. “Continuamos na total crença de que a vacina é a nossa esperança da retomada total, de vencermos a covid, e pedindo à população que não faça escolha por vacina X, Y ou Z. Qualquer vacina é importante. Neste momento, o que precisamos é ter a população vacinada.” O governador pediu também que quem já recebeu a primeira dose procure tomar a segunda na data programada. Ele infomrou que o estado pretende fazer campanhas publicitárias para incentivar as pessoas a completarem a imunização com as duas doses.
Alexandre Chieppe explicou que, como a antecipação é autorizativa, os municípios podem marcar agora a vacinação para dentro de dois meses, como também, se houver condição, fazer a antecipação das pessoas que já estão agendadas. “É possível, de acordo com a estrutura de cada município, fazer essa antecipação. Tomar essa decisão cabe a cada secretaria municipal de Saúde.”
Capital
A cidade do Rio de Janeiro decidiu manter o período de 12 semanas entre as doses da AstraZeneca. Conforme o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, estudos comprovam que, com esse prazo, a eficácia do imunizante é de 80% e que, com oito semanas, cai para 59%. O secretário estadual, Alexandre Chieppe, disse que não sabe quais estudos estão sendo levados em conta pelo município, mas garantiu que o estado considerou análises segundo as quais, mesmo com pequena diferença de eficácia, há outros ganhos que compensam.
“Eu não sei em que estudos o secretário do município se embasou, mas o que se tem hoje de mais recente é uma diminuição de eficácia de 9%, mas com intervalo de confiança muito amplo, o que coloca tecnicamente empatada, em termos de eficácia, a utilização como D2 [segunda dose] em oito semanas ou 12 semanas. Já conhecíamos essa diferença que, do ponto de vista estatístico, não é significativa. Por outro lado, temos outros ganhos com a antecipação de D2. Por conta disso, é que a decisão foi tomada. Os recentes estudos, inclusive do fabricante, estão disponíveis na internet”, completou Chieppe.
O governador enfatizou que, como a decisão do Cosems é autorizativa, cada município pode decidir. “Se o Rio de Janeiro não quiser, o secretário tem a liberdade de não seguir a orientação. Tecnicamente, se ele achar, pode seguir como ele vem seguindo. É autorizativo.”
Castro informou que o total de casos confirmados de covid-19 no estado está em 982.609 que os óbitos somam 56. 848. A taxa de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) está em 57% e a de leitos de enfermaria, em 33%. O tempo de espera por leito, tanto em enfermarias como em UTI, está zerado. Além disso, o estado, hoje, está em bandeira amarela, o que significa risco baixo de contágio para covid-19.
Foram aplicadas 6,4 milhões de vacinas em primeira dose, quase 60% do público-alvo, e 2,3 milhões em segunda dose.
Disparidade
Sobre a disparidade de calendários entre as cidades, Claudio Castro disse que isso, em parte, pode ser por causa do número de habitantes de cada uma, que hoje é diferente dos do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é levado em conta no Programa Nacional de Imunizações (PNI) para a distribuição de doses.
“Esse censo, em algumas cidades, está bastante desatualizado. A gente segue a regra do PNI mas há consciência de que algumas cidades acabam padecendo pela questão do censo já não traduzir a população atual. Isso pode dar alguma diferença”, observou o governador. Ele destacou ainda que pode haver impacto de pessoas acabarem se imunizando em municípios diferentes daqueles em que moram, por questão de deslocamento para o trabalho.
“É um cruzamento que eu cobrei da secretaria e já estão fazendo para a gente entender o número oficial nas cidades exportadoras de mão de obra. Em São Gonçalo, por exemplo, há uma grande possibilidade de terem tomado a vacina em Niterói ou no Rio de Janeiro”.
Além disso, segundo ele, existe o efeito das pessoas que se recusam a tomar a vacina, o que também influencia os números do município, como também das pessoas que escolhem vacinas e das que não voltam para a segunda dose.
Para o governador, quando houver a conclusão da primeira etapa da vacinação contra a covid-19 vai ser possível ter um painel mais próximo da realidade atual. “Quando a gente fizer a repescagem vai dar uma primeira arrumada grande e, nesse cruzamento, vai dar outra arrumada. Acredito que, entre 30 ou 40 dias, tenhamos números mais fidedignos.”