No Brasil, tecnologia de foguetes é usada em órteses e próteses

Já imaginou uma substância em pó metálico que, submetida a alta energia, transforma-se em uma liga superpoderosa? Parece até coisa de ficção científica, mas estou falando de uma mistura que existe no mundo real: a de titânio, alumínio e vanádio. Estas três substâncias juntas formam um material protagonista na fabricação de órteses e próteses para pessoas com deficiência no país.

As descobertas aplicadas na indústria aeroespacial foram ponto de partida para as pesquisas sobre tecnologia assistiva. Este ramo da tecnologia trata de todos os recursos e equipamentos que podem ser usados para facilitar a acessibilidade e melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência. Localizado em Campinas, o Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer é referência no país no desenvolvimento destes recursos. O pesquisador do centro, Pedro Noritomi, explica que a “superliga” que pode auxiliar na locomoção de pessoas com deficiência é a mesma usada em foguetes e aeronaves.

“A liga que a gente utiliza aqui, de titânio, alumínio e vanádio, foi desenvolvida na década de 60, durante a corrida espacial. É muito empregada na parte estrutural tanto de foguetes quanto de aeronaves, principalmente as de combate, as mais avançadas no desenvolvimento, especialmente nos países do Ocidente. Foi desenvolvida no projeto Black Bird, que deu origem ao caça-espião que foi o mais rápido do mundo durante um longo período, de 1970 até a década de 1990. Posteriormente, esta liga foi identificada como biocompatível, e o uso deste material foi ampliado. Em conjunto com o alumínio, esta liga constitui a maior parte de estruturas tanto de aeronaves, como de foguetes de exploração espacial”, diz.

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Noritomi explica como este método tão específico pode ser aplicado, na prática, às questões de saúde pública. “Tivemos um caso expoente para este tipo de tecnologia: a fabricação de um soquete para coto de um amputado, que perdeu a perna abaixo da linha de joelho. O soquete é o encaixe entre o coto e o dispositivo protético, que vai permitir o movimento da perna. Utilizamos tecnologia aeroespacial principalmente na digitalização e, a partir daí, foi desenvolvido, em simulação computacional, este soquete personalizado e muito preciso. Por fim, ele foi materializado em impressão 3D”. Segundo Noritomi, o paciente, no âmbito da pesquisa, fez o teste para comprovar e aprovar a viabilidade do soquete e da aplicação desta tecnologia.

O pesquisador explica que as demandas chegam ao CTI normalmente via fisioterapeutas ou profissionais de saúde em contato direto com o paciente. A partir de então, são conduzidos estudos que possam ser repercutir no que é aplicado e preconizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

No momento em que todos os olhos estão voltados para os Jogos Paralímpicos e para os resultados dos brasileiros, o Brasil se debruça sobre novas tecnologias voltadas para as pessoas com deficiência. Só em 2020, foram aprovados pela Finep (empresa pública ligada ao Ministério de Ciências, Tecnologia e Inovações que financia pesquisa e inovação no país) R$ 55 milhões e 35 projetos relacionados à tecnologia assistiva. Segundo a entidade, os projetos podem ser executados em até três anos. 

Saiba mais sobre o assunto no episódio do programa Ciência é Tudo, da TV Brasil: