“Vacinação não é bala de prata”, diz especialista da OMS

À DW, cientista-chefe da OMS afirma que fim da pandemia só é possível se países ricos abandonarem a ganância e compartilharem vacinas e tratamentos. Outras medidas de prevenção ao vírus tampouco podem ser abolidas.

Campanhas de vacinação isoladas não são suficientes para acabar com a pandemia de covid-19, alertou neste domingo (24/10) a médica Soumya Swaminathan, cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), em entrevista à DW.

A especialista fez um apelo por uma distribuição mundial mais igualitária de vacinas contra a covid-19, bem como pelo compartilhamento com países mais pobres de outras ferramentas capazes de conter a disseminação do coronavírus e sua contínua mutação.

“A vacinação é apenas uma ferramenta. Não é uma bala de prata”, afirmou Swaminathan à DW. “As vacinas são muito eficazes em proteger contra [o desenvolvimento de uma] doença grave, mas não são 100% eficazes contra a infecção.”

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Embora infecções severas sejam raras entre os imunizados contra a covid-19, estar com o esquema vacinal completo não significa que o indivíduo não pode continuar transmitindo o vírus a outra pessoa com maior risco de contrair a doença.

“Você vê países hoje com altas taxas de vacinação e ainda apresentando taxas crescentes de infecção”, diz a especialista da OMS. “E quanto mais altas as taxas de transmissão, o perigo é estar gerando novas variantes, que vão voltar e infectar essas pessoas, mesmo que estejam vacinadas.”

Segundo Swaminathan, “há realmente um forte argumento científico a ser feito para continuar a usar outras medidas [de prevenção] até que todos ao redor do mundo estejam protegidos”.

Pandemia não terá fim sem igualdade de vacinas

A cientista-chefe da OMS, que é também especialista em HIV e tuberculose, afirma que o coronavírus agravou ainda mais a desigualdade global e gerou o que ela chamou de “pandemia de duas vias”.

Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS
Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMSFoto: WHO/dpa/picture alliance

“Há uma parte do mundo onde grandes proporções da população estão vacinadas. A vida parece estar voltando ao normal”, diz. “Infelizmente, metade do mundo ainda não tem acesso às vacinas. Menos de 2% da população do continente africano está totalmente vacinada, e a vida está longe de ser normal para eles.”

A única maneira de acabar de vez com a pandemia, afirma Swaminathan, é se os países ricos demonstrarem mais solidariedade.

“Vai durar mais tempo, a não ser que o mundo decida se unir em solidariedade e compartilhar as ferramentas, as vacinas, os diagnósticos, os tratamentos que temos hoje, para que possamos parar as mortes”, defende. “Ainda há mais de 40.000-45.000 pessoas morrendo todas as semanas no mundo devido à covid-19, e isso precisa acabar.”

Preparando-se para a próxima pandemia

Swaminathan ainda apelou à comunidade internacional para que invista em preparar o mundo para uma futura pandemia, a fim de evitar consequências devastadoras como as que o planeta testemunhou nos últimos 20 meses.

“O mundo mais uma vez precisa pensar sobre a preparação para uma pandemia”, diz ela, e tentar responder a uma série de questões: “Como realmente nos preparamos para evitar a próxima pandemia? E se isso não for completamente possível, como podemos detectá-la com antecedência? Como respondemos a ela?”

Segundo a especialista, planos de prevenção exigiriam financiamento e precisariam ser pensados globalmente de forma a permitir que os dados sejam compartilhados mundo afora.

O atual estado da pandemia

As falas de Swaminathan vêm num momento em que algumas nações, como Canadá, China, Dinamarca e Portugal, têm 75% ou mais de sua população totalmente vacinada. Enquanto isso, países como Nigéria, Etiópia, Síria e Afeganistão não vacinaram nem 5%.

Segundo contagem realizada pelo site Our World in Data, 48,5% da população mundial recebeu ao menos uma dose da vacina contra a covid-19, enquanto 37,08% estão com o esquema vacinal completo. Entre os países de baixa renda, por outro lado, apenas 3% dos habitantes tomaram pelo menos uma dose.

Desde o surgimento da altamente contagiosa variante delta, a OMS não classificou nenhuma nova cepa como sendo de “preocupação especial”. Contudo, a chamada variante delta plus vem preocupando médicos em Israel e no Japão.

Vários países ricos com taxas de vacinação relativamente altas já abandonaram a maioria das restrições relacionadas à pandemia – em alguns casos, apesar do aumento no número de infecções. É o caso do Reino Unido, que aboliu o uso obrigatório de máscaras em espaços públicos.

Fonte: Deutch Welle