CPI: ‘Fomos usados de maneira ardilosa’, diz reverendo que negociou vacinas em nome do governo

Amilton Gomes é peça-chave para explicar uso de intermediários pelo Ministério da Saúde.

O reverendo Amilton Gomes de Paula, fundador de uma entidade privada chamada Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), disse nesta terça-feira (3), em seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado que acredita que foi “usado de maneira ardilosa”.

Amilton Gomes teria negociado, em nome do governo federal, a venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca com a empresa Davati Medical Supply. O depoimento do reverendo estava previsto inicialmente para o dia 14 de julho, no entanto, ele apresentou um atestado médico solicitando o adiamento da oitiva que foi remarcada para esta terça-feira (3).

“Hoje, com a série de eventos divulgados, entendemos que fomos usados de maneira ardilosa para fins espúrios e que desconhecemos. Vimos um trabalho de mais de 22 anos de uma ONG, entidade séria, voltada para ações humanitárias, educacionais, jogado na lama, trazendo prejuízo na sua credibilidade e atingindo seus integrantes nas relações profissionais e familiares”, disse o reverendo.

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Uma decisão do ministro Luiz Fux do Supremo Tribunal Federal (STF) permite ao reverendo não responder perguntas que podem o incriminar, mas terá de dizer a verdade sobre fatos dos quais foi testemunha.

Negociação

Em seu depoimento, o reverendo disse que “não estava negociando vacinas”, mas, sim “indicando alguém que teria essas vacinas”.

“Na verdade, eu não estava negociando vacinas. Eu estava ali indicando alguém que teria essas vacinas”, afirmou.

Amilton de Paula é fundador da Senah, organização evangélica que desenvolve projetos de ação sociocultural no Distrito Federal e em cidades do entorno.

Em seu depoimento, Amilton Gomes relatou que participou de uma reunião no dia 12 de março com com Luiz Paulo Dominguetti e Cristiano Carvalho, que seriam representantes da empresa Davati Medical Supply, servidores do Ministério da Saúde e o então secretário executivo da pasta, Elcio Franco.

“Nessa reunião, que teve a participação do Reverendo Amilton, do Sr. Dominguetti Pereira, do Cristiano Carvalho, dos servidores, dos Srs. Pires e Max, do Dr. Helcio Bruno e do Secretário Executivo, foi extremamente objetivo, afirmando que ele [secretário executivo] conversara diretamente com o laboratório e que eles afirmavam não ter vacina em grande quantidade disponível. Com isso, o secretário reafirmava que precisava de um documento deles, a AstraZeneca, corroborando que a Davati possuía de fato as vacinas mencionadas”, disse Amilton Gomes.

O reverendo afirmou ainda que a Senah “pensou seriamente” em encerrar sua participação devido a “inexistência de documentação pertinente”, no entanto, foram apresentadas novas informações e eles acreditaram “de fato existiam as vacinas para pronta entrega”.

“Diante de tal assertiva das informações trazidas pelo Secretário da inexistência de documentação pertinente por parte da empresa Davati, a Senah pensou seriamente em encerrar a sua participação nesse episódio de apresentação de vacinas para o Ministério da Saúde. Entretanto, diante de novas informações trazidas pelos representantes da Davati, aliado à diminuição de preços, acreditamos que de fato existiam as vacinas para pronta entrega”, disse o reverendo.

Fonte: G1