O destaque da população negra na sociedade em uma conexão entre a ancestralidade e atualidade é o foco da mostra Exposições Itinerantes – A Cultura e Suas Peculiaridades, do artista mineiro Eduardo Carvalho, que será aberta nesta sexta-feira (18) no Centro Cultural Calouste Gulbenkian, no Rio de Janeiro. A intenção é transportar o visitante para um universo de expressões culturais e mostrar a influência da ancestralidade africana presente na vida brasileira cotidiana.
O centro da mostra é o quadro Olhar Africano, obra que recebeu o Prêmio Funarte Artes Visuais 2020/2021 e destaca uma mulher africana forte, poderosa e, ao mesmo tempo, com um olhar ingênuo.
Eduardo disse que a obra dele foi inspirada em um trabalho do fotógrafo alemão Leif Steiner. A foto é de uma mulher da Etiópia. A técnica do artista mineiro é classificada de hiper realismo e, a partir da fotografia, ele faz o desenho a lápis.
“Eu peguei essa imagem com autorização dele que curtiu o meu trabalho nas redes sociais. Essa técnica que eu utilizo a lápis está sempre em companhia com a fotografia. Todos os desenhistas de hiper realismo têm sempre a referência de uma fotografia”, disse Eduardo à Agência Brasil.
“Essa negra africana representa muito a cultura afro e quilombola. Os meus trabalhos são todos baseados em fotografias. Eu acompanho muito os fotógrafos em redes sociais e a fotografia que mais me inspira eu reproduzo com a técnica do meu trabalho, trazendo os meus traços artísticos. Fica um pouco diferente da fotografia, justamente por causa do meu traço artístico”, explicou.
Processo de criação
Além do quadro, os visitantes vão poder admirar o passo a passo da realização da obra no processo de criação de Eduardo. “Isso é muito interessante até para os meus seguidores nas redes sociais que gostam de ver como é feito o processo. Quando as pessoas veem aquela imagem às vezes não conseguem discernir que foi feita a lápis, porque confundem com fotografia por conta de ser hiper realismo, que é a área em que eu atuo”, revelou, acrescentando que a obra foi criada em 2020 para enriquecer a cultura do Rio de Janeiro e, em especial, a quilombola.
O artista nasceu no dia 28 de fevereiro de 1992, no interior de Minas Gerais, onde permaneceu até o início de sua vida adulta. Em 2012, foi para Franca, interior de São Paulo, e lá começou a desenvolver a sua técnica, mas antes já tinha sido trabalhador rural, padeiro e montador de móveis.
Foi em 2016 que, sob encomenda, Eduardo começou a trabalhar com quadros de desenho hiper realistas. Após concluir os estudos no EJA – Educação de Jovens e Adultos – ele teve um desenho selecionado para a capa do X Livro de Poemas e Poesias, e isso resultou em uma homenagem no Teatro Municipal e na realização de sua primeira exposição. Em 2019, o mineiro criou o curso de desenhos realistas e também recebeu premiação nacional da Fundação Nacional das Artes.
“[A minha jornada] eu vejo como uma grande conquista sair de onde saí, sou de uma família simples do sul de Minas Gerais, para conquistar mais espaço na cultura, na parte que eu me identifiquei. É um motivo de muita alegria e muita honra. Não foi nada fácil. Conquistar diversos países onde já estive, para mim, é interessante viver aquilo que eu sempre gostei”, relatou.
Workshop
O artista, que teve uma trajetória difícil até chegar ao estágio atual de sua arte, está animado porque vai transmitir o seu conhecimento de técnicas de desenho e desenho hiper realista para outras pessoas. Junto com a abertura da mostra, o mineiro vai conduzir o Workshop Exposições Itinerantes, destinado a adolescentes e adultos que tenham ou não experiência em desenho. O material que será usado na aula aberta a partir das 14h é grátis. Para participar, basta fazer a inscrição por meio do email [email protected] ou no whatsapp 21 971748633.
“As pessoas vão aprender técnicas de desenho e de sombreamento. Vão conhecer os lápis necessários para desenho. É muito enriquecedor esse projeto porque, de forma gratuita, tem duração de 1h30. Muitas vezes as pessoas não têm esse incentivo. Tem gente que diz que desenhar não dá futuro, mas para mim deu porque me dediquei. Eu sempre tenho passado isso nos workshops. Toda vez que a pessoa se dedicar ao que gosta, sempre vai ter um bom resultado”, sugeriu.
Outros estados
Antes de chegar ao Rio, onde ficará até o dia 20 de setembro, a mostra Exposições Itinerantes – A Cultura e Suas Peculiaridades iniciou uma jornada pelo Brasil que começou em Minas Gerais, passando pelas cidades Antônio Dias, Belo Oriente, Sabinópolis e Peçanha. Depois, foi para São Paulo, e ainda vai seguir para Salvador e Recife.
A mostra, que pode ser vista de segunda a sábado, das 10h às 18h, tem entrada gratuita e a realização é do Ministério da Cultura, com apoio do governo federal por meio da Lei de Incentivo à Cultura. O Instituto Cenibra, a prefeitura do Rio de Janeiro e o Centro Cultural Calouste Gulbenkian também integram a parceria.
A mostra é inclusiva e haverá acesso às pessoas que têm deficiência visual e auditiva com material para elas acompanharem. É muito enriquecedor para elas adquirirem conhecimento da cultura quilombola e apreciarem esta obra de arte”, comentou.
Calouste Gulbenkian
O Centro de Artes, onde está instalada a exposição, foi criado em março de 1971 e se chama Calouste Gulbenkian em homenagem à instituição cultural portuguesa Fundação Calouste Gulbenkian, sediada em Lisboa, que financiou a construção do prédio com recursos doados ao governo brasileiro, para que ali funcionasse um centro de artes.
Atualmente, o espaço oferece 41 cursos ligados a várias áreas das artes e do artesanato, a maioria deles com periodicidade semanal e duração de três horas, além de workshops, palestras, seminários, encontro com artistas e convidados, intercâmbio com universidades, associações nacionais e internacionais. Também conta com um programa de bolsas de estudos para pessoas de baixa renda, facilitando o acesso a conhecimento artísticos em diversas áreas.