Professores e alunos de diversas áreas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) criaram um jogo digital, destinado à população jovem, que ensina de maneira divertida como os medicamentos são criados. O projeto foi registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) como patrimônio da universidade pelo órgão responsável pela política de inovação da instituição, o Inova UFRJ.
Tudo começou quando o professor François Noël, do Laboratório de Farmacologia Bioquímica e Molecular do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-UFRJ), constatou que o jogo importado que usava em sala de aula, na pós-graduação, e que abordava o tema de medicamentos, não cumpria algumas determinadas funções. Procurado por Noël, o professor Geraldo Xexéo, do laboratório de Ludologia, Engenharia e Simulação (Ludes), do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE/UFRJ), desenvolveu um jogo de tabuleiro (Screener) para pós-graduandos de Farmacologia, lançado em novembro de 2021 e que pode ser acessado no site.
Geraldo Xexéo informou nesta quinta-feira (27) à Agência Brasil que para surpresa dos professores, o jogo foi usado para o ensino médio, embora o assunto fosse complicado para essa faixa etária. Daí, como já queria trabalhar com divulgação científica, Xexéo decidiu fazer um jogo digital, que fosse uma versão simplificada da teoria e voltado para jovens. Assim surgiu o discoveRx, que pode ser acessado online pelo computador ou baixado no Google Play para telefones celulares com sistema Android. Há também um site dedicado ao jogo e um vídeo explicativo no You Tube.
Minijogos
O jogo, que Geraldo Xexéo, classifica como um videogame, é formado por minijogos que explicam as sete etapas que compõem a investigação de um remédio novo. Essas etapas do processo de descoberta e desenvolvimento de fármacos incluem identificação de substâncias ativas (hits); de hits para protótipos (leads); otimização de protótipos; eleição de candidato a fármaco; e, finalmente, ensaios clínicos de fase 1, 2 e 3. Já foram lançados minijogos das três etapas iniciais. Em setembro, deverá ser lançado o minijogo referente à quarta etapa do processo, se os animais não passam mal e para descobrir a dose máxima. “Quando o aluno termina um minijogo tem acesso ao próximo”, disse Xexéo.
O jogo foi feito por professores e alunos de quatro centros de ensino da UFRJ (Centro de Tecnologia-CT, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza-CCMN, Centro de Ciências da Saúde-CCS e Centro de Letras e Artes-CLA). Para alcançar um público maior e internacional, o jovem pode escolher jogar entre quatro idiomas (português, inglês, espanhol e francês).
Os três minijogos restantes vão abranger os testes em humanos, chamados de testes clínicos. O objetivo é ver as contraindicações, efeito de cura e se funciona no mundo todo. No final de agosto, os professores e alunos da UFRJ participarão de evento no Espaço Ciência Viva, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, onde explicarão ao público interessado como o jogo pode ser baixado e como funciona todo o processo de desenvolvimento até a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que o fármaco possa ir para venda no mercado. O objetivo é mostrar o jogo também em escolas, para professores e alunos.
Piratas
Geraldo Xexéo informou ainda que outro jogo digital foi criado pela UFRJ para ensinar programação paralela de forma lúdica. É o Mapa do Tesouro, “que está disponível para qualquer pessoa no sistema Android também”. O professor explicou que a ideia do jogo com piratas é “trabalhar com essa abordagem lúdica, para que a pessoa possa pegar e jogar, sem saber que está estudando. E, depois, mostrar que o que você fez ali é isso aqui”. Brincando, a pessoa acaba aprendendo os conceitos, afirmou. Crianças com 8 anos já podem jogar o Mapa do Tesouro. “Até com 5 anos já jogaram”, revelou Geraldo Xexéo. Como o projeto ainda não foi concluído, ele só pode ser acessado por enquanto na loja Android.