“Ele estava gostando de ser reconhecido como serial killer de homossexuais”, disse delegado

Apesar da confissão de José Tiago Correa Soroka, de que se trataram de crimes com o objetivo de roubar, polícia ainda tem dúvidas se não se tratou mesmo de homicídio, focado em ódio contra homossexuais

José Tiago Correia Soroka estava gostando dos cinco minutos de fama, de ser conhecido como serial killer de homossexuais. A afirmação é do delegado Thiago Nóbrega, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), durante coletiva de imprensa no fim da manhã deste sábado (29). A coletiva aconteceu horas após a prisão de Soroka, acusado de matar pelo menos três homossexuais no Paraná e Santa Catarina.

(FOTO: DIVULGAÇÃO/ PCPR)

29 de maio de 2021 – 14:23 – Atualizado em 29 de maio de 2021 – 22:06

“Ele estava sentindo prazer nas mortes que estava praticando. Não sei que sentimento isso estava causando nele, adrenalina, emoção … mas de certa maneira estava gostando do que estava fazendo. Até se vangloriou que era serial killer, que estava aparecendo na televisão e estava famoso. Não mostrou arrependimento, estava gostando”,

disse Nóbrega na coletiva.

Mesmo depois que o rosto dele apareceu na mídia, Soroka cessou os crimes e afirmou que não foi embora para outro lugar porque o rosto dele já estava em todos os locais e não conseguiria mais fazer novas vítimas. Por isso, permaneceu na pousada, “curtindo” os cinco minutos de fama e sabendo que a qualquer momento a polícia o encontraria, conforme o delegado. Ele permaneceu calmo durante a prisão.

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Ainda de acordo com o Nóbrega, o suspeito já esteve preso por dois roubos de carro e uma vez por uso moeda falsa. Porém, conseguiu liberdade provisória em seguida, decidiu começar a trabalhar registado legalmente. Mas quando foi mandado embora – porque faltava muito ao trabalho para usar drogas – atrás começou a praticar os crimes contra homossexuais. Desde então, passou a se mudar frequentemente de lugar, a cada 10 ou 15 dias, com medo de ser pego pela polícia.

Serial killer?

Durante a coletiva, o delegado disse não ter dúvidas de que Soroka é um serial killer. Pela quantidade de crimes cometidos – entre consumados e tentados – e a suspeita de que tenham ocorrido outros – pelo período de tempo entre um caso e outro, pelo modus operandi e o perfil do criminoso, o delegado afirmou que tudo leva a crer que “a definição de serial killer se enquadra perfeitamente”.

Nóbrega frisou que não é psicólogo, porém a equipe policial analisou que Soroka é uma pessoa fria, muito inteligente, não demonstra sentimentos, e que tem o dom para prática de crimes. “Inteligente, entende de informática, de vários outros assuntos. Poderia se dar bem em outros trabalhos. Mas se ocupou com a prática de crimes”, lamentou o delegado, que ainda ouviu de outras testemunhas e familiares que o matador aparentava ser pessoa gentil, nunca havia demonstrado nenhum sentimento suspeito.

Vivendo de crimes

Soroka confessou à polícia que praticava os crimes para sobreviver, dando a entender que seu objetivo era o crime contra o patrimônio (como furtar e roubar) e não contra a vida (praticar homicídios). Ele estabeleceu a meta de cometer um crime por semana – afirmou que matar sempre às terças-feiras foi mera coincidência – e que a cada vítima que fazia, conseguia levantar entre R$ 4 mil a R$ 6 mil com os objetos que levava delas. Ele gastava tudo com coisas supérfluas e consumo de drogas, principalmente cocaína.

Entre os objetos que ele costumava levar das vítimas, estão notebooks, celulares, correntes de ouro, caixas de som, videogames, entre outras coisas de valor que encontrava. O criminoso confesso ainda disse que se via a possibilidade de alguém chegar ao local ou escutar barulho, ele não levava nada e abandonava o local imediatamente para não ser pego. Mas quando era um local que parecia que ninguém ouvira nada, ele ficava com mais calma analisando os objetos e o que levaria.

Soroka ainda confessou que preferia abordar homossexuais porque seriam pessoas mais fáceis de marcar encontros. Ele confessou ao delegado que tinha perfis falsos em vários aplicativos de relacionamentos, os quais muitas vezes usava até fotos falsas, tiradas da internet. Ele ficava online em todos, delimitava a região e ficava esperando que alguém lhe chamasse pra conversar. Disse que homossexuais rapidamente evoluíam da conversa inicial para um encontro, no qual as vítimas sempre abriam a porta de suas casas para isto. Se fosse com heterossexuais, na visão do criminoso, entrar na cada as vítimas seria mais difícil.

Assim que chegava na casa das vítimas, ia fingindo “esquentar o clima”. Então, Soroka pedia para que a vítima tirasse a roupa e ficasse de costas para ele – ou a própria vítima já ia tirando a roupa. Nesse momento, o suspeito aplicava o mata-leão, golpe que ele confessou ter aprendido e sabia aplicar muito em, pois nunca dava errado, afirmou a polícia.

No interrogatório, ele afirmou ao delegado que, se a vítima apenas desmaiasse com o o golpe, ele pegava o que queria e ia embora sem matar. Depois, não buscava saber se a vítima tinha sobrevivido ou morrido. Mas, se a pessoa reagisse, ele a esganava até a morte, para depois roubar.

A polícia tem conhecimento de crimes a partir de 2018, mas não descarta que existam delitos anteriores. “Pode ser por vergonha das vítimas em denunciarem, ou até medo, por causa da violência dos crimes cometidos”, disse o delegado que, agora, com a prisão de Soroka, tem a esperança de que mais vítimas apareçam.

Soroka afirmou à polícia que só confessaria os crimes dos quais a polícia já tem conhecimento. Por isto a suspeita de que ele tenha feito mais vítimas.

Hetero, homo ou bi?

Um detalhe do interrogatório de Soroka chamou a atenção da polícia. Ele confessou abertamente os três homicídios consumados. Já sobre o homicídio tentado, no qual a vítima sobreviveu, Soroka não quis falar do assunto com a polícia. “Deu a entender que mexia com lado íntimo, a parte emocional dele, que ele tem, sim, algum problema com a homossexualidade. Se reservou a ficar calado, porque era algo que o incomodava muito”, disse ele. O suspeito não confessou à polícia ser homossexual, nem bissexual.

“Talvez ele guardasse isso dentro dele, esse sentimento de incerteza, de não saber o que era. E acabava colocando isso pra fora quando praticava os crimes. Descontava nas vítimas homossexuais por não aceitar que ele também fosse homo ou bi. Disse em depoimento que nunca sofreu nenhum abuso sexual na infância. Mas também não deu muitos detalhes sobre esse período da vida”, explicou Nóbrega.

Roubo ou ódio?

O delegado Thiago Nóbrega disse que a equipe policial ainda não tem convicção plena de que os crimes trataram-se de latrocínio, como Soroka afirmou ser.

“Tudo indica pela confissão dele, que não tem como fugir da questão patrimonial. Mas a gente tem essa dúvida com relação a motivação principal, se foi mesmo patrimonial ou se foi crime contra a vida. Se a gente concluir as investigações de que foi pela questão patrimonial, será indiciado por latrocínio, que é uma pena tão grande quanto homicídio. Mas se for homicídio, o indiciamento acumulará também com a questão patrimonial”, afirmou o policial.

Fonte: RicMais