Nos bastidores do programa Roda Viva, da TV Cultura, técnico do Palmeiras mostrou que é adorado por torcedores e contou bastidores
A apresentadora do Roda Viva, da TV Cultura, contou ao final do programa que nunca tinha visto tamanha mobilização dentro do estúdio da emissora, quanto com o treinador do Palmeiras. Assim que terminou o programa, às 23h45, uma multidão de funcionários e visitantes entrou no estúdio para receber autógrafos em camisetas e em seu livro. Abel passou mais de uma hora em pé, atendendo a todos, pacientemente.
Lembre-se de que Caetano Veloso foi um dos convidados recentes do programa. Vera Magalhães conta que a mobilização não foi igual: “É o futebol”, ela observou.
Claro que não é só Abel, e sim o que ele representa. Um treinador vitorioso de um clube de imensa torcida. Mas Abel é pop. É importante, atencioso, cuidado com quem o procura. “Eu sou paz e amor”, disse na despedida.
Depois do programa, uma das coisas que mais chamaram a atenção foi ele contar que, na Europa, costumava trocar relatórios de seus jogos com treinadores de outras equipes. Quando treinou o Sporting Braga e teve o melhor ataque da história do clube, ou quando dirigiu o PAOK, trocava suas anotações positivas e negativas sobre o desempenho de seu time. Pensou fazer o mesmo e já trocou ideias com Abel Braga, sempre disponível para conversas: “Eu gosto de ouvir, porque sei que aprendo.”
Disse isso não apenas a respeito de outros treinadores, mas também de seus colegas. Jantou com Hernán Crespo, seu vizinho quando dirigiu o São Paulo. Diz que sua vida é um triângulo, de casa ao trabalho e raras vezes a alguns restaurantes, sempre os mesmos. Nas conversas, ouve os integrantes das comissões técnicas das divisões de base e costuma conversar com Andrei Lopes, um de seus assistentes. “Sei que há gente que sabe mais do que eu.”
Abel Ferreira com Paulo Caruso, cartunista do Roda Viva — Foto: Gregory Grigoragi
Chamou a atenção mesmo ele contar que trocava e gostaria de trocar suas anotações de jogos com outros treinadores. No início do programa, ao responder sobre o que separa o desejo de publicar um livro documental sobre sua experiência e o receito de espalhar seus segredos, disse que o fundamental é transferir conhecimento. “E o livro é solidário. Tudo o que arrecadar vai para instituições”, disse. Ao final, a conversa sobre os relatórios expôs a falta de receio de contar segredos.
Mais ou menos como Alex Ferguson fazia, ao receber treinadores visitantes para tomar vinho em sua sala, depois de cada partida, Abel Ferreira pega suas anotações e compartilha com os treinadores que venceu ou por quem foi vencido. “Fiz isso com o Nagelsmann”, contou. Os dois se enfrentaram na temporada 2017/18, pela Liga Europa, num Hoffenheim x Sporting Braga. Abel venceu os dois jogos, por 3 x 1 no norte de Portugal e 2 x 1 no sudoeste da Alemanha.
Ganhou e compartilhou seus segredos. Ou melhor, suas estratégias.
Como se sabe, Abel Ferreira não é um técnico de ataque, nem é um treinador de defesa. É um treinador de estratégias diferentes contra adversários diferentes: “Entendo que se os rivais têm características diferentes, o jogo também as tem.”