Árbitra brasileira não se cansa de pioneirismo no basquete

O site oficial da Federação Internacional de Basquete (Fiba) publicou, na última quarta-feira (31), uma reportagem destacando a quantidade recorde de árbitras mulheres escaladas para os principais eventos da modalidade em 2021. Nos campeonatos mundiais sub-19 masculino e feminino, por exemplo, 20 dos 56 nomes selecionadas são do sexo feminino, algo inédito. Para as Olimpíadas de Tóquio são cinco mulheres entre os 30 árbitros convocados. Uma brasileira está presente nestas duas listas. A paulista Andreia Regina Silva, de 40 anos, pode inclusive se tornar a primeira árbitra do país a apitar um jogo da chave masculina em uma Olimpíada.

“Na verdade, o mais importante é desempenhar um excelente trabalho. Claro que é uma conquista, pequena por um lado mas grande por outro. Eu quero apitar masculino, feminino, o máximo que puder. Mas estar nessa lista já é uma vitória e já estou muito feliz”, declarou Andreia em conversa com a Agência Brasil enquanto aguardava para embarcar para Brasília, onde apitará, a partir desta quinta (1), na chamada bolha do NBB (Nosso Basquete Brasil).

Andreia não seria a primeira brasileira a atender o chamado da Fiba para uma Olimpíada. Tatiana Steigerwald foi a Atenas 2004 e Fátima da Silva esteve em Pequim 2008, mas nenhuma das duas chegou a arbitrar partidas do torneio masculino. Alcançar isso não seria o primeiro pioneirismo na carreira de Andreia. Em fevereiro deste ano ela se tornou a primeira mulher a fazer parte da equipe de arbitragem de uma final da Copa Intercontinental de clubes.

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“Não me prendo a isso. Não fico contando, eu sou a primeira. São coisas que vão acontecendo com a vida”, revela.

A oportunidade na decisão entre Quimsa (Argentina) e San Pablo (Espanha) só foi possível por conta de outra primeira vez. Em 2018, a brasileira conquistou a licença black da Fiba, que permite apitar qualquer partida de qualquer campeonato organizado pela federação internacional, seja ele disputado por homens ou mulheres. Andreia conta que teve que passar pelos testes físicos mais pesados para árbitros (incluindo o chamado YoYo Test) sem margem para discrepâncias na performance. A velocidade exigida chega a 16,5 km/h.

O grau de exigência para apitar em uma Olimpíada é alto e a cobrança também vem dela mesma. Afinal, até o momento ela e Guilherme Locatelli (o outro brasileiro escalado para arbitrar em Tóquio) são os únicos representantes do basquete brasileiro confirmados no Japão, já que a seleção feminina não se classificou e a masculina ainda busca a vaga.

“É bastante pressão [risos]. Quero chegar lá na minha melhor forma física e também tenho estudado muito, tanto as regras quanto também o inglês. Quero que seja o meu melhor desempenho em uma competição”, declara.

A primeira Olimpíada da carreira, seja lá como se desenrole quando julho chegar, é motivo de frio na barriga, mas também de orgulho para Andreia. É o ápice de uma trajetória que exigiu muitos sacrifícios, como deixar a cidade onde nasceu, Bauru, para se arriscar numa carreira de poucas certezas, ainda mais para mulheres. Nos últimos 20 anos, ela raramente encontrou os pais Sônia e Carlos Antônio, o que ficou impossível com a pandemia do novo coronavírus (covid-19). Estar na mesma quadra que grandes estrelas do basquete mundial é uma responsabilidade, mas também uma recompensa.

“Ter o meu nome nos Jogos Olímpicos é algo que me faz olhar para trás e ver que valeu a pena cada lágrima, cada humilhação. Estamos acostumados a ver esses jogadores pela televisão, e agora eles estão ali, cumprimentando ou reclamando de falta. Às vezes eu não acredito que estou ali”, diz.

Avessa aos louros de tantos pioneirismos, ela pensa nas próprias conquistas como sinal de algo maior que vem aí: “Comemorei muito tudo isso. É como se a Fiba estivesse olhando para o árbitro não pelo gênero, mas sim pela capacidade. E, se eu consegui, outras podem conseguir também”.