Coluna – Do tiki-taka ao TikTok, como cresce uma torcida

Dois rankings publicados pelo Ibope Repucom chamaram minha atenção. Ambos voltados para os clubes de futebol. O primeiro, que inclusive foi abordado aqui na Agência Brasil, fala da quantidade de torcedores mistos no Brasil (aqueles que dizem torcer por mais de um time de futebol) e o segundo trata da participação dos clubes numa nova plataforma digital, o TikTok.

E o que uma coisa tem a ver com outra? Vamos chegar lá. A pesquisa sobre o torcedor misto reforça a tese de que os grandes times do Sudeste dividem o coração do torcedor de outras regiões, em especial Norte e Nordeste. No Sul, principalmente no Rio Grande, Grêmio e Internacional, com apenas 14% de simpatizantes, comprovam a força que têm na região, pois 86% de seus torcedores escolheram um ou outro como primeira opção (são os maiores índices da pesquisa).

Flamengo e Corinthians, nessa ordem, lideram, com o Rubro-Negro registrando 81% na primeira opção do torcedor e 19% de simpatizantes, contra 82% e 18%, respectivamente, do Timão. Apenas como curiosidade, os outros oito principais clubes do país apresentam mais de 20% de simpatizantes: Vasco (21%), São Paulo (23%), Cruzeiro (24%), Palmeiras (25%), Atlético-MG (26%), Santos (34%), Fluminense (41%) e Botafogo (45%). Dos que surgem nos últimos anos como exemplos de boas administrações, o Athletico-PR tem 35% de simpatizantes, o Bahia, 44% e o Fortaleza, 46%.

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São números interessantes porque indicam qual percentual, dentro da massa torcedora, estaria mais disposto a consumir os produtos que os clubes oferecem. Dentro dos limites mínimo e máximo entre os 12 grandes, quem tem mais possibilidade de faturar com licenciamento? A dupla Gre-Nal, com 86% de torcedores na primeira opção, ou o Botafogo, com 55%?

A maior parte dos torcedores mistos está na faixa etária acima dos 35 anos. E um fator que não aparece de forma explícita nesta pesquisa, mas que foi destacado por outra, de 2016, é que 72% dos jovens usuários de internet disseram ser simpatizantes de clubes europeus. Seja pelo games, mas também pela qualidade do futebol de lá, que passou a chamar mais a atenção quando o Barcelona de Messi, do famoso tiki-taka, ganhou tudo o que podia. Um esquema de jogo que ainda garantiu aos espanhóis a conquista da Copa do Mundo de 2010.

Qual a tendência no futuro, considerando, inclusive, que já estamos em 2020, quatro anos depois da pesquisa citada há pouco? Os clubes precisam combater essa invasão europeia e voltar a dividir o coração do torcedor dentro do país. O diretor-executivo do Ibope Repucom, José Colagrossi, deu o recado em postagem no Twitter: “TikTok cresce muito no futebol brasileiro, e a partir de junho o adicionaremos ao nosso ranking digital. Os clubes que ainda não adotaram a plataforma deveriam fazê-lo, pois atrai muitos torcedores jovens”.

Ora, se os jovens vão à internet, e através dela se deixam levar pelos europeus, que os times brasileiros contra-ataquem na mesma moeda. Para quem não conhece, o aplicativo é um fenômeno mundial, adotado por empresas em todo o mundo. O foco do app é a produção de pequenos vídeos, de até 15 segundos, e em menos de dois anos de existência ele já registrou mais de um bilhão de downloads. O TikTok é mais popular entre os jovens até 25 anos, ou seja, o torcedor do futuro, e 15 clubes no país já têm perfis na plataforma, quatro deles nordestinos.

No próximo ranking digital de clubes, o Ibope vai somar números do Facebook, do Twitter, do Instagram, do Youtube e, agora, do TikTok. Entre os torcedores, 1,632 milhão já seguem os clubes na plataforma, e o Flamengo, com 944,4 mil, lidera com folga. O Corinthians, em segundo lugar, vem com 234,8 mil seguidores (dados divulgados dia 18 de maio). São Paulo, Cruzeiro, Vasco, Sport, Athletico-PR, Santos, Avaí, Ceará, Guarani, Chapecoense, Fortaleza, Fluminense e CRB são os outros, pela ordem de seguidores, que compõem o ranking nacional.

O futebol começou a voltar seus olhos para a nata da Geração Z, de 16 a 24 anos. Quem não se atualizar, está perdendo tempo e, no futuro, torcedor.

Por Sergio du Bocage, apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil