Coluna – Giannis Antetokounmpo, uma trajetória de cinema na NBA

Não é sempre, mas os filmes da Disney costumam ter final feliz. O bilionário estúdio americano tem em sua lista de projetos para produção em 2021 um longa sobre a história de vida de Giannis Antetokounmpo, o craque grego do Milwaukee Bucks, da NBA (liga de basquete norte-americana). O timing não poderia ser melhor. Com o título de campeão da NBA assegurado nesta terça (20), o filme já garantiu um desfecho para fazer a plateia voltar para casa mais do que satisfeita.

Aos 26 anos, Antetokounmpo já tem praticamente todas as láureas que poderia almejar ao chegar à maior liga de basquete do mundo. São dois prêmios de MVP (sigla em inglês para Jogador Mais Valioso). Um troféu de melhor defensor da temporada. E esta que acaba de se encerrar trouxe o simbólico prêmio de melhor jogador do festivo Jogo das Estrelas, além dos mais importantes: o primeiro título de campeão da liga, acompanhado pela eleição como MVP das Finais, série coroada por uma atuação memorável de 50 pontos no jogo decisivo.

Continua após a publicidade..

Um outro prêmio, que passa ligeiramente despercebido no currículo de Antetokounmpo, é um bom indicativo do motivo pelo qual toda a trajetória dele, da infância à mais alta glória no basquete, é digna de peça de cinema. O grego foi escolhido como o jogador que mais evoluiu na NBA na temporada 2016-17, quando deu um salto rumo ao estrelato. Ele mostrou sua perseverança em sempre melhorar, mesmo sem, necessariamente, atender às expectativas externas.

Caso você não tenha tropeçado ainda na história do atleta, eis um resumo: Giannis é um dos cinco filhos de dois imigrantes nigerianos que chegaram à Grécia no começo da década de 90. A mãe Veronica e o pai Charles, que entraram ilegalmente no país europeu, não tinham documentação grega (nem Giannis). Ele teve uma vida humilde e vendia óculos escuros e DVDs nas ruas de Atenas para ajudar os pais. Acabou se tornando aposta de um olheiro mesmo sem ter nenhuma intimidade com a bola laranja, aos 13 anos. 

Aos 18, depois de impressionar com a capacidade física na segunda divisão da Grécia, atiçou os scouts (analistas) da NBA e foi selecionado pelo Milwaukee Bucks no draft de 2013.

Giannis desembarcou nos Estados Unidos, como é possível ver no vídeo, como um garoto alto e magro. Ao longo dos anos, os 2,11 metros foram sendo preenchidos. Ele pulou dos 86 para os 110 kg e justificou o apelido que ganhara antes mesmo de chegar à NBA: a Aberração Grega. 

O aumento na balança se refletiu na evolução em quadra. Giannis virou uma realidade, com a mobilidade e a velocidade de um armador mas o porte físico de um pivô. A cada temporada, ele foi acrescentando coisas ao jogo e as honrarias foram se acumulando. 

Por mais que Giannis tenha se acostumado a superar expectativas, ele finalmente alcançou o patamar mais alto da NBA se mantendo fiel a si próprio. 

Conforme as cobranças por melhores resultados se intensificaram nos últimos anos, a crença de que ele deveria procurar holofotes maiores do que os de Milwaukee para brilhar aumentaram. Estamos falando da 30ª maior cidade do país em termos de população e o 24º maior mercado na NBA (que tem 30 times). Giannis foi na contramão: adiantou-se e assinou uma extensão com o Bucks, assegurando o contrato mais lucrativo da história da liga no processo (228 milhões de dólares pelos próximos cinco anos).

Ao fazê-lo, o grego bateu em uma tecla: a da lealdade. 

A lealdade deu frutos não apenas porque o time buscou cercar o craque com um elenco mais qualificado. O próprio Giannis se manteve focado. 

Ao contrário de muitos contemporâneos, que aproveitam a inter-temporada para treinarem juntos, Giannis não abre o jogo para adversários. E quando as críticas ao estilo de jogo hiperfísico e de menos técnica no arremesso chegaram ao auge, ele alcançou o título da NBA focando no que faz bem.

Na série final contra Phoenix, Giannis teve médias de 35.1 pontos, 13.1 rebotes, 5 assistências e 1.8 tocos por jogo. Ele foi um terror físico e alcançou tamanha produção praticamente sem precisar de bolas de três (acertou apenas três na série toda) e com desempenho no máximo aceitável na linha do lance livre (embora tenha explodido para 17 acertos em 19 tentativas no último jogo). O baixo aproveitamento e a demora para cobrar os lances livres fizeram de Giannis um alvo fácil de provocações das torcidas adversárias, mas ele nunca hesitou.

O detalhe mais impressionante da performance do grego na grande decisão é que, apenas três semanas atrás, a temporada dele parecia acabada após uma hiperextensão no joelho esquerdo que o fez temer por ficar de fora das quadras por um ano. Ele voltou uma semana depois.

Giannis em tese já tem tudo o que sonhou, não só para ele mas também para os irmãos. Thanasis também faz parte do elenco do Milwaukee e Kostas foi campeão com o Los Angeles Lakers no último ano. 

No entanto, o modo como buscou obsessivamente o que queria leva a crer que não vai se acomodar daqui para frente. No discurso de agradecimento pelo primeiro prêmio de MVP, em 2019, ele citou um ensinamento do já falecido pai, Charles:

“Não seja ganancioso, mas queira sempre mais”.

A julgar por essa mentalidade, é possível acreditar que a Disney tenha material para produzir não apenas um longa, mas uma série com várias temporadas.