Depois de um ano complicado, marcado pelas incertezas do novo coronavírus (covid-19) e o cancelamento de eventos pelo mundo, o esporte paralímpico olha com mais otimismo para 2021. Ao contrário do que acontece desde fevereiro, quando as primeiras competições foram suspensas devido à pandemia, os atletas começam a ver os respectivos calendários preenchidos além da Paralimpíada de Tóquio (Japão), remarcada para setembro do próximo ano.
É verdade que, por enquanto, tudo não passa de projeção. O cenário ainda instável da covid-19, em meio a uma segunda onda da pandemia na Europa, e o início da vacinação em apenas alguns países, faz com que a confirmação dos eventos previamente agendados só se dê à medida que os mesmos se aproximem. Há, também, a peculiaridade dos atletas que se enquadram no grupo de risco – como lesionados medulares ou com paralisia cerebral mais grave -, cujas disputas são ainda mais passíveis de cancelamento se o contágio pelo vírus seguir descontrolado. Ainda assim, ter objetivos e datas é fundamental no planejamento físico, técnico e mental dos esportistas.
A primeira etapa do circuito mundial de atletismo foi marcada pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês) para o período de 7 a 13 de fevereiro em Dubai (Emirados Árabes Unidos). Entre 15 e 20 e março, as disputas serão em Túnis (Tunísia). De 22 a 27 de março, a competição será em São Paulo, no Centro de Treinamento Paralímpico, que, devido à pandemia, não recebe eventos há nove meses. Jesolo (Itália), Pequim (China), Paris (França) e Nottwil (Suíça) abrigam, entre abril e maio, as outras etapas agendadas. Também para maio, está previsto o evento-teste dos Jogos de Tóquio.
A Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) também divulgou o calendário de treinos e participação das seleções de goalball, judô e futebol de 5 nos eventos internacionais, além de campeonatos regionais e brasileiros. A entidade destaca que a programação é sujeita a alterações, em razão da covid-19. “Sabendo que ainda estamos em meio a muitas incertezas, por isso, optamos por postergar o máximo possível o início dos eventos regionais”, argumentou o gerente técnico da CBDV, Felipe Menescal, em depoimento ao site oficial da confederação.
Até a Paralimpíada, as equipes nacionais geridas pela CBDV têm marcadas seis fases de treinamento, a partir de janeiro. Até agosto, quando está prevista a aclimatação das seleções para os Jogos de Tóquio em Hamamatsu (Japão), o calendário indica dois intercâmbios – Japão (judô) e Israel (goalball feminino) – e participação em torneios internacionais em Estados Unidos, Suécia (ambos goalball), Inglaterra, Azerbaijão (ambos judô) e no próprio Brasil, em São Paulo (judô e futebol de 5).
Nem todas as modalidades, porém, estão com calendários definidos, mesmo que preliminarmente. A natação, por exemplo, não teve as etapas do circuito mundial anunciadas para 2021. A única competição internacional confirmada até agora é o evento-teste dos Jogos de Tóquio, em 26 de abril. Há disputas, por sua vez, que já precisaram ser postergadas para 2022. É o caso do Mundial de Esportes de Neve, que ocorreria entre 7 e 20 de fevereiro em Lillehammer (Noruega) e passou para janeiro do outro ano (ou seja, poucos meses antes da Paralimpíada de Inverno, que será em Pequim).
“O calendário ainda está cheio de incertezas. Tive uma convocação para o Campeonato Parapan-Americano, que será em março, em Monterrey (México). Além disso, deverão ter mais alguns torneios do ranking mundial paralímpico entre abril e junho, mas nada confirmado ainda”, descreve Jane Karla Gögel, principal nome brasileiro no tiro com arco. “Tenho treinado firme em casa. Agora, tenho meu próprio campo, com distância oficial. Estou feliz de ter meu espaço, pois com a pandemia tinha ficado muito difícil treinar em casa. Estou me empenhando ao máximo para, se Deus quiser, conquistar a medalhinha tão sonhada”, completa a atiradora, que vive em Portugal.
Santiago é logo ali
A Paralimpíada de Tóquio ainda sequer foi disputada, mas o próximo ciclo paradesportivo já se avizinha. Um dos principais eventos no caminho até os Jogos de Paris, em 2024, será disputado entre 17 e 26 de novembro de 2023. Trata-se da sétima edição dos Jogos Parapan-Americanos, em Santiago (Chile) e que reunirá atletas de 17 modalidades. Destaque ao tiro com arco, que retorna após a ausência em Lima (Peru), no ano passado.
O tiro com arco integra a Paralimpíada desde a primeira edição, em 1960. Em Parapans, a estreia foi nos Jogos de 2011, em Guadalajara (México). As primeiras medalhas brasileiras (dois ouros e uma prata) vieram quatro anos depois, em Toronto (Canadá). Uma delas foi conquistada justamente por Jane Karla, campeã no arco composto feminino apenas seis meses após o começo no esporte. O resultado garantiu a goiana na Paralimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, e a tornou a primeira atleta a receber a láurea dourada em duas modalidades diferentes no evento. Ela havia sido bicampeã no tênis de mesa em 2007 (Rio de Janeiro) e 2011.
“O Parapan é muito importante para todos os atletas das Américas. Estou muito feliz de saber que ele retornou e que a gente estará de volta em 2023. É onde disputamos a vaga na Paralimpíada, além de ser uma competição preparatória. Eu brinco que o Parapan oferece um tamanho reduzido do que a gente vive na Paralimpíada. É lá [Parapan] que o atleta que disputa pela primeira vez [um evento grande] tem essa vivência”, destaca a goiana.
Além do tiro com arco, também integram a programação, divulgada na última semana pelo Comitê Organizador dos Jogos de Santiago, atletismo, basquete em cadeira de rodas, bocha, ciclismo (estrada e pista), futebol de 5, futebol de 7, goalball, halterofilismo, judô, natação, parabadminton, parataekwondo, rugby em cadeira de rodas, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas e tiro esportivo. Segundo o presidente do Comitê Paralímpico das Américas (APC, sigla em inglês), Júlio César Ávila, 23 esportes foram avaliados até os 17 serem definidos.
A edição de Lima reuniu mais de 1,8 mil atletas de 30 países. O Brasil foi o que teve mais representantes, 512, sendo 337 atletas, entre os quais estão calheiros (bocha), goleiros (futebol de 5), atletas-guias (atletismo) e pilotos (ciclismo), os dois últimos auxiliam em provas com deficientes visuais. A delegação brasileira competiu nas 17 modalidades disputadas na capital peruana e obteve 308 medalhas, com 124 ouros, um recorde.