Com cestas na tabela que tem em casa, no interior paulista, Caio Pacheco se esforça para não perder a forma que o vinha consagrando nas quadras argentinas. Há dois anos, ele defende o Bahia Basket, time de Bahia Blanca, cidade portenha apaixonada por basquete. “É como Franca (SP) aqui no Brasil”, define o armador natural de Rio Claro (SP) à Agência Brasil. “De lá, saíram muitos grandes nomes, como Manu Ginóbili [recém-aposentado e astro da NBA] e Pepe Sanchez, dono do meu clube, campeões olímpicos pela Argentina em 2004”, detalha.
Dono da segunda maior média de pontos por jogo (19,4) da Liga Argentina e líder na de assistências (seis), o brasileiro teve a boa fase interrompida pela pandemia do novo coronavírus (covid-19), que paralisou o campeonato em março. “Nosso último jogo já tinha sido com portões fechados. Eu estava em uma boa sequência, com confiança, mas foram as circunstâncias. Não tem que ficar pensando no passado, mas sim nos próximos passos”, avalia Caio, que foi liberado pelo clube para cumprir o isolamento social em Rio Claro. “Em meio a essa fase chata, tem uma coisa boa, que é passar mais tempo com a família. Faz anos que não ficava tão perto deles”, conta.
O bom momento na Argentina motivou o paulista de 21 anos a tentar um salto maior na carreira: a NBA. Ele é o único brasileiro entre os 205 inscritos deste ano no draft, evento da NBA, no qual as 30 franquias da maior liga de basquete do mundo recrutam atletas de universidades norte-americanas e de diferentes países. Os participantes passam por duas rodadas de seleção – ou seja, até 60 jogadores podem ser escolhidos. Entre os que já foram revelados pelo draft anual da NBA estão astros como Lebron James e Shaquille O’Neal.
A seleção está marcada para 25 de junho. “[A inscrição] Foi uma decisão conjunta das pessoas do meu entorno. Era o momento, o próximo passo, tanto para minha agência como para a família e, em grande parte, para mim”, revela Caio que, em razão da pandemia, não deve ter oportunidades para treinar com as equipes antes do processo (o chamado draft combine). Não é exatamente algo que o preocupe no momento. “Agora, é esperar pelo melhor e pensar positivo”, resume o jogador que, antes de migrar para a Argentina, defendeu os times Rio Claro, Limeira e Palmeiras. O basquete do Verdão tem valor especial para Caio, pois foi lá que o pai Álvaro Pacheco atuou por 20 anos e se consagrou como um dos maiores armadores da história do clube. “Ele foi meu primeiro ídolo”, admite o atleta.
Na história do draft da NBA, 15 brasileiros foram selecionados. O que não significa, necessariamente, que atuaram pela principal liga norte-americana. Os dois primeiros – Marquinhos Abdalla, em 1976, e Oscar Schmidt, em 1984 – preferiram continuar defendendo a Seleção. Na época, a Federação Internacional de Basquete (FIBA) não permitia que atletas considerados profissionais atuassem por seus países. Além deles, astros da modalidade no Brasil na atualidade, como Nenê, Marquinhos, Raulzinho, Leandrinho, Anderson Varejão e Bruno Caboclo também foram draftados.
No ano passado, o ala Didi – ex-Sesi Franca e amigo de Caio, com quem atuou pela seleção brasileira sub-21 – foi selecionado pelo Atlanta Hawks e “trocado” com o New Orleans Pelicans. A franquia norte-americana o liberou ao Sydney Kings, da Austrália, para que adquirisse experiência e pudesse ser reavaliado.