Presidente do Real Madrid afirma em depoimento que clube ofereceu 45 milhões de euros, na época, e André Cury diz que merengues pagariam até 160 milhões de euros pelo jogador
O processo da DIS na Justiça espanhola envolvendo a transferência de Neymar para o Barcelona, em 2013, levou o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, a testemunhar em juízo. O mandatário do clube espanhol confirmou pela manhã que o Real fez uma proposta pelo jogador de 45 milhões de euros (R$ 234 milhões atualmente) – e uma versão diferente foi contada pelo agente André Cury horas depois.
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Enquanto Florentino Pérez prestou depoimento pela manhã, através de uma chamada de vídeo, o agente, que era uma espécie de olheiro do Barça no Brasil, esteve no tribunal à tarde. Então, afirmou que os valores que o Real pagaria por Neymar chegariam a 150 milhões de euros (R$ 781 milhões atualmente).
– Em julho de 2013, o Real Madrid oferecia uns 150 ou 160 milhões de euros. O Real pagava muito mais a Neymar – afirmou Cury.
A imprensa espanhola, porém, afirma que Cury se referiu ao custo total da operação, que envolveria o pagamento ao Santos, o salário de Neymar, a comissão para o pai do jogador e uma multa de 40 milhões (R$ 208 milhões) que precisaria ser paga ao Barça pela rescisão de um pré-acordo.
Pela manhã, Florentino Pérez afirmou que não participou diretamente da tentativa de contratar Neymar.
– Sabia do interesse pela direção esportiva do Real Madrid. Não participe de nenhuma negociação. Em 2011, o Real Madrid fez uma oferta ao Santos por Neymar. Acho que era de 45 milhões de euros. É a única oferta que consta nos arquivos do Real Madrid – disse Florentino Pérez no depoimento.
O julgamento
Neymar voltou ao tribunal em Barcelona um dia depois de ser dispensado pelo juiz de acompanhar todo o julgamento por conta dos compromissos como atleta. Ele foi o primeiro a falar nesta terça-feira e abriu agradecendo pela dispensa no dia anterior. Depois, foi questionado sobre um acordo assinado com o Barça em novembro de 2011, e indicou que “assina tudo” que seu pai e empresário manda.
Então, foi a vez do pai de Neymar ser chamado a falar. Ele confirmou a versão dada pelo jogador, de quem também é empresário. Neymar pai afirmou que o filho “sempre se preocupou em jogar futebol” e “sempre confiou” na gestão de seus direitos.
O pai de Neymar depois foi questionado sobre o objetivo da empresa NN Consultoria e quando foi modificada a porcentagem do Santos com relação aos direitos do jogador. Ele garantiu que Neymar nunca recebeu algo pelo acordo com o Barcelona em 2011 e explicou a carta liberatória do clube brasileiro para negociar com equipes da Europa.
O astro brasileiro, além de seus pais e de dirigentes do clube catalão, são acusados pela empresa DIS e pelo Ministério Público espanhol de uma série de crimes fiscais relacionados à sua transferência do Santos para o Barcelona, em 2013. As acusações pedem a prisão de Neymar e multas para todos os envolvidos.
O caso começou a ser julgado na segunda-feira e vai continuar até 31 de outubro. A defesa de Neymar nega as acusações e argumenta que um tribunal da Espanha não deveria poder julgar algo que no Brasil – onde o contrato foi assinado – não é considerado crime.
A venda de Neymar pelo Santos ao Barcelona foi anunciada em maio de 2013 por 17,1 milhões de euros. Este foi o valor pago pelo clube catalão ao brasileiro. A DIS era dona de 40% dos direitos econômicos do atleta, modalidade de negócio que era permitida na época e foi proibida pela Fifa em 2016. Por essa fatia, a empresa recebeu 6,84 milhões de euros.
Mais tarde, porém, o próprio Barcelona revelou que a transação custou 57 milhões de euros. A diferença de quase 40 milhões de euros foi paga à empresa N&N (sigla para Neymar e Nadine, pais do jogador). Teve início uma batalha na Justiça. E uma investigação constatou que o total da transação foi ainda maior: 86,2 milhões de euros.
Nesse valor estavam embutidos pagamentos por amistosos a serem disputados por Barcelona e Santos, direito de preferência por jovens atletas da base santista, acordos entre o Barcelona e a Fundação Instituto Neymar Jr, direitos de imagem, luvas para Neymar e comissões para agentes.
Na ação que começou ser julgada nesta segunda-feira, a DIS argumenta que estas foram manobras feitas para reduzir o valor de sua fatia do negócio.
– Os direitos de Neymar não foram vendidos a quem apresentou maior oferta. Neymar, seus pais e os dirigentes dos dois clubes traíram a confiança dos irmãos Sonda, que investiram no jogador – declarou o advogado da empresa, Paulo Nasser, numa entrevista coletiva realizada na Espanha na última sexta-feira.
A DIS comprou 40% dos direitos de Neymar em 2009, quando ele tinha 17 anos, por 2 milhões de euros. Caso a negociação entre os dois clubes – sem os outros contratos – tivesse sido fechada em 86,2 milhões de euros, a empresa teria faturado 34,5 milhões de euros.
A acusação contra o jogador, seus familiares e os dirigentes é de “corrupção privada”, um crime que só passou a existir na Espanha em 2014. E que até hoje não existe no Código Penal Brasileiro.
Esta é a principal linha de defesa de Neymar. É o argumento dos advogados contratados pelo jogador e sua família para defendê-los.
– O Brasil não criminaliza corrupção entre particulares. Não é possível aplicar a lei brasileira a um fato espanhol, porque a lei brasileira criminalizando a corrupção privada não existe e, embora exista o crime de corrupção privada na Espanha, como nós não temos essa previsão idêntica no Brasil, é impossível a sua aplicação no território nacional – diz Davi Tangerino, que defende Neymar nos casos fiscais em curso no Brasil.