A cada Paralimpíada, a natação se reafirma como um prato cheio para os famintos por medalhas. São 14 classes funcionais e quatro estilos de nado (mais medley e revezamentos), totalizando 146 eventos com pódio. É comum que um atleta participe de várias provas em uma mesma edição.
Até por isso, faz bastante sentido que os principais medalhistas do Brasil sejam, em sua maioria, nadadores. Segundo levantamento do CPB antes dos Jogos de Tóquio, dos 10 maiores acumuladores de pódios do país, seis são da natação (Daniel Dias, André Brasil, Clodoaldo Silva, Adriano Lima, Luís Silva e Phelipe Rodrigues). Dois deles (Daniel Dias e Phelipe Rodrigues) já aumentaram suas contagens no Japão.
Nomes que estão pela primeira vez em uma Paralimpíada, como Carol Santiago e Gabriel Bandeira, já têm uma pequena coleção de ouro, prata e bronze. Cada um já subiu ao pódio quatro vezes.
Porém, mesmo que possa parecer que a abundância de provas estimule uma preferência à quantidade ao invés da qualidade, é possível ser feliz – e muito – com apenas uma medalha no peito.
Das quatro medalhas que o Brasil conquistou na terça-feira (31), a única de bronze foi a mais carregada de emoções. Mariana Gesteira, da classe S9 (com comprometimento motor menos severo), chegou em terceiro lugar na prova dos 100 metros livre. Logo na chegada para a piscina, chamou a atenção por ser a única atleta que não caminhou sozinha até o bloco de largada, mas sim com a ajuda de uma cadeira motorizada. Ela tem a síndrome de Arnold Chiari, uma doença que lhe afeta o equilíbrio.
Atleta paralímpica desde 2013, Mariana esteve nos Jogos do Rio, mas ao longo do ciclo teve complicações com a doença e precisou fazer uma cirurgia na cabeça no fim de 2019, para reduzir a pressão intracraniana. Com tantos obstáculos, as marcas na piscina foram piorando e o panorama para 2021 ficou turvo.
Ao cair na água no Centro Aquático de Tóquio, Mariana nadou para provar que podia retomar os melhores tempos. Mesmo tendo uma limitação que nenhuma das adversárias tinha, ela conseguiu o bronze e irradiou uma alegria – e uma emoção – de quem havia conquistado um ouro.
“Sei que é clichê, mas acho que mostrei que nós conseguimos realizar nossos sonhos”, disse, na zona mista, com o bronze pendurado no pescoço e o rosto molhado em lágrimas.
Nas palavras da própria Mariana, 31 de agosto de 2021 foi, disparado, o melhor dia da vida dela.
Assim que teve um tempo para respirar, a atleta provavelmente realizou uma ação corriqueira, mas que a partir de hoje vai ter um significado todo diferente: mexer no celular e olhar para a imagem de fundo de tela. Durante os dias que antecederam as provas decisivas em Tóquio, ela se afastou das redes sociais, mas continuou encarando a foto do objeto que mais desejava e que estampava a tela do smartphone: a da medalha dos Jogos do Japão. Agora, Mariana pode voltar para a rotina frenética das mensagens nos aplicativos e substituir a imagem baixada da internet por outra da medalha que pertence a ela mesma.
O que é um bronze comparado a outras coleções de medalhas cheias de ouros e pratas? Pode ser muito. Até mais.