Fantástico: Giovanna Ewbank sobre ataque racista sofrido pelos filhos: ‘Teria essa atenção toda se fôssemos pais pretos de crianças pretas?’

Atriz estava com o marido em um restaurante em Portugal quando uma cliente branca xingou os filhos do casal. A agressora também ofendeu turistas angolanos que estavam no local.

Um ataque racista e covarde contra duas crianças provocou indignação. Títi e Bless são filhos dos atores Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. Eles estavam em um restaurante, em uma praia de Portugal. A agressora é uma mulher, branca, que também ofendeu outros clientes. Giovanna reagiu – e o vídeo viralizou. Maju Coutinho conversou com o casal sobre o episódio traumático. Veja a entrevista completa no vídeo acima.

Vídeo: Giovanna Ewbank e Bruno falam sobre caso de racismo em Portugal

Maju Coutinho: Bruno e Giovanna, obrigada por estarem aqui com a gente hoje, nesse dia, imagino, difícil pra vocês e para os seus filhos. Eu gostaria de saber o que aconteceu na tarde de sábado (30), aí em Portugal?

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Bruno Gagliasso: A gente foi para um restaurante conhecido, que fica na praia.

Giovanna Ewbank: Inclusive, é um restaurante que a gente gosta muito de ir, porque a gente sempre encontra muitas pessoas pretas no restaurante. Para os nossos filhos, a gente acha muito importante estarem em ambientes com pessoas pretas.

Bruno: E eles estão na praia brincando e, de repente, uma das crianças subiu e falou para gente o que tinha acontecido. E aí a gente ficou chateado, bem chateado. E começou… e vocês viram aquelas imagens.

Giovanna: A mulher estava dizendo muitas coisas. Entre elas, dizendo “pretos imundos”, “voltem para a África”.

Bruno: “Portugal não é o lugar para vocês, vão embora daqui”.

Giovanna: Acho que ela nunca esperava que uma mulher branca fosse combatê-la como eu fui, daquela maneira. Eu sei que eu, como mulher branca, indo lá confrontá-la, a minha fala vai ser validada. Eu não vou sair com a louca, a raivosa, como acontece com tantas outras mães pretas, que são leoas todos os dias, assim como eu fui nesse episódio.

Bruno: O que será que teria acontecido se for se fôssemos pretos, eu minha mulher?

Giovanna: Teria essa atenção toda se fôssemos pais pretos de crianças pretas?

Fantástico fez essas perguntas para Carla Akotirene, doutora em Estudos de Gênero, Mulheres e Feminismos da UFBA. Ela explica que “diariamente, homens negros e mulheres negras, que são chefes de família, tentam defender seus filhos e, ainda assim, são criminalizados.”

Maju: Em 2017, vocês deram uma entrevista aqui para o Fantástico para falar sobre o racismo sofrido, sobre os ataques que sofreram aquela época. Giovanna, você comentou que se sentia despreparada para enfrentar o racismo. O que mudou desde lá?

Giovanna: Mudou tudo, Maju. Hoje eu sou uma mulher muito consciente dos meus privilégios, eu sou uma mulher que está sempre rodeada de outras mulheres pretas, aprendendo diariamente. Vou fazer jus ao privilégio branco e vou combater de frente. Eu quero que todo mundo saiba, Maju que nós não vamos combater o racismo de maneira leve, a gente vai passar por cima e fazer jus a esse tal privilégio branco.

O correspondente do Fantástico em Portugal, Leonardo Monteiro, esteve na praia onde a mulher realizou os ataques – e conversou com testemunhas. Elas contaram que a agressora já estava discutindo com atendentes antes dos atos racistas.

Por nota, a direção do restaurante repudiou a conduta racista da mulher e se colocou à disposição para fornecer as imagens gravadas pelas câmeras de segurança. E o consulado brasileiro, também por nota, ofereceu assistência jurídica.

A mulher foi levada para uma delegacia da Guarda Nacional republicana, bem perto da praia onde Bruno e Giovanna estavam com os filhos. Ela prestou depoimento, foi identificada e depois liberada. Agora, o casal tem até seis meses para apresentar uma queixa crime formal às autoridades portuguesas.

De acordo com o advogado especialista em Direitos Humanos Hélio Gustavo Alves, esse crime racial tem previsão no Código Penal português, no artigo 240. Dependendo de como a corte portuguesa enquadrar, a mulher pode pegar uma pena de 6 meses a 5 anos de prisão.

Fantástico não conseguiu contato com a agressora responsável pelos ataques racistas aos filhos de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso.

Fonte: G1