Avanço do Guaíba sobre a capital Porto Alegre gera pânico, mas também solidariedade

A cidade sob o domínio do Guaíba

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Famílias deixaram suas casas de barco
Ricardo Rimoli / Agencia RBS

A vida dos moradores de Porto Alegre nunca mais será a mesma depois deste final de semana. Entre a chuvosa sexta-feira e o ensolarado fim de tarde de domingo, a Capital percebeu como estavam erradas todas as outras vezes em que a palavra caos foi usada para descrever uma situação. O Guaíba engoliu parte da cidade. Mais de 100 mil vivem em locais sob risco a ponto de serem orientados a sair.

Pessoas que deixavam suas casas com água pela cintura até agradeciam, porque havia vizinhos que mal enxergavam os telhados de suas residências enquanto percorriam ruas a bordo de barcos, motos aquáticas e até colchões infláveis. Ao mesmo tempo, o pôr do sol mais bonito do mundo iluminou milhares de voluntários que se aglomeraram na orla para receber resgatados, oferecer lanche, água, roupas secas ou pelo menos um abraço.

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Pânico na Zona Norte

O cenário mais assustador estava na Zona Norte. No domingo, o dique do Arroio Feijó, no Bairro Sarandi, extravasou. Não rompeu, como sugeriram os áudios no WhatsApp. Foi o suficiente para causar pânico, o que é compreensível, dado o cenário. A água cobria carros, janelas. Barcos conduziam moradores que precisavam se abaixar para não bater a cabeça nos cabos de energia elétrica. A prefeitura fez o alerta mais incisivo do final de semana.

Luziu“, então, o melhor de Porto Alegre. E que muita gente nem lembrava. Uma cidade que parecia ter esquecido da convivência viu uma onda de solidariedade. As pessoas que saíam do Sarandi e adjacências com seus filhos, netos, avós, cães e gatos eram orientadas a ir até o Teatro Renascença, na Avenida Érico Veríssimo. Para isso, se deslocavam em carros, vans, motos de pessoas que simplesmente estavam lá com essa missão.

Centro Histórico ficou comprometido pelas águas
Matheus Pé / Especial

No teatro, estavam outros tantos voluntários. Acolhiam, faziam triagem, entregavam mantimentos, roupas. Estacionados em frente ao local, táxis e carros particulares aguardavam o destino seguinte para onde seriam levados os desabrigados. Eram 15 mil voluntários inscritos no site da prefeitura. Não estão contabilizados os muitos cidadãos que foram para lá munidos de sanduíches, por exemplo. Aqueles que puderam ouvir de um gurizinho de não mais de 10 anos, falando e sorrindo a um amigo:

“Olha o que me deram” – e apontava para um copo de refrigerante, cachorro-quente e uma caixinha de chocolate, antes de ser conduzido a um dos 60 abrigos, que receberão até 7,2 mil pessoas (e já eram 85% das vagas ocupadas até o fechamento da edição).

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Impactos

Vai ser preciso mais solidariedade. Ainda falta bastante para tudo passar. A prefeitura informou que 67 bairros da Capital foram afetados pela inoperância de quatro das seis estações de tratamento do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). Segundo o órgão, 82,7% da cidade está sem abastecimento ou com baixa pressão de água. O prefeito disse que existe “o risco de um colapso total pela falta de fornecimento de água e de energia elétrica”:

“Quem puder, que vá ao litoral pela RS-040. Não há necessidade de todos saírem ao mesmo tempo, mas é prudente sair da cidade, caso possa. A cidade precisa ficar livre de trânsito para que possamos salvar todas as vidas em risco.”

Nesta segunda-feira (6), o transporte coletivo de Porto Alegre vai operar com tabela de sábado. A alteração ocorre por conta da redução da demanda de circulação prevista.

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