Em resposta a cardeais conservadores, papa vê possibilidade de bênção a casais gays

Francisco aborda questões sobre uniões do mesmo sexo em resposta a líderes conservadores

O papa Francisco, em resposta a perguntas enviadas por cinco cardeais conservadores representando diferentes regiões do mundo, expressou a crença de que é possível abençoar uniões entre casais do mesmo sexo. O sumo pontífice destacou que tais bênçãos devem ser consideradas de maneira limitada, decididas caso a caso e não devem ser confundidas com as cerimônias tradicionais de casamento heterossexual. Essa resposta surge em meio a dúvidas levantadas pelos cardeais durante um encontro global no Vaticano, revelando um debate interno sobre a postura da Igreja em relação aos casais LGBTQI+.

Em uma correspondência divulgada unilateralmente pelos cardeais conservadores em julho, foi revelado que eles buscavam esclarecimentos sobre a posição da Igreja em relação aos casais do mesmo sexo. A resposta do papa Francisco, tornada pública pelo Vaticano, destaca a importância da caridade pastoral em todas as decisões, enfatizando a necessidade de compreensão e paciência por parte dos líderes religiosos. A divulgação da correspondência e da resposta evidencia as divergências dentro da hierarquia católica em relação a temas sensíveis.

Posicionamento claro da Igreja sobre casais do mesmo sexo e sacramentos

A resposta do papa Francisco, apresentada em sete pontos, reitera o posicionamento da Igreja de que a atração pelo mesmo sexo não é considerada pecaminosa, mas os atos homossexuais são. Ele enfatiza a clareza da Igreja ao afirmar que o sacramento do matrimônio é exclusivo entre um homem e uma mulher, aberto à procriação. No entanto, o pontífice destaca a necessidade de abordar pedidos de bênçãos com prudência pastoral, evitando rituais que contrariem esse ensinamento, mas mantendo uma abordagem compassiva.

Continua após a publicidade..

Francisco destaca a importância da prudência pastoral ao discernir se as bênçãos solicitadas não transmitem uma concepção equivocada do casamento. Ele argumenta que os pedidos de bênçãos são expressões de busca por ajuda divina e uma confiança em Deus para viver melhor. O papa reforça que a caridade pastoral deve permear todas as decisões, alertando contra uma postura de negação e exclusão por parte dos líderes religiosos.

Bênçãos não devem se tornar norma, mas abordagem flexível é encorajada

Apesar da abertura às bênçãos a casais do mesmo sexo, o papa Francisco adverte que tais práticas não devem se tornar a norma nem receber aprovação geral das jurisdições da Igreja, como dioceses ou conferências episcopais nacionais. Ele propõe uma abordagem flexível, sugerindo que a análise caso a caso seja adotada, reconhecendo que a vida da Igreja pode fluir em canais além das normas estabelecidas. Essa flexibilidade é particularmente relevante diante de práticas já relativamente comuns, como a bênção de casais do mesmo sexo por padres na Alemanha.

Manifestações de apoio às leis civis que beneficiam cônjuges do mesmo sexo

Francisco já havia expressado apoio às leis civis que concedem benefícios legais a cônjuges do mesmo sexo. A resposta do papa destaca um equilíbrio delicado entre a fidelidade aos ensinamentos tradicionais da Igreja e a compreensão das realidades sociais contemporâneas. Esse posicionamento pode representar uma evolução significativa na postura da Igreja Católica em relação às questões LGBTQI+, reconhecendo a importância das leis civis na promoção da igualdade e do respeito.

Recepção positiva de grupos que promovem inclusão na Igreja

Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, uma organização que busca ampliar a inclusão dos católicos LGBTQI+ na Igreja, elogiou a resposta do papa. Embora não seja um “endosso pleno e sonoro” às bênçãos, DeBernardo considera a carta papal como um avanço significativo. Ele destaca que as palavras de Francisco indicam um reconhecimento mais amplo de que o amor sagrado pode existir entre casais do mesmo sexo, refletindo o amor divino.

A carta do papa Francisco é interpretada como um esforço para reduzir a marginalização dos católicos LGBTQI+ na Igreja, sinalizando uma maior aceitação e compreensão. Essa recepção positiva de grupos que promovem a inclusão ressalta a importância de abordagens mais flexíveis e compassivas em temas que refletem a diversidade da sociedade contemporânea. O debate sobre a postura da Igreja em relação aos casais do mesmo sexo continua, mas a resposta do papa representa um passo significativo em direção à compreensão e aceitação.