Produtos medicinais, pintura indígena, chope de jatobá e coquinho azedo, além de artesanato e comidas. Esses são alguns dos produtos da sociobiodiversidade que podem ser encontrados no 10º Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, que termina neste sábado (16), na Torre de TV, área central de Brasília.
Com mais de 270 expositores de nove estados do Cerrado brasileiro, a feira é uma oportunidade para conhecer a riqueza dos sabores e saberes desse bioma, que ocupa nada menos do que 24% do território nacional. O evento ainda conta com uma diversa programação cultural. Na noite de encerramento, as atrações são Teatro de Mamulengo Sem Fronteiras, Quilombo de Bom Sucesso dos Negros, mulheres indígenas Xavante, Baile da Miasinha e o grupo Pé de Cerrado.
Natural da região do Jalapão, em Tocantins, a artesã Elizane Ramalho cria diversos tipos de cestaria, biojóias e outros adornos utilizando o capim dourado, uma espécie de sempre-viva fartamente encontrada em veredas do Cerrado. “Eu fico muito orgulhosa por fazer parte disso [artesanato], de saber que minha mão faz ensinar. De conseguir fazer algo que só depende de você, e de criar uma peça e aparecer outra. Eu vou dormir já pensando na peça que vou fazer no dia de manhã”, disse.
A bióloga Rosalia Baribieri, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é do Rio Grande do Sul e estava passando a semana em Brasília, a trabalho, quando soube da feira e foi conferir. Além de encantada com o que viu, participou de oficina de turbantes e uma promovida por raizeiras do Cerrado.
“Circulamos, falamos com algumas pessoas. Eu comprei uma oncinha carajá, chocolate. Você vê a importância de conhecer outros artesanatos, que não os das lojas comerciais, e conhecer o que é feito pela mão de uma comunidade lá na ponta”, relatou.
Realizado desde 2001, o Encontro e Feira dos Povos do Cerrado é um grande espaço de troca de experiências e articulações em defesa do bioma e dos seus povos. Com o tema Cerrado: Conexão de Povos, Culturas e Biomas, o evento deste ano deve reunir cerca de 10 mil pessoas, incluindo representantes quilombolas, indígenas, quebradeiras de coco babaçu, geraizeiros, entre outros povos tradicionais, definidos como comunidades herdeiras dos “saberes ancestrais e tradicionais que guiam, há inúmeras gerações, o manejo das matas e paisagens que fazem dessa rica savana uma das regiões mais biodiversas do mundo”, segundo o conceito elaborado na publicação Saberes dos Povos do Cerrado e Biodiversidade.
Considerado o berço das águas do Brasil, o Cerrado é a origem das nascentes de oito das 12 bacias hidrográficas mais importantes do país. É também o segundo maior reservatório subterrâneo de água do mundo, formado pelos aquíferos Guarani e Urucuia. Apesar da importância para a segurança hídrica e agrícola do país, o bioma tem sido um dos mais devastados ao longo das últimas décadas, e viu o cenário piorar nos últimos anos, principalmente na região conhecida como Matopiba – acrônimo que se refere aos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.