Segundo Lito Souza, piloto, mecânico e dono do canal ‘Aviões e Músicas’, ainda é cedo para estabelecer uma causa, mas as imagens sugerem que aeronave iniciava procedimento de pouso; instrutor concorda e destaca que provavelmente foi uma colisão violenta no solo
O avião que levava a cantora Marília Mendonça e outras quatro pessoas caiu nesta sexta, 5, causando a morte de todos que estavam na aeronave. Ainda não se sabe o que causou o acidente aéreo, e a investigação deve começar nos próximos dias por parte do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa), órgão da Força Aérea Brasileira (FAB). Em entrevista à Jovem Pan News, o especialista em mecânica de aeronaves, piloto e dono do canal do youtube ‘Aviões e Músicas’ Lito Souza comentou sobre o que é possível deduzir a partir das imagens do acidente que circulam e quais são os passos da investigação, desde o início até o relatório final, que ainda deve demorar para sair. Ele ainda destacou que aviões de pequeno porte tem uma regulamentação mais ‘flexível’ do que os voos comerciais, o que é necessário pois poucos jatos poderiam voar se estivessem submetidos ao mesmo conjunto de regras.
“Ainda é muito cedo para falar [sobre causas], com o acidente tendo ocorrido há poucas horas. O que a gente pode falar é sobre os fatos que as imagens mostram. Então, a gente tem o avião muito próximo do local onde iria pousar, estava bem na frente, alinhado com a pista, então estava em um procedimento já de aproximação para o pouso. A fuselagem não está tão danificada a ponto de ter causado esse número elevado de vítimas. É algo que só vamos saber após as apurações preliminares, o que causou as mortes, se foi uma desaceleração brusca. É possível observar um dano extenso na parte traseira da aeronave, na cauda, e que os motores também estão bastante danificados e foram projetados para baixo d’água. Não houve incêndio, o que geralmente significa que não existiam uma quantidade de combustível para causar ignição, mas não estou dizendo que foi isso, mesmo porque ele caiu numa área de água. Ainda é muito cedo para falar o que poderia ter acontecido. A fuselagem ter ficado quase inteira é um indício de que o avião estava em baixa velocidade quando caiu”, afirmou o especialista. Segundo Lito, ainda não é possível afirmar que o piloto estava tentando realizar um pouso forçado.
Piloto e instrutor de voo de Salvador, Eryck Santos concorda com a avaliação de Souza, mas complementa: “É possível ver pelas imagens que a fuselagem está torcida em alguns pontos, dando a entender que o impacto ao solo ocorreu a baixa velocidade porém de uma forma muito violenta, indicando uma desaceleração muito brusca não dando chances de vida para os ocupantes. A forma com o qual a fuselagem se encontra após o acidente, dá a entender uma possível falha estrutural ou colisão com algum obstáculo, e possivelmente, na sequência, a tentativa de controle da aeronave pela tripulação, seguido de um pouso em baixa velocidade e grande impacto com o solo. A falta de fogo no local pode ser explicada por diversos fatores, dentre eles a falta de combustível e a forma em que a aeronave atinge o solo. Tudo indica que, nesse caso, não houve movimento no solo e por isso, aparentemente não houve atrito, logo não há presença de fogo”, analisa Santos. Ele ainda destaca que, na região onde o acidente ocorreu, é importante os pilotos terem um conhecimento prévio, seja de experiência própria ou perguntando a outros que já voaram por ali.
Lito ainda comentou sobre como se desenvolve a investigação. “Após a chegada dos investigadores começa o processo. O primeiro passo que vão tomar é localizar a caixa preta. Esse avião, apesar de não ser obrigatório, tem uma caixa preta que grava os pilotos e talvez uma voz de um passageiro que fale mais alto. Eles vão localizar essa caixa preta que é uma fonte de informações muito importante sobre o que causou o acidente. Eles fotografam o estado do avião, recolhem diversos componentes da aeronave e fazem medições para saber em que posição estava antes do impacto. Eles conseguem, através de investigação forense, descobrir se a peça estava daquele jeito antes do impacto ou se foi quebrada pelo impacto. Pegam amostra do combustível, coletam óleo dos motores, para saber se os motores estavam desenvolvendo potência ou não. Vão investigar de onde o avião saiu, analisam lá de onde o combustível saiu, verificam o plano de voo, investigam a vida pregressa do piloto, em que equipamentos ele voava, que treinamentos ele fez, e a mesma coisa com o copiloto. Por isso, ele demora tanto, cerca de um ano, um ano e meio, até dois anos até sair um relatório final”, disse Souza.
Fonte: JP News