Vínculo do narrador e apresentador com a emissora acaba no fim de 2022
Galvão Bueno vai deixar as narrações na TV Globo após a Copa do Mundo de 2022, no Catar, período que coincide com o fim do contrato dele com a emissora.
Um dos maiores narradores esportivos da história da televisão brasileira, ele se despede depois da competição no Oriente Médio e encerrará um ciclo que teve início na empresa em 1981.
Galvão comandará nesta quinta-feira, a partir das 20h30, sua última partida da seleção brasileira no Maracanã na tela da Globo. Data mais do que especial para quem se notabilizou com narrações históricas dos jogos do Brasil, sobretudo nas conquistas do tetra e do penta, em 1994 e 2002, além das medalhas de ouro do futebol masculino nas Olimpíadas do Rio, em 2016, e de Tóquio, em 2021.
— Estamos conversando, são reuniões em sequência do que será feito depois da Copa do Mundo. Pretendo realmente dar um mergulho de cabeça nesse mundo digital. Estamos negociando participações, sequência na Globo, outras plataformas. A Globo é minha casa. Não poderia chegar a minha última transmissão de seleção brasileira em TV aberta sem me referir a isso. É um momento que vai ser muito especial, marcante e de muita emoção — afirmou Galvão.
Renato Ribeiro, diretor de Esportes da Globo, destacou o legado que Galvão deixará na televisão brasileira e prometeu uma despedida inesquecível.
— Galvão é um gênio da comunicação, que reinventou a função de um narrador nas transmissões esportivas. Haverá pra sempre na história da TV brasileira o antes e o depois de Galvão. Juntos, estamos preparando uma despedida à altura da história dele na Copa do Catar. Será inesquecível para o Galvão e para o público — acrescentou.
Galvão atingirá no Catar a impressionante marca de 13 Copas do Mundo no currículo — 11 delas apenas na Globo, narrando todas as finais desde 1990. São 48 anos como narrador, 41 na mesma emissora.
— Estamos juntos certamente com a Seleção e o futebol até 18 de dezembro. Depois, vira-se uma página do livro e o livro continua — disse o narrador.
A carreira
Carlos Eduardo dos Santos Galvão nasceu em 21 de julho de 1950, na Tijuca, Rio de Janeiro, seis dias após o Brasil perder a Copa do Mundo para o Uruguai, no Maracanã.
Galvão começou a carreira em 1974, na Rádio Gazeta e, depois, na TV Gazeta, onde ficou até 1977. Um ano depois, participou das transmissões dos jogos da Copa do Mundo da Argentina, pela TV Record, como comentarista, e permaneceu na emissora por dois meses.
Em seguida, foi para a Bandeirantes, onde trabalhou durante quatro anos. O convite para a Globo veio em 1981. Com um estilo próprio de narração, Galvão revolucionou o ritmo das transmissões esportivas na Globo que ficou marcado por um tom inconfundível.
— Na Bandeirantes, resolveram que eu seria narrador. Estava começando a rede. Eu fiz alguns jogos em circuito fechado. A direção achou ótimo. Eu achei um horror. E comecei a ser narrador. Fiquei lá três anos e pouco com essa função, quando começou o namoro com a Globo. O que eu queria na vida era vir para a Globo – disse Galvão, em entrevista ao Memória Globo.
Galvão Bueno foi conquistando espaço e respeito a cada evento que participava. Virou uma referência de qualidade e envolvimento nas transmissões de futebol e corridas de Fórmula 1. Gols e ultrapassagens são comemorados sempre com entusiasmo e vibração, contagiando o público de maneira inigualável. “Tem que arrepiar”, acredita, exatamente como ele se sente: arrepiado. Se perguntado sobre o que gosta mais de narrar, futebol ou corrida de Formula 1, a resposta é desconcertante.
— Todo mundo pergunta. Eu respondo: ‘basquete’. Mas, na realidade, a minha carreira foi feita em cima do futebol e da Fórmula 1. É evidente que não há nada igual a uma Copa do Mundo. Não há evento no mundo que seja mais importante para um brasileiro e, consequentemente, para quem trabalha nisso. A Fórmula 1 é cativante porque é muito mais difícil de transmitir.
Das narrações que fez de automobilismo, Galvão Bueno destaca a conquista dos dois títulos de Nelson Piquet, em 1983 e 1987, e os três campeonatos de Ayrton Senna, em 1988, 1990 e 1991. Amigo pessoal de Senna, Galvão não gosta nem de lembrar da morte do piloto no Grande Prêmio de Ímola, em 1º de maio de 1994.
No futebol, considera um privilégio acompanhar de perto os títulos da seleção canarinho. Participou da cobertura de todas as Copas a partir de 1982, e narrou as finais desde 1990 até o Mundial da Rússia em 2018. Na Copa da França, em 1998, Galvão coordenou o debate esportivo Bate-Bola, um quadro do Esporte Espetacular com comentários sobre os jogos do torneio.
Na Copa do Mundo da Coréia e Japão, em 2002, o Bate-Bola passou a ser um programa independente, exibido logo após os jogos da seleção. Além do programa, Galvão Bueno, Pedro Bial e Fátima Bernardes apresentaram o Brasil na Copa, exibido nas noites de domingo.
Experiente, amigo de vários expoentes do esporte nacional, Galvão Bueno apresentou o programa Espaço Aberto, na GloboNews, de 1999 a 2001. Em 2003, estreou o Bem, Amigos!, no canal SporTV. A menina dos olhos da vez, aponta, é o MMA (em português, Artes Marciais Mistas), esporte que acredita ser a próxima paixão do brasileiro.
Galvão Bueno é conhecido, ainda, por seus bordões. Do longínquo “vai que é sua, Taffarel”, ao cantado “Ronaldinhooo”, terminando naquele que é seu cartão de visitas, “bem, amigos!”.
— Eu nunca me preocupei em criar nenhum bordão. Algumas coisas pegam, ficam, mas vêm meio sem querer. Como a história do ‘Bem, amigos da Rede Globo’. Um dia eu fui abrir uma transmissão e me deu um branco. Eu não sabia se diria ‘boa tarde’, ‘boa noite’, o que falava – porque se estou de noite em algum lugar, pode ser de tarde no Brasil. Então, falei: ‘Bem, amigos da Rede Globo…’ E ficou. Caiu no gosto popular.
As lendárias narrações e os momentos marcantes do esporte transformaram Galvão na grande referência da profissão e em um ícone popular.
— Vejo, quando chego a uma cidade do interior, no Nordeste, no Norte, no jogo do Brasil, a loucura que é. Ao mesmo tempo, ser xingado por 60 mil pessoas no estádio quando a torcida está com raiva de você, ou ser ovacionado por 70, 80 mil pessoas em outro estádio, é uma coisa louca. Isso não passava pela minha cabeça. Até porque não tinha acontecido com ninguém na minha profissão. Aumenta a responsabilidade e aumenta, claro, a autoestima. Assusta um pouco. Hoje, eu me policio mais do que me policiava antes. A idade traz isso: um pouco mais de sabedoria. A gente mexe demais com os sentimentos das pessoas. Meu acelerador é mais forte que o freio. Mas eu sou realizado. Feliz, feliz, feliz demais com esses anos todos.
Fonte: GE