SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fernando Haddad (PT), 59, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), 47, avançaram para o segundo turno na eleição ao Governo de São Paulo, segundo projeção do Datafolha. O resultado impõe uma derrota inédita ao PSDB do atual governador, Rodrigo Garcia, 48, que terminou em terceiro, e compromete o futuro da sigla.
Desde 1994, os tucanos vinham vencendo as eleições paulistas -inclusive no primeiro turno em 2006, 2010 e 2014. Segundo aliados, Rodrigo não deve declarar apoio formal a nenhum dos adversários no segundo turno.
Com 47,23% das urnas apuradas, Tarcísio aparecia na frente, com 44,08% dos votos, seguido por Haddad, com 34,02%. Rodrigo tinha 18,54%.
Nesta segunda etapa, Haddad e Tarcísio pretendem seguir a mesma fórmula das últimas semanas -grudar suas campanhas às figuras dos respectivos padrinhos políticos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
A pesquisa Datafolha divulgada neste sábado mostra que, no segundo turno, Haddad marca 46% contra 41% de Tarcísio. A vantagem vem caindo –em agosto, os índices eram 53% a 31%. A rejeição ao petista cresceu ao longo da campanha e chegou ao pico de 40%, ante 33% do bolsonarista.
Os estrategistas do PT minimizam esse dado, argumentando que o índice não impede uma vitória e tem relação com o nível de conhecimento dos candidatos pela população.
Haddad, que foi ex-prefeito da capital paulista e ex-ministro da Educação de Lula, é bem mais conhecido (93% dos eleitores disseram saber quem ele é no Datafolha do último dia 29) do que Tarcísio (67%).
O ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro se esforçou para se apresentar como bolsonarista e alguém que conhece São Paulo, já que nasceu no Rio e mudou seu domicílio para São José dos Campos (SP) só para a eleição. Em uma entrevista, não soube indicar o colégio em que vota –viralizou e foi alvo de rivais.
Para projetar uma vitória de Haddad no próximo dia 30, o PT se agarra ao fato de que o antibolsonarismo é expressivo em São Paulo. O levantamento do Datafolha divulgado na véspera da votação mostrou que Lula tem uma leve dianteira numérica em relação a Bolsonaro no estado (41% a 37%).
Como Rodrigo era um adversário considerado mais forte na segunda etapa, uma vez que já havia até ultrapassado Haddad numericamente nas projeções de segundo turno, a campanha do PT centrou ataques no tucano, na tentativa de enfrentar Tarcísio nas próximas quatro semanas.
Para se diferenciar dos adversários, que buscavam reproduzir a polarização nacional entre PT e Bolsonaro em São Paulo, Rodrigo não se vinculou a nenhum presidenciável. A independência guiou seu mote de “proteger o estado da briga política” e o slogan “nem esquerda nem direita”. Por isso, afirmam aliados, a ideia é manter a neutralidade no segundo turno, justamente para não comprometer a imagem de terceira via. Os duros ataques trocados entre os três adversários também dificultam qualquer composição.
Uma parcela do PT, no entanto, afirma não ser impossível atrair tucanos -o próprio Lula conseguiu apoio de parte das figuras históricas da sigla. Nos bastidores, a campanha de Tarcísio diz que não haverá uma postura proativa na busca pelo PSDB, mas ressaltam que todo apoio é bem-vindo.
Rodrigo amarga uma dura derrota para o PSDB mesmo com a máquina estatal a seu favor e o apoio de mais de 500 prefeitos -irrigados com verba e entregas do governo. Teve ainda a maior coligação e o dobro do tempo de TV, além da aliança com a União Brasil, que detém o maior volume de recursos para o pleito.
Por outro lado, o governador tinha o antecessor, João Doria (PSDB), de quem foi vice-governador, como âncora. A tentativa de Doria, cuja rejeição é alta, de se lançar ao Planalto gerou uma crise no partido, que acabou por enterrar sua candidatura. Assim, Rodrigo buscou esconder o aliado na campanha.
Haddad também montou uma coligação numerosa (PT, PSB, PV, Rede, PC do B e PSOL), numa inédita união da esquerda. Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL) desistiram de concorrer ao governo estadual para apoiá-lo. O petista teve a seu dispor R$ 25,8 milhões e declarou despesa de R$ 18,9 milhões, segundo dados de sábado. A maior parte (R$ 24,7 milhões) é de verba pública doada por PT e PSB.
Tarcísio arrecadou menos (R$ 16,3 milhões), R$ 10 milhões dos quais oriundos de partidos, e o restante de doações de pessoas físicas. Rodrigo, por sua vez, teve R$ 25,2 milhões de receitas e R$ 23,8 milhões de gastos -R$ 23,1 milhões em recursos públicos bancados sobretudo por PSDB e União Brasil.
O bolsonarista, do Republicanos, formou coligação com PSD, PL, PTB, PSC e PMN. Aliados polêmicos, como Eduardo Cunha (PTB), Fernando Collor (PTB) e o prefeito de Embu das Artes, Ney Santos (Republicanos), suspeito de ligação com a facção criminosa PCC, tornaram-se munição para os rivais.
A campanha de Tarcísio foi marcada pela necessidade de afirmar o candidato como bolsonarista e de contornar o fato de ele não ser paulista. Ele foi lançado ao governo de São Paulo por Bolsonaro, não sem antes ter cogitado se candidatar ao Senado por Goiás ou pelo Mato Grosso. Tarcísio também foi alvo de fogo amigo. Aliados do presidente se incomodavam com o fato de o ex-ministro não embarcar na guerra contra as urnas e o Judiciário, embora defenda o governo federal em termos de economia e resultados.
Por outro lado, o ex-ministro chegou a questionar a obrigatoriedade de vacinação para servidores e o uso das câmeras acopladas aos uniformes da Polícia Militar do estado, medida que reduziu a letalidade policial.
Já Haddad passou boa parte da campanha se esquivando de críticas à sua gestão na Prefeitura de São Paulo. A administração do petista foi considerada ruim ou péssima por 48%, e apenas 14% a avaliaram como ótima ou boa, de acordo com pesquisa Datafolha, o pior índice desde Celso Pitta.
Seguindo a indicação da campanha nacional do PT de centrar o discurso na inflação e na fome, Haddad apostou em promessas populares, como o aumento do salário mínimo paulista, a retirada do ICMS da carne e da cesta básica e a criação de um Bilhete Único metropolitano.