Nesta quinta (8), Luciano Bonilha Leão, Mauro Londero Hoffman e Marcelo de Jesus dos Santos serão interrogados, nesta ordem, a partir de 9h. Elissandro Spohr falou na noite de quarta (8).
O julgamento dos quatro réus no processo pelo incêndio da boate Kiss continua nesta quinta-feira (9), no Foro Central, em Porto Alegre, com os interrogatórios dos outros três acusados. Elissandro Spohr, sócio da casa noturna, já foi ouvido pelo juiz Orlando Faccini Neto nesta quarta (8).
Luciano Bonilha Leão, técnico de som da Gurizada Fandangueira e apontado como o responsável pela aquisição do artefato pirotécnico que iniciou o incêndio, é o primeiro. Ele deve ser interrogado a partir das 9h.
Na sequência, Mauro Londero Hoffmann, sócio de Kiko na boate, responderá ao terceiro interrogatório. E Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista do grupo e responsável por iniciar o fogo na casa noturna, é o último.
Eles serão questionados pelo juiz-presidente Orlando Faccini Neto e pelas demais partes, sejam de defesa ou acusação. Porém, como antecipou o magistrado, poderão ficar em silêncio para qualquer dos questionamentos se assim desejarem.
No caso de Elissandro, o próprio advogado dele, Jader Marques, decidiu não perguntá-lo depois das intervenções do juiz Faccini Neto. “Pela quantidade e qualidade dos seus questionamentos e por uma orientação defensiva, por tudo que ocorreu e está acontecendo, a gente vai permitir apenas as perguntas para os jurados”, disse Marques.
Como nenhum dos integrantes do Conselho de Sentença se pronunciou, a sessão foi encerrada por volta das 21h20 desta quarta.
“Eu já tinha decidido, até porque sabia da postura do advogado em outros processos, que não ia deixar consignado nenhum questionamento diante da Lei de Abuso de Autoridade. Mas se ele fosse perguntar, ia pedir para constar em ata a escolha: por que não responder a mim e responder ao defensor”, avaliou a promotora Lúcia Helena Callegari após o júri.
Depois do interrogatório dos quatro réus, o julgamento vai para a última fase com os debates. Nesta etapa, que deve acontecer na sexta (10), Ministério Público, assistentes de acusação e bancadas de defesas apresentam seus argumentos aos jurados.
O tempo total é de nove horas distribuídos em duas horas e meia para acusação, outras duas horas e meia para as defesas dos réus, sendo que eles dividem o tempo, e mais duas horas de réplica e duas horas de tréplica, caso o Ministério Público desejar.
Depois disso, os jurados serão indagados se estão prontos para decidir e passam a uma sala privada para responder ao questionário. Eles decidem individualmente e de modo secreto a perguntas formuladas pelo magistrado.
A decisão da maioria simples, ou seja, quatro votos, prevalece. Por fim, o juiz calcula as penas, em caso de condenação, e faz a leitura da sentença.
Até o momento, 28 pessoas passaram pelo plenário. Foram 12 vítimas, 13 testemunhas e três informantes ouvidos em oito dias. (Veja os depoimentos abaixo)
O que disseram os sobreviventes
- Kátia: ‘comecei a gritar que não queria morrer’, diz ex-funcionária que teve corpo queimado
- Kelen: ‘última vez que corri foi para tentar me salvar’, diz sobrevivente que teve perna amputada
- Emanuel: ‘não soou alarme’, conta sobrevivente especialista em prevenção de incêndio
- Jéssica: ‘vi quando pegou a faísca’, conta sobrevivente que perdeu irmão
- Lucas: ‘eu desmaiei, fui muito pisoteado’, diz DJ da boate
- Érico: ‘ajudei até o final’, conta barman que ajudou no socorro às vítimas
- Maike: ‘parecia que estava respirando fogo’
- Cristiane: ‘aquilo era um filme de terror’
- Delvani: ‘fui caindo e me despedindo da minha família’
- Doralina: ‘lembro de muito grito, muita confusão’, diz ex-segurança
- Willian Renato: ‘Ele queria voltar’, diz sobrinho sobre Kiko Spohr
- Nathália: ‘fiquei preocupada com a gravidez’, relata esposa de Kiko sobre incêndio
O que disseram as testemunhas
- Engenheiro diz que sugestão de sócio para instalar espuma acústica era ‘leiga e ignorante’
- ‘Artefatos não podem ser usados em ambiente fechado’, diz gerente de loja
- Juiz transforma testemunha em informante após filha postar ‘apodreçam na cadeia’
- ‘Ele sofre por isso’, diz ex-patrão de vocalista da banda ouvido em audiência
- ‘Não era de costume informar as casas’, diz testemunha de defesa sobre o uso de fogos nos shows
- Testemunha é convertida em informante por responder a processo por falsidade ideológica ligado à boate
- Promotor de eventos: ‘Alguma coisa me tirou de lá’
- Irmão do vocalista da banda: ‘nós não quisemos matar ninguém’
- Técnico de som: ‘errei’, sobre desativar áudio do palco ao ver incêndio
- ‘Alertei sobre o risco de não ter responsável técnico’, diz arquiteta sobre obra na boate
- Primeiro condenado pelo incêndio, ex-chefe dos bombeiros confirma que ‘alvará estava vencido’
- Dono de outra boate em Santa Maria encerra 7º dia de júri da Kiss
- Prefeito de Santa Maria na época da tragédia, Cezar Schirmer diz: ‘cidade traumatizada’
- Distribuidor de bebidas que atendia Kiss é ouvido no júri
- Testemunha fala sobre a relação comercial com ex-sócio da Kiss e réu no júri
- Promotor que firmou termo de ajuste de conduta com a Kiss é última testemunha ouvida no júri
Quem são os réus?
- Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, 38 anos, era um dos sócios da boate
- Mauro Lodeiro Hoffmann, 56 anos, era outro sócio da Boate Kiss
- Marcelo de Jesus dos Santos, 41 anos, músico da banda Gurizada Fandangueira
- Luciano Augusto Bonilha Leão, 44 anos, era produtor musical e auxiliar de palco da banda
Entenda o caso
Os quatro réus são julgados por 242 homicídios consumados e 636 tentativas (artigo 21 do Código Penal). Na denúncia, o Ministério Público havia incluído duas qualificadoras — por motivo torpe e com emprego de fogo —, que aumentariam a pena. Porém, a Justiça retirou essas qualificadoras e converteu para homicídios simples.
Para o MP-RS, Kiko e Mauro são responsáveis pelos crimes e assumiram o risco de matar por terem usado “em paredes e no teto da boate espuma altamente inflamável e sem indicação técnica de uso, contratando o show descrito, que sabiam incluir exibições com fogos de artifício, mantendo a casa noturna superlotada, sem condições de evacuação e segurança contra fatos dessa natureza, bem como equipe de funcionários sem treinamento obrigatório, além de prévia e genericamente ordenarem aos seguranças que impedissem a saída de pessoas do recinto sem pagamento das despesas de consumo na boate”.
Já Marcelo e Luciano foram apontados como responsáveis porque “adquiriram e acionaram fogos de artifício (…), que sabiam se destinar a uso em ambientes externos, e direcionaram este último, aceso, para o teto da boate, que distava poucos centímetros do artefato, dando início à queima do revestimento inflamável e saindo do local sem alertar o público sobre o fogo e a necessidade de evacuação, mesmo podendo fazê-lo, já que tinham acesso fácil ao sistema de som da boate”.
Fonte: G1