Justiça do Paraguai decide manter Ronaldinho Gaúcho e Assis presos

Por Martín Fernandez e Raphael Sibilla — Assunção, Paraguai

Em audiência que começou pela manhã e durou mais de seis horas neste sábado, a Justiça do Paraguai decidiu por manter Ronaldinho Gaúcho e seu irmão, Assis, presos pelo uso de documentos falsos. A ordem de prisão preventiva foi dada pela juíza Clara Ruíz Díaz. Ambos seguirão em reclusão na Agrupación Especializada da Polícia Nacional do Paraguai, em Assunção. A prisão preventiva pode durar até seis meses.

O promotor Osmar Legal pediu a manutenção da prisão preventiva dos brasileiros alegando “risco de fuga e que o Brasil não extradita seus cidadãos”. Por outro lado, a defesa alegou que o empresário Assis tem um problema no coração e precisa de cuidados médicos (não apresentaram exames ou atestados exigidos pela lei paraguaia) e tentou, sem sucesso, transformar o caso em prisão domiciliar.

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Osmar Legal também pediu a prisão preventiva da empresária Dalia López, responsável pela ida de Ronaldinho ao Paraguai. Dalia é investigada desde setembro pelo Ministério de Tributação do país, equivalente à Receita Federal no Brasil. A paraguaia é suspeita de desvios de até 10 milhões de dólares. O órgão acredita que ela tenha usado a visita do ex-jogador para lavar dinheiro.

Ronaldinho Gaúcho e Assis chegam algemados ao Palácio de Justiça de Assunção — Foto: Norberto DUARTE / AFP
Ronaldinho Gaúcho e Assis chegam algemados ao Palácio de Justiça de Assunção — Foto: Norberto DUARTE / AFP

“O juizado considera que estamos contra um fato punível pelo Estado. Há perigo de fuga porque se trata de um estrangeiro que ingressou ao país de forma ilegal. Pediram a prisão domiciliar, mas não apresentaram nenhum documento”, declarou a juíza Clara, que decidiu manter a ordem de prisão.

Advogado de Ronaldinho considera decisão “arbitrária”

Um dos advogados que representa Ronaldinho e Asis, Tarek Tuma Marín, classificou de “irracional, arbitrária e leviana” a decisão da juíza. Ele garantiu que seus clientes “não cometeram qualquer crime contra a República do Paraguai” e que irá recorrer imediatamente.

Ainda segundo Tuma, a juíza violou o código penal e a Constituição paraguaia. Ele argumenta que o sistema paraguaio permite dar uma saída se a pessoa reconhece que o documento usado não é válido.

Ronaldinho Gaúcho passa a noite na cadeia e aguarda decisão da juíza
Ronaldinho Gaúcho passa a noite na cadeia e aguarda decisão da juíza

O advogado lembrou também que o primeiro promotor responsável pelo caso, Federico Delfino, havia decidido liberar Ronaldinho e seu irmão. A Procuradora-Geral do Estado, Sandra Quiñonez, ordenou a substituição dos promotores do caso, que recomendavam a liberdade dos brasileiros.

O novo representante do Ministério Público no processo, Osmar Legal, ordenou a captura de ambos e seu encaminhamento para a sede do Grupamento Especializado. O advogado de Ronaldinho afirmou que o ex-jogador admitiu o uso de documento falso.

– Ele aceitou o fato pelo qual está sendo acusado. Ele se submeteu ao processo, ofereceu uma reparação, mas mesmo assim teve imposta a prisão preventiva – lamentou Tuma.

O processo até a prisão

Ronaldinho e Assis foram presos preventivamente a pedido do MP para impedi-los de deixar o Paraguai (eles haviam comprado passagem de volta para o Brasil para a madrugada deste sábado). Na quinta-feira, o MP havia decidido não abrir processo formal contra eles, mas no dia seguinte o juiz Mirko Valinotti, do Juizado Penal de Garantias de Assunção, não aceitou essa tese e deu 10 dias para a promotoria investigar o caso e dar o parecer definitivo.

Durante a audiência deste sábado, os advogados que defendem Ronaldinho Gaúcho e Assis no Paraguai apresentaram um recurso que contesta essa decisão do juiz Mirko Valinotti, contrária à sugestão inicial do Ministério Público. A Procuradora-Geral do Estados, Sandra Quiñonez, determinou a substituição dos promotores do caso.

Defesa de Ronaldinho e Assis apresenta recurso na Justiça — Foto: Martín Fernandez
Defesa de Ronaldinho e Assis apresenta recurso na Justiça — Foto: Martín Fernandez

Três pessoas já foram acusadas após as investigações iniciais: o empresário Wilmondes Sousa Lira, apontado pela defesa de Ronaldinho como responsável pelos documentos falsos, e as paraguaias María Isabel Galloso e Esperanza Apolonia Caballero.

Wilmondes foi acusado por produção de documentos não autênticos, uso de documentos públicos de conteúdo falso e falsidade ideológica. Já María Isabel e Esperanza foram acusadas de uso de documentos públicos com conteúdo falso, e colocadas em prisão domiciliar.

Wilmondes Sousa Lira no momento da detenção, em Assunção — Foto: Agência EFE
Wilmondes Sousa Lira no momento da detenção, em Assunção — Foto: Agência EFE
María Isabel Gayoso Esperanza e Apolonia Caballero chegam à Promotoria para depoimento no caso Ronaldinho — Foto: Divulgação/Ministério Público do Paraguai
María Isabel Gayoso Esperanza e Apolonia Caballero chegam à Promotoria para depoimento no caso Ronaldinho — Foto: Divulgação/Ministério Público do Paraguai

Entenda o caso de Ronaldinho no Paraguai

Ronaldinho e Assis chegaram na manhã de quarta-feira em Assunção para participarem de evento da ONG Fundação Fraternidade Angelical. Ambos também foram ao país a convite do empresário Nelson Belotti, dono de um cassino que tem o ex-jogador como embaixador. Os passaportes no desembarque chamaram a atenção das autoridades.

Os dois passaram a ser suspeitos por uso de documentos falsos, mas apenas horas depois, à noite, membros do Ministério do Interior e do MP locais fizeram uma operação de busca.

Segundo o MP, passaportes, carteiras de identidade e telefones de R10 e Assis foram apreendidos no Yacht y Golf Club. Segundo o ministro do Interior Euclides Acevedo, os dois ficariam sob custódia no hotel até a manhã da última quinta-feira, quando foram prestar depoimento.

Ronaldinho Gaucho, Assis e advogados conversam com o promotor Federico Delfino, à direita, em seu escritório, no Paraguai — Foto: EFE/EPA/Paraguay Public Prosecutor
Ronaldinho Gaucho, Assis e advogados conversam com o promotor Federico Delfino, à direita, em seu escritório, no Paraguai — Foto: EFE/EPA/Paraguay Public Prosecutor