Ameaças de Yevgeny Prigozhin contra o governo de Putin levam a mobilização militar na Rússia
O líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, acusou nesta sexta-feira (23) as forças da Rússia de atacar as bases de seus soldados, um grupo paramilitar que lutou com a Rússia na guerra contra a Ucrânia, e ameaçou com represálias, segundo informações do New York Times. Os generais russos afirmam que Prigozhin tenta arquitetar um golpe de estado contra o presidente Vladimir Putin.
Acusações de ataques e corrupção do governo de Putin
O líder do grupo Wagner diz que o governo de Putin é corrupto e incompetente, e vem aumentando o tom das críticas nas últimas semanas, dizendo que as forças de Moscou têm atacado bases com seus comandados no sul do país com mísseis. “Lançaram bombas contra acampamentos”, acusou Prigozhin.
Origem e motivação do grupo mercenário
Os soldados do grupo mercenário – uma organização paramilitar – lutaram com a Rússia na ofensiva contra a Ucrânia e somam 25 mil combatentes. Jornais europeus falam que o número pode chegar a 50 mil. A maioria desses soldados teria sido recrutada em prisões da Rússia. Prigozhin disse que pretende marchar com eles por justiça “contra o mal na Rússia” e matar “qualquer um que estiver no seu caminho”, referindo-se aos militares e ao Kremlin.
Acusações contra o Ministério da Defesa e preparação para um possível golpe
O jornal The Guardian informou que Prigozhin também acusa o Ministério da Defesa da Rússia de “enganar o público e o presidente de espalhar a história de que houve agressão do lado ucraniano”, para justificar a invasão ao país vizinho. O governo russo afirma que o Grupo Wagner pretende iniciar uma guerra civil no país e planeja um golpe de estado para tirar Putin do poder. Diz que as acusações de Prigozhin não “correspondem à realidade”.
Investigação e mobilização militar em Moscou
De acordo com o NYT, as autoridades russas abriram uma investigação sobre o chefe dos mercenários do Wagner por “organizar uma rebelião armada”. Essa apuração pode resultar em até 20 anos de prisão. Um dos homens mais poderosos da Rússia, o magnata Prigozhin fez uma série de acusações contra os generais do país, afirmando que eles enganam Putin sobre a real situação no front de batalha. Segundo o jornal americano, baseada em informações sobre um possível golpe, a Rússia mandou veículos blindados para as ruas de Moscou e uma cidade do sul da Rússia, perto da fronteira com a Ucrânia, após Prigozhin ameaçar represálias aos militares alinhados com Putin.
Tensões crescentes e preparativos para confronto
O jornal diz ainda que não existem relatos de conflitos em ruas da capital ou de outras cidades russas. Vídeos que circulam amplamente em redes sociais indicam, porém, que veículos blindados militares e da guarda nacional ocupam vias de Moscou e em Rostov-on-Don, no sul da Rússia. Esse ponto fica próximo à linha de frente na Ucrânia. Ali, relata o NYT, caças de Prigozhin estão preparados para um possível ataque.
Impacto econômico e geopolítico da guerra na Ucrânia
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, iniciando a guerra contra o país vizinho. Seria uma ação “relâmpago” para ocupar o território ucraniano. A previsão era de que a operação fosse rápida, mas o conflito já se estende por dezesseis meses, deixando milhares de mortos. A guerra, que matou civis e militares, mexeu com a economia no mundo todo — e seus efeitos vão desde a crise de refugiados até a elevação dos índices de inflação e mudanças drásticas do comércio internacional de commodities e insumos.
Rublo despenca e temores no mercado internacional
O jornal de negócios russo RBK relata que o rublo caiu para 94,9 por dólar para clientes que desejam vender a moeda russa e comprar dólares americanos online no Tinkoff Bank. A moeda da Rússia estava sendo negociada em torno de 84 rublos por dólar.
Desdobramentos humanitários e econômicos do conflito
Segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica a crise de refugiados ucranianos como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, a ofensiva russa provocou a fuga de 18 milhões de pessoas da Ucrânia. Ainda conforme a ONU, mais de 7.000 civis morreram desde o começo da guerra iniciada pela Rússia. No entanto, a entidade ressalta a dificuldade de obter dados da região e aponta que o número de mortos é muito maior. Segundo informações do Exército Norueguês, há cerca de 300 mil mortos. Destes, 30.000 mil civis.
Além da crise humanitária e de refugiados, o maior conflito armado desde a Segundo Guerra ampliou problemas sociais e econômicos que já afetavam a Europa, EUA e países da América Latina em decorrência da pandemia do coronavírus — afetando a cadeia de oferta e os mercados globais, pressionando a inflação do mundo todo.
Preocupações com o impacto econômico global
“[A guerra] afetou praticamente todas as economias direta ou indiretamente por causa da questão energética e de grãos, que acabou por gerar um efeito em cascata de aumento de preços”, afirmou Idean Alves, chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, lembrando que a Rússia era a principal fornecedora de energia e gás natural da Europa.
Somente em relação ao gás, a Rússia era responsável por 41% do fornecimento para a União Europeia. O país exportava ainda a maior parte do carvão do bloco, com 47% das vendas sob a sua tutela. Além disso, o país comandado por Vladimir Putin também era considerado o principal fornecedor de petróleo da Europa, fornecendo 27% das importações para a região. Com as sanções impostas à Rússia, o país passou a vender a commodity em maior volume à China e à Índia.
Implicações de um golpe contra Putin
Um golpe contra Putin levaria a mais um abalo no mercado internacional, mexendo em preços de ativos, no comércio internacional e no preço do petróleo. A instabilidade política na Rússia geraria incertezas geopolíticas, afetando a estabilidade regional e global. A situação atual, com as tensões entre o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, e o presidente Vladimir Putin, aumenta as preocupações com um possível desdobramento violento na Rússia.
Enquanto isso, a comunidade internacional monitora atentamente os acontecimentos na Rússia e a escalada das tensões entre Prigozhin e Putin. O desfecho dessa disputa poderá ter consequências significativas tanto para a Rússia quanto para o resto do mundo.