Lula diz que, se eleito, irá rediscutir acordo entre Mercosul e União Europeia

Candidato do PT à presidência diz que acordo, fechado em 2019 após 20 anos de negociações, ‘não é válido’ e pode prejudicar o crescimento industrial do Brasil.

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O candidato do PT à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta segunda-feira (22) que, se eleito, irá rediscutir o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, fechado em 2019 após 20 anos de negociação.

Apesar de anunciado, o acordo, que prevê uma série de alterações em temas tarifários e não tarifários, ainda não está em vigor porque depende de uma série de medidas, entre elas a aprovação do texto pelo parlamento de todos os países envolvidos.

Entre as medidas previstas pelo acordo estão a retirada de tarifas sobre 91% dos produtos que a União Europeia exporta para o Mercosul num período de 10 anos e, em sentido contrário, a retirada de tarifas de 92% dos produtos que o Mercosul exporta para a União Europeia num período de 10 anos.

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Lula foi questionado sobre o tema durante entrevista, em São Paulo, a jornalistas de veículos estrangeiros. Ele apontou que o Brasil passou por um processo de desindustrialização nos últimos anos e que pretende, se eleito, adotar medidas para recuperar a importância da indústria na economia nacional.

Na visão do candidato do PT, o acordo firmado entre EU e Mercosul pode prejudicar esse processo de reindustrialização nacional.

“O acordo não é válido porque não foi sequer concretizado em plenitude. O Brasil não é obrigado a concordar com um acordo que não respeita aquilo que é o desejo do Brasil. O que nós queremos é sentar com a União Europeia e discutir, em função das necessidades da União Europeia e nossas, os direitos que cada um tem”, disse Lula.

“Eu acho que negociação tem que ser uma coisa em que todos ganham. Não pode ser uma coisa em que um ganha e o outro não ganha. O que nós queremos na discussão da Europa é não abrir mão do nosso interesse em nos reindustrializar”, completou ele.

Rejeição

 

O acordo entre Mercosul e União Europeia foi comemorado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Entretanto, nos meses seguintes ao anúncio, países europeus passaram a indicar que rejeitariam as bases do acordo devido à pressão popular provocada pela repercussão internacional do aumento das queimadas e do desmatamento na Amazônia.

Em outubro de 2020, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução que pede mudanças na agenda ambiental de países do Mercosul para que o acordo fosse ratificado. O objetivo, apontaram, era garantir respeito às politicas de desenvolvimento sustentável e de combate à crise climática.

O governo Bolsonaro rebateu as críticas afirmando que o Brasil preserva o meio ambiente e que as pressões europeias, em especial da França, se devem a outros interesses, entre eles cobiça em relação ao território amazônico.

Mais política externa

 

À noite, ao lado de ex-ministros, o petista participou do lançamento de um fotolivro sobre a política externa brasileira durante os governos Lula. A obra foi reunida pelo fotógrafo oficial da campanha e dos dois mandatos de Lula à frente da Presidência, Ricardo Stuckert.

Lula afirmou que o lançamento do livro é um reflexo do “empobrecimento de política externa que vive o nosso país”.

“É quase que uma questão cultural. Uma parte da elite econômica brasileira e da elite política adora ser subalterno, adora fazer o papel de inferior, adora dizer ‘Amém’ ou dizer ‘Sim, senhor’, quando com a mesma força você poderia dizer não”, afirmou.

Para Lula, o Itamaraty, as Forças Armadas e “todas as instituições de Estado” serão aquilo que o governo decidir.

“O Itamaraty tem muita gente conservadora. O Itamaraty também tem gente de direita – e não são poucos. Mas o Itamaraty não decide as políticas que serão colocadas em prática pela instituição. Quem define é o governo. É através das políticas do governo que o Itamaraty pode agir mais ou pode agir menos”, declarou.

“O Itamaraty será aquilo que o governo decidir que ele seja, como as Forças Armadas serão. Como todas as instituições de Estado serão aquilo que o governo quiser que seja”, acrescentou.

Segundo o ex-presidente, durante os seus governos, a política externa foi conduzida de forma a não permitir que o país “falasse grosso” com países pequenos e “falasse fino” com os Estados Unidos. “A gente falava exatamente as coisas que o Brasil significava na minha cabeça”, disse.

O ex-presidente relembrou a negociação com o governo da Bolívia, por meio do então presidente Evo Morales, para a venda de duas refinarias da Petrobras no país. De acordo com ele, a estatal brasileira do petróleo era “muito petulante”.

“Primeiro, o gás era dele. Segundo, a Petrobras era muito petulante. É que a gente aqui fica fazendo corpo mole, mas um diretor da Petrobras num ‘paisinho’ pequeno, se vacilar, o cara manda no presidente. Nós, então, resolvemos tratar o Evo com muito respeito”, afirmou.

“Ao Brasil, não interessa crescer se nossos vizinhos continuarem pobres. Temos que crescer juntos, e o Brasil tem que ser o indutor disso, o fomentador disso”, declarou.

Lula e os ex-ministros também fizeram uma homenagem ao ex-assessor especial de Lula e fundador do PT Marco Aurélio Garcia, morto em 2017. “O Marco Aurélio significa muito para mim”, disse, dirigindo-se ao filho de Marco Aurélio, Leon Lobo Garcia.

Em tom de brincadeira, o petista disse ter juntado “mais ministros” no evento do que em todo o governo. “Eu estou juntando mais ministros aqui do que quando eu era presidente. Acho que tem gente já pensando: ‘Eu vou lá porque daqui a pouco o Lula ganha e vai ter vaga de ministro’. Eu estou esperto”, afirmou.

Fonte: G1