Lula e Fernando Henrique se reuniram em São Paulo para discutir democracia e crise sanitária

Encontro foi promovido pelo ex-ministro do STF Nelson Jobim; os dois ex-presidentes não se encontravam desde 2017

A convite do ex-ministro Nelson Jobim, o ex-presidente Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniram para um almoço Foto: Ricardo Stucke
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SÃO PAULO – Os ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se reuniram em um almoço no último dia 12. O encontro vinha sendo articulado há cerca de um mês e foi promovido pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim em sua casa, em São Paulo, e divulgado nesta sexta-feira (21).

A conversa durou três horas e girou em torno de temas como a defesa da democracia e a tragédia da Covid, alvo de uma CPI no Senado e que já deixou quase 450 mil mortos no país, em meio a várias denúncias contra o presidente Jair Bolsonaro, que tentará a reeleição no ano que vem.

Hoje pela manhã, Bolsonaro afirmou que as eleições de 2022 já tem uma chapa formada, com um “ladrão candidato a presidente e um vagabundo como vice”. Bolsonaro não especificou a quem se referia, mas a declaração ocorre um dia após  Lula — a quem o presidente costuma chamar de “ladrão” — afirmar que “não hesitará” em ser candidato se tiver boa saúde e chances de ganhar. A fala também ocorreu cerca de 1h depois da divulgação do encontro entre Lula e FH.

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Nos últimos dias, os dois ex-presidentes trocaram gentilezas em declarações, depois de anos de ataques mútuos. Em entrevistas ao GLOBO, na última semana, e ao programa “Conversa com Bial” exibido nesta terça, na Rede Globo, o tucano disse que se tivesse que optar entre Lula e Bolsonaro votaria no petista.

Lula, por sua vez, respondeu que teria o mesmo tipo de atitude com o seu antecessor.

Em 2018, com o país em meio ao avanço da extrema direita e de intensa divisão diante das denúncias de corrupção em governos petistas, que levaram Lula à prisão, Fernando Henrique disse que anulou o voto no segundo turno entre Fernando Haddad (PT) e Bolsonaro.

Os dois não se encontravam desde que Fernando Henrique visitou a ex-primeira dama Marisa Letícia no hospital quando ela sofreu um AVC, em 2017. Marisa morreu em fevereiro daquele ano.

Reação tucana

O encontro ocorrido no último dia 12, em São Paulo, causou mal-estar no PSDB. O presidente do partido, Bruno Araújo, criticou a reunião e disse que é preciso evitar passar sinais trocados aos eleitores do partido. A avaliação de Araújo é de que o encontro não faz bem a um potencial candidato do PSDB em 2022. Outros tucanos, como o deputado Aécio Neves e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o senador Tasso Jereissati, defenderam o direito de FH a se reunir com quem quiser, mas reforçaram que o partido deve continuar a busca por um nome de centro para concorrer em 2022.

— Acho que a nossa principal missão hoje, talvez a mais importante, seja parar o clima de ódio que existe nesse país. Nós nunca vivemos um momento em que o país estava tão dividido e tão cheio de ódio. O diálogo, a aceitação da divergência, o entendimento de que o adversário político não é inimigo e que o diálogo deve ser permanente é fundamental. Entendo o gesto do ex-presidente Fernando Henrique nessa direção – disse Jereissati (PSDB-CE).

Em resposta a um descontentamento da cúpula do PSDB, Fernando Henrique se pronunciou nesta manhã por meio de sua conta oficial no Twitter e reafirmou apoio ao candidato do partido nas eleições presidenciais de 2022.

“Reafirmo, para evitar más interpretações: PSDB deve lançar candidato e o apoiarei; se não o levarmos ao segundo turno, neste caso não apoiarei o atual mandante, mas quem a ele se oponha, mesmo o Lula”, disse FH nas redes sociais. (Colaborou Julia Lindner)